Nos últimos anos, um jogo agressivo ? e pesado ? movimentou o mercado de luxo. De um lado, encontrava-se a empresária Eliana Tranchesi, a dona da Daslu. Do outro, Carlos Jereissati, o controlador do Iguatemi. Eliana avançava sobre o terreno de Jereissati ao criar um templo do consumo com as marcas mais respeitadas do mundo. O empresário, de olho em sua oponente, tentava minar a concorrência buscando novas marcas internacionais. A amigos, Eliana confidenciava a forte antipatia por ele.
 

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O dono do Iguatemi, calado, movia suas peças no tabuleiro. E passou a fazer suas jogadas mais agressivas, em 2005, depois que a Daslu sofreu com a Operação Narciso. Acusada de importação irregular e sonegação fiscal, a Daslu ficou enfraquecida. De olho nisso, em abril de 2007, Jereissati se associou ao empresário Walter Torre, dono da construtora WTorre e do terreno e do prédio onde a Daslu está pousada, e anunciou que ergueria um shopping bem ao lado da butique de Eliana.
 

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Tratava-se do primeiro cerco. Em resposta, em julho do mesmo ano, a empresária assinou um acordo com o grupo JHSF, dono do shopping Cidade Jardim e forte concorrente do Iguatemi, para levar a marca Daslu ao seu empreendimento. Em 2008, mais enfraquecida ainda, a butique de Eliana tentou outra jogada e assinou um acordo com o BRMalls, para que o gigante do setor de shopping operasse a Villa Daslu, a parte que reúne vários lojistas no espaço.  Não deu certo.

Na quarta-feira 10, o BRMalls anunciou sua saída. Eliana, afundada em dívidas que podem chegar a R$ 1 bilhão, ficou acuada. Jereissati, então, deu o xeque-mate.

Na noite da quinta-feira 11, um dia depois de o BRMalls abandonar a operação na Villa Daslu, a WTorre anunciou o Iguatemi como o novo gestor do empreendimento. Eliana, em viagem a Nova York, acompanhou todos os passos de longe, pelo telefone, e foi obrigada a aceitar os termos impostos pela WTorre. Ou ela cedia ou teria de abandonar o prédio da Vila Olímpia, onde a Daslu está instalada, cujos aluguéis mensais de R$ 2,5 milhões estão atrasados.
 

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Nas mãos do rival: a Villa Daslu, de Eliana Tranchesi, agora será administrada pelo Iguatemi, de Jereissati

 

Em comunicado oficial, a WTorre afirmava que havia contratado o Iguatemi para assumir a administração da Villa Daslu. A ideia é juntar as operações do futuro shopping JK, que será inaugurado em março de 2011, com a Villa Daslu e também com o complexo de três prédios comerciais.

?Com o Iguatemi, iniciaremos uma nova fase da Villa Daslu?, disse, em comunicado, Paulo Remy Gillet Neto, diretor-presidente da WTorre. No mesmo documento, Carlos Jereissati Filho, diretor-presidente do grupo Iguatemi, completou: ?Passamos a ser os administradores de todo o complexo e damos o primeiro passo para a criação de um projeto diferenciado, objetivando a maior criação de valor para o JK Iguatemi, para a Villa Daslu e para o restante do empreendimento.? Foi o golpe de misericórdia no maior templo do luxo brasileiro. A Daslu não emitiu uma única opinião.

A empresa de Eliana Tranchesi agora tentará, mais do que nunca, arrumar um sócio que invista no seu único ativo: a marca Daslu. Há cerca de um mês, o Inbrands, grupo com participações em empresas de moda comandado por Nelson Alvarenga, fundador da Ellus, e pelo fundo de investimentos Pactual Capital Partners (PCP), formado por ex-sócios do Banco Pactual, liderados por Gilberto Sayão, surgiu como um possível comprador.

Eliana corre contra o tempo. Ainda mais combalida diante das ofensivas de seus rivais, ela precisa definir o futuro de sua empresa antes que ela seja engolida novamente. Está em curso um novo jogo de xadrez.
 

Uma novela sem Fim

Depois da Votorantim, a Camargo Corrêa compra ações da cimenteira Cimpor. Quem será a próxima?

Maeli Prado

Novos capítulos numa novela que parece não ter fim. Na quarta-feira 10, poucos dias após garantir que não tinha interesse em vender sua participação de 22,17% na cimenteira Cimpor, o grupo português Teixeira Duarte se rendeu ao assédio da Camargo Corrêa e fechou um negócio de um bilhão de euros com a brasileira, vendendo todas as suas ações.

O martelo foi batido depois de 17 horas de negociações. No dia seguinte ao acerto, Vitor Hallack, presidente da Camargo, anunciou a compra de outros 6,5% que a espanhola Bipadosa detinha na Cimpor, por 300 milhões de euros. Com as transações, a Camargo, que aqui é alvo da Operação Castelo de Areia, passa a ser a maior acionista da Cimpor.

O interessante é que, há algumas semanas, o próprio mercado considerava a nova mandachuva da Cimpor carta fora do baralho na disputa. Isso porque a Votorantim Cimentos havia anunciado um acordo com a francesa Lafarge para levar 17,2% da cimenteira de Portugal.  A novela se arrasta desde 2009.

Em dezembro, a CSN fez uma oferta para adquirir 100% da cimenteira, sua segunda proposta rechaçada. Com o assédio da Camargo, a companhia de Benjamin Steinbruch recorreu ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica para tentar impedir o negócio. A resposta vai demorar. O mercado aguarda as cenas dos próximos capítulos.