Depois de dez anos na empresa de telefonia Oi, cinco deles na presidência, o executivo Luiz Eduardo Falco começa a limpar as gavetas. Nesse período, Falco coordenou o início das operações em telefonia móvel e o processo de integração da Telemar, em 2008, à  Brasil Telecom. Apesar de ter contrato até o fim do ano, ele teve a sua saída antecipada em um semestre. Na quinta-feira 14, um comunicado oficial da Oi confirmou a decisão dos controladores da Oi – leia-se a AG Telecom, do grupo Andrade Gutierrez, e a La Fonte, do grupo Jereissati. 

O presidente do conselho de administração, Otávio Azevedo, adotou um estilo diplomático para falar sobre a troca de comando, alegando que o ciclo do executivo havia chegado ao fim e as mudanças nas organizações precisavam ser aceleradas. No ano passado, no entanto, a Oi perdeu mercado em seus três negócios principais: telefonia fixa, celular e banda larga. Em 2010, a companhia também investiu R$ 3,1 bilhões, 40% menos do que o ano anterior.

 

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Otávio Azevedo, presidente da Andrade Gutierrez e do conselho da Oi,

afirmou que o executivo cumpriu o seu ciclo

 

Esse desempenho não agradou aos dois acionistas principais. A entrada da Portugal Telecom no bloco de controle da empresa de telefonia – concretizada no final de março – foi a senha de que era preciso buscar um novo executivo, capaz de realizar o plano de investimento de R$ 6 bilhões, previsto para 2011, e retomar a trajetória de crescimento da companhia. Falco ganhou projeção com a bem-sucedida entrada da Oi em telefonia móvel, que ele liderou em 2003. 

 

Mas foi perdendo o brilho com o processo de integração das operações da Telemar com a Brasil Telecom, que deu origem a uma supertele nacional, sob a benção do BNDES, que fez aporte de dinheiro para a fusão, e do governo federal, que mudou a legislação de telecomunicações para permiti-la.

 

O processo de integração levou mais tempo que o esperado e consumiu mais recursos que o projetado. Com isso, criou uma amarra para os investimentos da empresa: um alto endividamento que atingiu R$ 22 bilhões ao fim de 2009. Daí resultou um período de estagnação, que se refletiu no balanço de 2010. O lucro líquido caiu de R$ 5,1 bilhões, em 2009, para R$ 1,75 bilhão, no ano passado. 

 

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Um longo adeus: Luiz Eduardo Falco deixa a presidência, após dois sofridos anos impactados por um alto endividamento

 

A receita líquida foi também R$ 5,5 bilhões menor, fechando em R$ 29,5 bilhões. Com isso, a Oi  foi ultrapassada pela Telefônica/Vivo, que se transformou no maior grupo de telecomunicações do Brasil. A entrada da Portugal Telecom, que ficou com uma participação direta e indireta de 25,6% na Oi, criou o momento certo para a guinada. 

 

A empresa vem indicando, há dois meses, que pretende entrar em um novo estágio em 2011. Os esforços se voltaram para a recuperação do terreno perdido e para os investimentos. O primeiro sinal de uma correção de rota aparece na telefonia móvel, que sinaliza uma retomada.Depois de ser batida durante dois anos pela TIM, Vivo e Claro, a Oi voltou a liderar a captação de clientes, em fevereiro, quando atraiu 35% dos novos assinantes de telefonia celular no País. “Os resultados do primeiro trimestre mostrarão se a estratégia começou a trazer benefícios”, diz Luciana Leocádio, analista da Ativa Corretora.

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Uma questão que Falco deixa para o próximo presidente da Oi é a reorganização societária. As suas tentativas de simplificar, nos últimos anos, a estrutura de ações da operadora acabou barrada pelos acionistas minoritários. “Acho que a empresa voltará a tentar uma solução”, diz Luciana. “Faz sentido, já que ela possui diversas empresas com ações em bolsa.” São seis classes de ações que os controladores pretendem reduzir para apenas duas. A Oi é composta por um emaranhado de empresas, como Tele Norte Leste, Telemar Norte Leste e Telemar Participações. A complexidade é vista como um fator de depreciação de seu valor de mercado.

 

O sucessor de Falco assumirá a companhia num momento em que seus rivais passam por um processo similar ao que a Oi viveu. A Telefônica, que comprou a Vivo por E 7,5 bilhões em 2010, está integrando as operações. A Claro e a Embratel, que pertencem à América Móvil, do mexicano Carlos Slim, também estuda uma fusão operacional. “A vantagem da Oi é já ter passado por esse momento, que vai acontecer só agora para as competidoras”, afirma Luis Minoru Shibata, diretor de consultoria da PromonLogicalis. “Por isso, ela precisa agir logo e aproveitar o investimento que veio da Portugal Telecom.”