O trabalho da Omnisys é questão de segurança nacional, literalmente. Isso porque os maiores clientes da empresa são as Forças Armadas e sua principal atuação é com radares de vigilância aérea, tendo 80% desse mercado no Brasil, com 130 unidades em operação. A empresa é de origem brasileira, mas integra o grupo Thales, multinacional de tecnologia francesa que teve receita de 7,6 bilhões de euros em 2022. Com um novo presidente, Rodrigo Modugno, que assumiu o comando após aposentadoria de seu fundador, Luiz Henriques, a Omnisys planeja crescer 10% ao ano nos próximos cinco anos, com uma estratégia que prevê investimentos na internacionalização e em novas áreas de atuação, como segurança cibernética e equipamentos relacionados à aviação. “Um dos nossos objetivos é consolidar a Omnisys no mercado em que ela já tem grande presença e, a partir dessa nova base, expandir”, disse Modugno.

Os últimos anos foram de bons resultados. Desde 2017 a empresa triplicou de tamanho, alcançando um faturamento de aproximadamente R$ 200 milhões, mesmo em um cenário externo desfavorável, com poucos recursos para a área de defesa no Brasil. De acordo com o professor da Unicamp Marcos Barbieri, especialista em indústria aeroespacial e defesa, desde 2014 “o investimento no setor estava estagnado e não em patamar alto, mas num patamar médio”. Logo, a justificativa para o desempenho da Omnisys pode estar em dois fatores. O primeiro é o histórico da Thales. O professor lembra que o grupo possui atuação na área de defesa brasileira desde o final dos anos 1960, quando os primeiros radares foram adquiridos para implementar o sistema de monitoramento e controle de tráfego aéreo.

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“Um dos nossos objetivos é consolidar a Omnisys no mercado em que ela já tem grande presença e, a partir dessa nova base, expandir” Rodrigo Modugno Presidente da Omnisys.

O outro fator é o desenvolvimento de novas tecnologias e a diversificação de suas aplicações. A Omnisys, ao longo desses últimos cinco anos, fez novos acordos com a Marinha, que inclui sistemas para novas fragatas, radar para míssil e sistema de guerra eletrônica, além de ampliar a presença de radares de vigilância em áreas de fronteira, com um modelo desenvolvido em 2017. Esse produto, além de melhorar a presença da empresa no Brasil, também possibilitou uma atuação externa, com exportações para Bulgária, China e Colômbia. Isso a posicionou em um mercado de grande potencial. Em 2021, segundo levantamento do Instituto Estocolmo para a Paz Mundial (Sipri), o gasto militar global foi de US$ 2 trilhões — num mercado com poucos concorrentes.

De acordo com Modugno, “são pouquíssimos os países que fazem radares que atendam todos os requisitos operacionais estabelecidos internacionalmente”, disse. “E quando a gente fala da eletrônica de mísseis, talvez tenha meia dúzia de países que desenvolvem esse tipo de solução.” A internacionalização também passa pela manutenção dos equipamentos. Só na América Latina, são 200 radares, entre os de produção própria e os fabricados pela Thales, que recebem o serviço.

CONTROLE Com 130 radares de monitoramento e vigilância instalados pelo Brasil, Omnisys é a principal empresa do setor, com 80% do mercado. (Crédito:Divulgação)

AVIAÇÃO CIVIL Além das atividades militares, a Omnisys se volta para a aviação civil. Uma das apostas são os radares para monitoramento de drones, com foco na segurança de aeroportos. Segundo Modugno, esse é um problema que ficou adormecido pela pandemia, mas com a retomada do fluxo aéreo volta a ganhar destaque. E as soluções oferecidas atualmente não são suficientes. Outra atuação é a ampliação dos serviços relacionados à eletrônica de bordo e sistema de entretenimento. Recentemente a empresa expandiu sua fábrica em São Bernardo do Campo (SP) com investimentos de R$ 15 milhões, o que permitiu aumentar a capacidade de produção, e nos serviços de entretenimento de bordo. Em 2021, ela já havia inaugurado o Centro de Serviços Aviônicos. Ainda pequeno em participação de receitas, a expectativa é que a partir deste ano o projeto se desenvolva de forma mais ostensiva e ajude a empresa a conquistar seu plano de dobrar sua capacidade produtiva nos próximos cinco anos.