26/09/2014 - 20:00
A cada lance, a expectativa da vitória se mistura ao medo de que um competidor dê uma oferta melhor. Assim é a dinâmica de um leilão, no qual são vendidos itens que vão desde vinhos, câmaras frigoríficas até xícaras e obras de arte. Nessas disputas, participam pessoas que buscam pechinchas e investidores ansiosos por resultados financeiros no curto prazo. É o caso do funcionário público paulista Antônio Carlos Barreto dos Santos, que há dez anos utiliza a internet para dar seus lances. Santos já investiu R$ 100 mil em suas compras e conseguiu dobrar esse montante.
“Participo semanalmente de leilões de diversos itens, como cadeiras e capacetes, mas o que mais gosto é de negociar automóveis”, afirma. Como os investidores da bolsa que compram ações na baixa para revendê-las na alta, a estratégia de quem participa de leilões é conseguir arrematar itens por preços abaixo do mercado e repassá-los em seguida por um valor mais elevado. A rentabilidade do negócio depende não apenas da lábia de quem está vendendo, mas também da categoria e da qualidade dos bens oferecidos. No caso da revenda de móveis, o retorno esperado é de 50% sobre o valor pago inicialmente.
É o mesmo percentual obtido em equipamentos para restaurantes, como fornos. Já os carros podem dar um retorno de até 15%, se forem repassados a revendedores, ou até o dobro, caso o interessado seja um comprador final. “Claro que esses percentuais vão depender muito do cuidado que o investidor terá em relação aos produtos e às categorias que ele adquiriu”, diz Santos. O apetite de pessoas como Santos por um retorno rápido vem ajudando o mercado de leilões digitais a crescer. Atualmente, a internet já responde por 70% dos negócios.
“O número de leilões, no nosso site, deu um salto este ano, já que a economia não anda bem e muitas empresas estão fechando as portas”, diz o engenheiro Henri Zylberstajn, que fundou a Sold, site de leilões virtuais, de São Paulo, com seu irmão Alexandre Zylberstajn. Atualmente, a empresa possui clientes como Banco do Brasil, Philips, BRF, TAM, Fast Shop, Gafisa e Cyrela. “Em 2013, movimentamos R$ 55 milhões e a meta é fechar 2014 com um volume de R$ 100 milhões”, diz. Segundo ele, o investidor interessado em aproveitar as pechinchas na internet precisa conhecer a procedência das mercadorias e a idoneidade do leiloeiro.
Além disso, não pode dispensar as tradicionais visitas para conhecer os lotes e estar sempre atento ao valor de mercado dos itens que serão arrematados. A diferença entre os lances digitais e presenciais é a comodidade oferecida pelo mundo virtual. Além disso, os pregões presenciais, em geral, são fechados ou restritos a um grupo pequeno. “Nosso mercado teve uma importante mudança que permitiu mais transparência, comodidade para o comprador e velocidade nas transações”, afirma Mauro Zukerman, da Zukerman Leilões, que está no mercado há 30 anos.
O empresário realiza 200 leilões por mês e vende mais de dois mil imóveis por ano. “Nossa carteira de clientes dobrou na última década, com a chegada dos investidores virtuais”, diz. “Hoje temos 600 mil usuários.” Além do impulso da comodidade e rentabilidade, esse crescimento do interesse dos investidores vem na esteira de mudanças regulatórias, realizadas nos últimos cinco anos. Os Tribunais de São Paulo e Mato Grosso do Sul liberaram leilões judiciais pela internet em 2009. “Ainda temos todos os outros Estados para começarem a realizar seus leilões na internet, ou seja, será um mercado importante a ser desenvolvido”, afirma o leiloeiro Pedro Barreto, sócio da Superbid, que realiza 4.200 leilões por ano.
De acordo com ele, além dos leilões judiciais, outro segmento que tem atraído o interesse dos clientes é o agrícola. “Estamos realizando um trabalho junto aos produtores para ajudá-los na circulação de mercadorias”, diz Barreto. Com isso, a expectativa é que, neste ano, o número de leilões da empresa cresça 30%. No entanto, como acontece com toda operação na internet, há riscos nos leilões virtuais. O principal deles é o de fraude. Leandro Bissoli, advogado paulista especializado em direito digital, orienta os investidores a fugirem de leilões organizados por empresas cuja idoneidade não é comprovada.
“Existem organizadores de leilões virtuais que desaparecem depois do evento”, afirma Bissoli. Por isso, sua recomendação é selecionar locais virtuais de confiança e ler todas as regras do site antes de dar um lance. “É necessário ter os mesmos cuidados das compras online”, diz. Para quem se sentir lesado ou tiver problemas, a alternativa é procurar o Procon, que chega a monitorar os portais e costuma divulgar listas dos leilões virtuais de origem duvidosa.