28/11/2022 - 10:42
O crescente descontentamento pelas medidas do governo chinês contra o coronavírus – a estratégia “covid zero” há quase três anos em vigor – culminou em uma onda de protestos sem precedentes nos últimos dias.
Confira abaixo as principais manifestações relacionadas com a covid-19 desde o início do ano na China.
– As vozes de Xangai –
Em abril, um vídeo de seis minutos editado com imagens de moradores de Xangai, desesperados, viralizou nas redes sociais chinesas, até ser censurado.
A população se queixava do quanto estava sendo afetada pelo confinamento decretado em março e abril.
O vídeo foi publicado em diversos formatos para tentar evitar a censura. Foi a maior onda de protestos on-line desde fevereiro de 2020, quando morreu o médico de Wuhan Li Wenliang, que deu a voz de alerta sobre o coronavírus.
– Manifestações estudantis –
Em maio, centenas de estudantes de um campus da universidade de elite de Pequim protestaram contra as medidas de confinamento, que concediam mais liberdade de movimento aos funcionários da instituição do que aos alunos.
Uma manifestação incomum que foi dissolvida quando as autoridades aceitaram flexibilizar algumas restrições.
Os campi universitários de toda China foram isolados durante quase toda pandemia.
– Contra os bancos de Henan –
De maio a julho, centenas de titulares de contas bancárias radicados na província central de Henan protestaram na capital regional, Zhengzhou, porque os depósitos feitos em vários bancos rurais foram congelados.
Alguns alegaram que o código em seu passaporte de saúde ficou inexplicavelmente vermelho após sua chegada a Zhengzhou, impedindo-os de viajar, e acusaram as autoridades de manipular o sistema.
– Protestos no Tibete-
Em outubro, na capital tibetana, Lhasa, centenas de pessoas protestaram contra o confinamento, que durou quase três meses.
Os manifestantes, em sua maioria trabalhadores migrantes da etnia han, foram às ruas para exigir permissão para retornar às suas cidades natais.
As manifestações foram geolocalizadas em uma área próxima a Potala, tradicional residência de Dalai Lama, chefe espiritual do Tibete, no exílio.
– Em uma ponte de Pequim –
Naquele mesmo mês, pouco antes do início do Congresso do Partido Comunista da China, um manifestante pendurou duas faixas em uma ponte em Pequim.
“Sem testes de covid, quero ganhar a vida. Sem revolução cultural, quero reformas. Sem confinamento, quero liberdade”, dizia uma delas. A outra exortava os cidadãos a atacar e derrubar o “ditador traidor Xi Jinping”.
– Distúrbios em Guangzhou –
Em novembro, manifestantes e policiais entraram em confronto na metrópole de Guangzhou, no sul, depois que o confinamento foi prolongado por um aumento nas infecções.
Em vídeos publicados nas redes sociais e verificados pela AFP, centenas de pessoas aparecem nas ruas. Algumas aparecem arrancando os cordões de isolamento espalhados para impedir que os habitantes confinados saíssem de casa.
“Chega de testes!”, gritavam os manifestantes, alguns dos quais atiravam objetos contra a polícia.
– Distúrbios em Foxconn –
A maior fábrica mundial de iPhones, localizada em Zhengzhou (centro), confinada desde outubro, também foi palco de grandes manifestações.
Centenas de funcionários da fábrica, pertencente à gigante taiwanesa Foxconn, protestaram para exigir melhores salários e condições de trabalho.
Confrontos violentos entre policiais e manifestantes foram relatados. A Foxconn ofereceu um pagamento extra a seus trabalhadores recém-contratados, equivalente a US$ 1.400, para rescindir o contrato e poderem ir embora, a fim de erradicar a agitação social.
– Revolta em Urumqi –
Centenas de pessoas se manifestaram em Urumqi, capital de Xinjiang, na noite da última sexta-feira (25) para exigir o fim das restrições há três meses em vigor na região.
Em algumas imagens parcialmente verificadas pela AFP, centenas de pessoas são vistas reunidas em frente à sede das autoridades locais, gritando: “Levante as medidas de confinamento!”.
As manifestações foram organizadas pela morte de dez pessoas em um incêndio na quinta-feira (24). Muitos internautas disseram que os esforços de socorro foram prejudicados pelas medidas de confinamento, que impediram as pessoas de deixarem suas casas a tempo e atrasaram o acesso das equipes de resgate à área afetada.
Essas manifestações levaram a uma onda de protestos e vigílias em todo país, em cidades como Xangai e Pequim, assim como em campi universitários.