10/07/2015 - 9:15
O dia de Alexandre Spada não se diferencia muito do da maioria dos profissionais do mercado. Ele chega antes das oito da manhã em seu escritório no terceiro andar do Banco Itaú BBA, localizado em um prédio na avenida Faria Lima, zona Sul de São Paulo. Ao chegar, o engenheiro de 32 anos, nascido em Bebedouro, no interior de São Paulo, já leu os principais jornais e conferiu as notícias pela internet. A manhã é passada em reuniões e teleconferências com investidores. O almoço quase sempre é com clientes, como gestores de recursos e executivos de empresas, e a jornada não raro se prolonga por mais de 12 horas.
“Analiso continuamente as empresas e mudanças no cenário econômico que possam afetar seus resultados”, diz ele. Spada tem a seu cargo analisar oito empresas do setor financeiro. Nomes como Cielo, Smiles, Multiplus BM&FBovespa e a Bolsa do México. O bom desempenho desses papéis no ano adverso de 2014 e a precisão de suas recomendações de compra e venda renderam a ele o prêmio de melhor analista do Brasil, de acordo com a empresa de informações financeiras Thomson Reuters. Há duas décadas, a companhia britânica escolhe os melhores analistas que recomendam ações para investidores, o chamado “sell side”.
Em 2014, pela primeira vez, a pesquisa – obtida por DINHEIRO com exclusividade – incluiu profissionais da América Latina. Foram consideradas duas categorias, a melhor escolha de ações, vencida por Spada, e a melhor antecipação de resultados, prêmio que coube a Murilo Freiberger, analista do Bank of America Merrill Lynch em São Paulo. Curitibano, 28 anos, formado em administração de empresas pela Universidade de São Paulo, Freiberger não tem uma rotina muito diferente da de Spada. Os dias são parecidos, até mesmo no endereço: as duas instituições ocupam prédios vizinhos.
Segundo o economista britânico Raj Shah, responsável pela pesquisa, Spada e Freiberger foram premiados porque conseguiram, consistentemente, e usando apenas informações públicas, obter resultados acima da média do mercado. Um investidor que tivesse uma carteira com as ações analisadas por Spada e que seguisse religiosamente suas recomendações de compra e de venda teria, dependendo do prazo, um ganho 8% a 15% superior ao da média do mercado. “Em um ambiente de abundância de informações, é preciso ter uma análise diferenciada para obter esse resultado”, diz Shah.
O investidor individual que quiser reproduzir o trabalho deles terá de se esforçar muito. Além da busca obsessiva por informação – é comum a troca de mensagens pelo celular comentando notícias de empresas em pleno domingo à noite – analistas se esmeram em desenvolver modelos de análise. “Em uma planilha de cálculo, inserimos dados das empresas e variáveis econômicas e procuramos relações entre eles”, diz Freiberger. Ele acompanha empresas que exploram concessões rodoviárias, portos e aeroportos, além dos setores de veículos e autopeças no Brasil e na América Latina.
Para ele, qualquer mudança de humor do mercado – bancos menos dispostos a financiar veículos, por exemplo – pode afetar resultados, expectativas e os preços das ações. Spada desenvolveu seu modelo próprio de análise de empresas do setor financeiro ao longo dos anos. É um modelo próprio, atualizado continuamente. Graças a ele, o analista pode prever, corretamente, a alta das ações da empresa de fidelidade Smiles. Ao analisar os números ainda em 2013, Spada percebeu que a companhia tinha boas possibilidades de crescimento e, graças a uma peculiaridade na forma de contabilizar a receita com pontos, teria um resultado financeiro muito bom a partir de 2016.
“O mercado ainda não havia percebido isso. Então, eu fiz as contas, recomendei a compra da ação e comecei a divulgar esse relatório para os investidores”, diz ele. Ao iniciar a cobertura, em junho de 2013, a ação valia R$ 24,50 e Spada previa uma alta potencial de 47%, para R$ 36,00. No entanto, esse número foi revisado várias vezes, sempre para cima. “Desde que começamos a acompanhar o papel, as cotações ajustadas pelos dividendos subiram 179%”, diz ele. E ainda há espaço para novas altas. Na quinta-feira 2, Smiles ON fechou cotada a R$ 52,66, e a alta potencial é de mais 16%, para R$ 61,00 por ação. Mas espere: novas revisões podem vir a qualquer momento.