09/05/2012 - 21:00
A Associação Portuguesa de Desportos – a Lusa, para os íntimos – ocupa lugar de honra no futebol de São Paulo. Fundada em 1920, já acolheu craques em sua história, como Djalma Santos, Julinho Botelho, Marinho Peres e Enéas. Isso sem falar em talentos como Dener, revelado pelo próprio clube e que morreu precocemente em um acidente de carro, em 1994. Embora nunca tenha alcançado o brilho dos rivais São Paulo, Palmeiras e Corinthians, o clube do Canindé está no rol dos grandes do esporte bretão na capital. Além disso, a Lusa tem baixíssima rejeição entre os torcedores de outros clubes. O presente, no entanto, tem sido motivo de amargor para a agremiação. Depois do bom desempenho no ano passado, a equipe foi rebaixada para a segunda divisão do Paulistinha em 2012. O quadro atual da Portuguesa me faz lembrar o Yahoo!. O portal já teve seus dias de glória, mas recebeu um nó tático de rivais como Google e Facebook e hoje caminha em direção à Série B do mercado mundial da internet.
A Lusa, que já teve os seus dias de glória, hoje amarga a segunda divisão.
O Yahoo! não tem torcida contra, mas perdeu a relevância.
Assim como a Lusa, que já foi até chamada de Barcelusa, em razão dos lampejos de futebol-arte exibidos em 2011, a companhia de internet vive hoje uma situação angustiante, que lança dúvidas sobre sua capacidade de se manter entre os líderes do meio digital. Antes de entrar em detalhes sobre o porquê da analogia, explico que a comparação se deve muito mais ao presente do que ao passado. Afinal, o Yahoo!, até o início da década de 2000, era uma estrela de primeira grandeza em seu campo, a internet, condição que, no futebol, a Lusa nunca alcançou. Hoje, no entanto, as semelhanças abundam. Do mesmo modo que a Portuguesa dentro das quatro linhas, o Yahoo! é uma espécie de “segundo time” no coração dos internautas. Ninguém torce contra, ainda que se desconfie de sua capacidade de virar e vencer o jogo.
O leitor dificilmente vai ouvir discursos inflamados contra ou a favor do Yahoo!, algo muito diferente do que acontece com o Google, Microsoft ou Apple, que despertam paixões e críticas ferozes. No campo dos negócios, a empresa tem dificuldade para furar a retranca adversária e, assim, perde uma disputa atrás da outra. A ação da companhia, por exemplo, chegou a valer US$ 108 no auge da euforia da internet, no período pré-estouro da bolha. Em dezembro de 2005, havia caído para US$ 39 e atualmente está na casa dos US$ 15. O valor de mercado hoje gira em torno de US$ 18,9 bilhões, bem abaixo dos US$ 45 bilhões que a Microsoft ofereceu para comprar o portal, em 2008, e dos US$ 100 bilhões alcançados no início da década passada. Na tentativa de reverter o jogo, a companhia trocou de técnico no começo da temporada 2012: demitiu a CEO Carol Bartz e contratou para o posto Scott Thompson, ex-presidente do PayPal.
Uma das primeiras medidas do novo comandante foi anunciar um plano de redução de custos que vai resultar na demissão de dois mil funcionários e o corte de 50 serviços. Com o aperto no cinto, Thompson elevou a receita do Yahoo! em 2% no primeiro trimestre. O lucro líquido saltou 28%, para US$ 286 milhões. É um tento, sem dúvida, mas que está mais para aquele golzinho chorado de bola parada do que fruto de um ataque envolvente. A razão para isso é simples: o Yahoo! perdeu relevância. Há muito tempo que não se vê nenhum produto ou serviço inovador vindo de lá; parece uma equipe que só joga com a camisa, como se diz no jargão dos boleiros. Enquanto isso, outras empresas, como Apple, Facebook, Google e Amazon, se colocam como times de chegada. São os reis da bola hoje em dia.