24/02/2005 - 7:00
Estão exaltados os ânimos em torno do maior projeto de inclusão digital do País ? a venda de um milhão de computadores subsidiados pelo governo federal para as classes populares. Batizada de PC Conectado pelos ideólogos da estratégia de massificação da tecnologia no País que trabalham no Palácio do Planalto, a iniciativa representa um negócio que pode gerar receita de R$ 1 bilhão no primeiro ano. Os golpes entre os adversários ficam mais fortes à medida que se aproxima o mês de março, data em que o governo deve anunciar o valor do subsídio que irá oferecer aos fabricantes por cada computador comercializado e explicar como será a linha de crédito para o financiamento aos mais pobres. A Cobra Tecnologia, subsidiária do Banco do Brasil, quer conquistar a maior parte do bolo e assumir a dianteira do mercado. Para tanto, a empresa, que nasceu na época da reserva de mercado, montou um consórcio junto ao BB e aos Correios para viabilizar o projeto. ?Vamos ter 3 mil pontos-de-venda em todo o País?, afirmou à DINHEIRO Leandro Vergara, presidente da Cobra. A idéia do governo é colocar em cada equipamento um sistema operacional baseado no Linux e, assim, transformar o Brasil no caso de maior repercussão mundial na disputa entre o Windows da Microsoft e o chamado software livre.
Após negociar com fornecedores locais e internacionais, a Cobra, que não tem linha de montagem, conseguiu definir uma máquina com preço final de R$ 1.190 ? se houver R$ 250 de subsídio, como promete a Casa Civil. O valor do PC Cobra poderá ser dividido de 24 a 36 meses. ?Existe uma decisão política dentro do governo de levar adiante o projeto?, diz Vergara. ?E nós vamos ajudar naquilo porque a dependência em relação a outros softwares pagos não é boa para o País.? A disposição da Cobra é criticada pelo resto do mercado, principalmente os fabricantes de computadores. As outras empresas interessadas em vender PCs ao governo acusam a Cobra de acesso privilegiado às informações do projeto. ?Eles jamais poderiam participar dessa iniciativa. Há uma barreira ética que não deveria ser ultrapassada?, diz o executivo de uma empresa que produz de computadores. Do outro lado do balcão, e com apoio da Microsoft, há consórcios sendo montados para enfrentar a Cobra. A empresa de Bill Gates pretende facilitar o licenciamento do Windows para as máquinas do projeto PC Conectado. A companhia estuda até a possibilidade de repetir no Brasil uma ação promovida na Índia, onde uma versão do Windows de US$ 10 viabilizou um programa semelhante em parceria com a fabricante de chips AMD. Um dos consórcios privados tem à frente a Positivo Informática, maior fabricante de PCs do País, com 4,3% das vendas registradas nos últimos três meses do ano passado. O percentual é baixo porque 75% das vendas são feitas pelo mercado pirata. ?A venda de PC barato só terá sucesso através das redes de varejo. Fora dessa estrutura é muito complicado?, afirma Hélio Rotemberg, diretor da Positivo. Ele passou as últimas semanas nos Estados Unidos acertando detalhes com fornecedores para montar um computador tão barato quanto o da Cobra. Seu equipamento chegou ao preço de R$ 1.399 com Windows embutido. Se receber o subsídio público, o valor cairá para R$ 1.149. ?Não adianta colocar Linux porque, depois de comprarem, as pessoas irão instalar um Windows pirata?, diz Rotenberg. O diretor da Positivo pretende esperar uma decisão do governo federal até o final de março. Caso a burocracia congele a proposta, ele entrará sozinho nos pontos-de-venda com a ajuda de sua rede de contatos nas Casas Bahia e no Ponto Frio. Esses parceiros já demonstraram interesse em aderir ao projeto da Positivo. Dessa forma o computador deixará de ser mero projeto acalentado durante anos e sucessivos governos, e, finalmente, entrará na casa dos consumidores de menor poder aquisitivo.
R$ 1.190 é o valor do computador que a Cobra pretende vender em todo o País