Fundada em 1919 como fabricante de microscópios, a japonesa Olympus expandiu, ao longo dos anos,  suas atividades para fotografia e equipamentos médicos, tornando-se a maior e mais respeitada produtora mundial de aparelhos para endoscopia. Ironicamente, a empresa falhou grotescamente ao analisar as próprias entranhas. Na terça-feira 8, o presidente Shuichi Takayama, que havia assumido o cargo no fim de outubro (veja quadro), desculpou-se diante de mais de 200 jornalistas. “Forneci informações incorretas aos senhores”, disse ele, contrito. O erro não é trivial: Takayama admitiu perdas de US$ 687 milhões, mas a fraude pode superar US$ 1,5 bilhão. 

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Shuichi Takayama, presidente da Olympus, pede desculpas: ”Forneci informações erradas aos senhores”

O imbróglio começou em meados de outubro, quando o Conselho de Administração da Olympus demitiu o antecessor de Takayama, o britânico Michael Woodford, que estava no cargo havia sete meses. Sem papas na língua e de olho na melhoria da rentabilidade, ele havia incomodado a cúpula ao questionar pagamentos de honorários muito elevados em aquisições e investimentos nas ilhas Cayman. A Olympus aplicava milhões em fundos que, poucos meses depois, eram fechados. “Era um esquema para encobrir perdas que pode ter começado nos anos 1990”, disse Woodford em entrevistas após sua saída. Nos dias que se seguiram, investidores e autoridades pressionaram a Olympus para abrir suas contas. Como resultado, três executivos pediram demissão. Na terça-feira, a empresa admitiu a malfeitoria. 

Suas ações caíram 29% no dia e 20% no pregão seguinte.  As autoridades em Tóquio alertaram que os executivos podem ser condenados a até dez anos de prisão, algo raro no Japão corporativo. A Olympus pode não sobreviver a essa crise e seus desdobramentos são muito graves. Na quarta-feira 9, os investidores especulavam que a corretora e o banco de investimentos Nomura podem estar envolvidos na fraude, algo que a acusada negou formalmente. Além das ramificações pelo mercado, a descoberta da fraude na Olympus fornece uma radiografia nítida dos problemas de governança enfrentados pelas empresas japonesas – imagem que assusta qualquer investidor.

 

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