Barack Obama, presidente dos Estados Unidos, em junho deste ano: “A contaminação no Golfo do México é a pior catástrofe ambiental que os EUA já viram. Agora é a hora de buscar energias limpas.” Com a popularidade em queda diante da explosão da plataforma Deepwater Horizon, da British Petroleum (BP), que havia ocorrido em 20 de abril, o presidente americano tentava mostrar reação. 

 

E era mais do que necessário. Durante 86 dias ininterruptos, jorraram 4,9 milhões de barris de petróleo no Golfo do México – uma catástrofe que ceifou a vida de milhares de aves e animais marinhos e atingiu as praias e parques nacionais do país. 

 

O presidente americano, inclusive, decretou uma moratória, prevista para durar até novembro, proibindo a exploração do petróleo na região. Na semana passada, mudou de opinião. Sem mais nem menos, antecipou o fim da proibição e liberou a exploração dos poços de petróleo no Golfo do México. 

 

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Por incrível que pareça, ele tomou essa decisão pelo mesmo motivo que o fez proibir a exploração: a queda de sua popularidade. Por conta da interrupção, cerca de 23 mil postos de trabalho foram perdidos e o petróleo, como é descrito no próprio site do Departamento de Energia dos Estados Unidos, “é o sangue vital da economia da América”.  O meio ambiente, portanto, ficou em segundo plano. Isso revela que, apesar de todo o discurso da sustentabilidade propagado por todos ao redor do mundo, uma questão fala mais alto: a economia.

 

O petróleo é responsável por 40% de toda energia gerada nos EUA e movimenta os motores de 99% dos veículos usados no país. Atualmente, o mundo consome 82 milhões de barris por dia – 20 milhões vão diretamente para os americanos. 

 

Só que a produção local é bem menor do que é importado e isso tem um custo extremamente alto. O governo já gasta US$ 1 bilhão por dia comprando 12 milhões de barris de países como Canadá e Arábia Saudita, entre outros. 

 

Nesse cenário, não pode se dar ao luxo de interromper a produção no Golfo do México, de onde são extraídos 1,7 milhão de barris diariamente. “O modo de prevenir a falta de petróleo é assegurando que a produção doméstica será mantida”, informa o Departamento de Energia dos EUA. 

 

Mesmo que a catástrofe ainda se faça presente. Isso porque dos 4,9 milhões de barris despejados na costa americana, 2,4 milhões, não foram retirados do meioambiente. A decisão do governo Obama mostra a dependência americana do óleo negro. Quase tudo o que é produzido no país necessita do petróleo. 

 

Não se sabe, porém, até quando. “Usamos a substância 100 mil vezes mais rapidamente do que sua acumulação subterrânea”, diz a estudiosa americana Sonia Shah, autora do livro a História do petróleo. 

 

Todo ano, o mundo demanda cerca de 2% a mais de petróleo do que no ano anterior, ao passo que o fluxo de óleo dos campos petrolíferos conhecidos declina de 3% a 5%. Obama, certamente, está de olho nesses números. 

 

Isso é curioso. Nas eleições presidenciais de 2008, Obama surgiu como o salvador da pátria em um país afundado pela crise financeira. Era a renovação em pessoa pronta para bater o senador John McCain, o republicano com ideias retrógradas. Obama venceu a parada. Mas em um aspecto eles são quase irmãos gêmeos. Afinal, o slogan de McCain era “Drill, drill, drill” (Perfure, perfure, perfure).