09/10/2002 - 7:00
O cenário difícil que o próximo presidente vai encontrar na economia terá um oásis inesperado. As empresas estatais, uma habitual fonte de surpresas ruins para os governantes, entrarão o próximo ano com as finanças mais limpas do que jamais estiveram em transições anteriores. Em vez de sugar dinheiro do Tesouro, como acontecia há dez anos, elas contribuirão, em conjunto, para engordar os cofres públicos. Um destaque se impõe entre elas: a Petrobras, com seus preços ajustados ao mercado internacional, seu lucro recorde de
R$ 10,3 bilhões no ano passado e com uma geração de caixa de fabulosos R$ 14,6 bilhões. Mesmo se comparada com os grupos privados, ela é hoje a maior e mais bem-sucedida empresa do Brasil. Ministério nenhum do governo terá à disposição tanto dinheiro para manejar livremente. Seu gigantismo ofusca, porém, outros resultados que já bastariam por si para que o panorama financeiro das estatais fosse o melhor jamais encontrado por um presidente recém-eleito. As empresas passaram da coluna dos problemas para a das soluções.
Furnas, outro gigante da infra-estrutura, também nunca ganhou tanto dinheiro quanto nos dois últimos anos. A alta do dólar, que corrigiu suas tarifas, deu uma ajuda importante. A empresa teve lucro recorde no ano passado, de R$ 830 milhões, e está com endividamento baixíssimo, de 10% do capital. Voltou até a investir em geração e transmissão de energia. Para os próximos dois anos, estão programados R$ 2,4 bilhões, inteiramente com recursos próprios. Está em condições de fazer mais para reduzir o problema da escassez de energia do que qualquer uma das empresas privadas que desembarcaram no mercado após a onda de privatizações. Junto com a Petrobras, a estatal brilha no topo da lista das 500 maiores empresas do Brasil, elaborada pela Fundação Getúlio Vargas. É a quarta colocada, e com rentabilidade superior à de seus vizinhos no ranking que vem do setor de telecomunicações.
Seu desempenho, registre-se, não pode ser tomado como regra das empresas elétricas estatais. Furnas, com seu tamanho, salvou quase sozinha o balanço de sua controladora, a holding Eletrobrás. Apenas a Eletrosul também mostra bons números. Já Chesf e Eletronorte seguem cronicamente deficitárias. Queimaram R$ 160 milhões no ano passado. Apesar disso, a holding ostenta um dado positivo: seu endividamento, de 16%, é baixo, segundo análise da consultoria Austin Asis. A Eletronuclear perdeu R$ 155 milhões e continua um elefante
branco. Tem R$ 7 bilhões em ativos, mas faturou apenas R$ 680 milhões. É mantida viva apenas como um experimento estratégico de interesse nacional.
Junto com Petrobras e Furnas, o Banco do Brasil completa o pelotão de elite das estatais brasileiras. Depois de passar por dois expurgos bilionários em suas contas, em 1996 e em 2001, o banco está em seu ápice financeiro histórico. Seus números ganharam uma transparência que nunca tiveram e sua máquina entrou em condições de competir com a de seus rivais privados. O banco continua financiando exportações e emprestando dinheiro para agricultores e pequenos empresários, mas agora usa controles de risco que inacreditavelmente não tinha. Como resultado, tem para mostrar uma inadimplência de menos de 2% até em sua carteira de crédito mais problemática, a agrícola.
Fora da elite, sobrou muito pouca coisa de relevante no mundo das estatais. No ranking das maiores, seis das dez primeiras são empresas privatizadas nos últimos dez anos pela União e uma pelo Estado de São Paulo (a Eletropaulo). Sua participação na economia minguou. Em 1992, elas tinham 36,6% de todo o faturamento das 500 maiores empresas do Brasil, se incluídas também as empresas estaduais e municipais. Hoje são 23,9%, segundo o economista Aloísio Campelo, da Fundação Getúlio Vargas. ?E isso apesar da Petrobras, que tem a receita indexada ao dólar e subiu como um foguete?, ressalta.
Nota da ANER | |
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