O futuro quer que você use óculos, tendo miopia ou não. Para as pessoas que já usam óculos não seria nada demais. Mas espere… até pra elas seria! Com a aposta que nos próximos cinco anos estaremos enxergando para além do nosso mundo material de sempre, nos deparamos com um grande menu de óculos para Realidade Virtual e Realidade Aumentada, que tanto Mark Zuckerberg e Meta querem que usemos assim que entrarmos no Metaverso. Mas a pergunta é: com o que se tem hoje, dá para ficar imerso algumas horas num mundo que vai enganar nosso cérebro a ponto de não reconhecermos mais o que está fora das lentes, e com saúde?

“Hoje se você realmente usar um VR set, terá dor de cabeça depois de 5 minutos. Pois atualmente eles são muito pesados, todo o processamento está no headset”, disse à DINHEIRO Arun Bansal, presidente da Ericsson para Europa e América Latina. Segundo ele, os equipamentos têm de passar por uma evolução de leveza. Ou seja, os óculos têm de ser apenas finas lentes que te levam para um outro mundo, e o restante da armação sem nenhum componente eletrônico, chip etc, deixando a entrada e saída de informação para uma conexão como um 6G, que em alguns anos será a ponte de ultra-rapidez e baixíssima latência para a chamada Internet dos Sentidos, que vai tratar justamente das sensações que esse mundo pode trazer.

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Claro, existem níveis diferentes de tolerância para cada ser humano com óculos assim. E também existem guidelines que podem servir para todos. Imerso, o usuário perde a noção espacial depois de pouquíssimo tempo, daí a recomendação de se estar em um espaço totalmente livre (se for um videogame), sem móveis, crianças, animais, cabos por perto. Se você estiver em uma reunião em uma mesa, em home office, claro, é algo mais simples. Com as chamadas full-room experiences, como as fornecidas pela empresa de óculos HTC Vive, o mundo a sua volta, real, realmente desaparece – o cérebro não precisa de muito para ser “enganado”. Desorientação seguida de tontura não é incomum, principalmente em cenas que tenham voos, movimentos rápidos. Sentiu tontura, tire os óculos imediatamente – grande chance de o usuário cair e se machucar.

“Atualmente, o computador que gera as imagens para os óculos tem de ter uma placa de vídeo muito boa. Se não tiver, a imagem começa a ficar meio lenta e você, enjoado. E estou falando de você ficar assim, enjoado, mais de um dia. Você precisa ter usabilidade, mas precisa se preocupar com a saúde do usuário também”, afirma Vinícius Gusmão, CEO e cofundador da MedRoom, empresa brasileira especializada em desenvolver treinamentos para a área da saúde e ensino médico utilizando realidade virtual

Existem casos mais graves, como convulsões – pessoas com condições de epilepsia estão praticamente proibidas de sair desse nosso mundo. Mas mesmo quem nunca teve uma convulsão pode, pela primeira vez usando um equipamento de RV, tê-la. Segundo pesquisas, 1 em 4000 podem ter isso ou blackouts durante flashes de luzes e adjacências. Sim, quem tem tendência a isso talvez nunca possa estar em uma reunião com óculos RV, pelo menos não um recente, com a tecnologia que temos. Mais leves, menos imersivos, talvez.

Estamos realmente falando de uma experiência que não temos no mundo real. Existe uma condição batizada de cybersickness, mal-estar cibernético, no bom português. No mundo real seus sentidos atuam em sincronia e compensam “estranhezas”. Com óculos ou até mesmo um filme em 3D, seus olhos e ouvidos estão captando algo que seus outros sentidos não “concordam”. Essa discordância é séria. “Ah, você se acostuma!” Não pague para ver. Até mesmo usuários experientes relatam mal-estar.

Dor nos olhos também é uma recorrência. Fadiga ocular é comum acontecer quando se usa um VR set. Isso pode ser notado até quando se fica muito tempo em frente a uma tela de computador. O equipamento também cria uma complicação de ajuste de foco dos olhos. O que a Realidade Virtual pode causar a eles ao longo do tempo? Ainda não se sabe.

Alguns desenvolvedores de Realidade Virtual sustentam que atualmente uma sessão deve durar por volta de 20 minutos, dependendo do nível de ação que você estiver “assistindo” – se estiver num game de ação com tiros, explosões, muita concentração, será um caso diferente de estar em uma reunião, praticamente parado, falando ou ouvindo outros avatares. Alguns games mais simples podem ser jogados mais tempo, mas com paradas rápidas sem os óculos para o cérebro “se recuperar”. Fabricantes como a Oculus, pertencente a Meta, recomendam exatamente isso, e são até mais rigorosos, com paradas de 10 a 15 minutos entre cada sessão de 30 minutos. Se os criadores do negócio estão receosos dos efeitos, quem somos nós para discordar.

Abaixo, uma curiosa experiência: o jovem Jack McNee passou 36 horas com óculos de Realidade Virtual, executando várias tarefas. Ao final, disse que não sentia nada abaixo de seu pescoço, como se não tivesse corpo.