Edson Rossi

Existe uma máxima no mundo da tecnologia que afirma que prever o que vai acontecer daqui 25 anos ou 50 anos é fácil, difícil é prever o que vai acontecer no ano que vem. Fato. E se descobrir o quando é tarefa mais árdua, talvez mirar para o onde facilite as coisas. Um recém-divulgado relatório da gigante de consultoria Deloitte foca na Ásia-Pacífico e traz insights para todos. Em especial nós, brasileiros. Intitulado Digital Smart: Accelerating Digital Government for Citizens in the Asia-Pacific, o estudo é decisivo para se pensar novas fronteiras de políticas públicas envolvendo inovação e tecnologia. Binômio, aliás, que deveria ser central na agenda dos dois principais candidatos à Presidência do Brasil, Jair Bolsonaro e Luiz Inácio Lula da Silva. O programa de governo de JB não está pronto. A previsão é que seja concluído até sexta-feira (22). O de Lula-Alckmin tem 34 páginas e traz 25 vezes a palavra ‘tecnologia’, outras 12 vezes a palavra ‘inovação’, e coloca o tema como estratégico. Mas sem detalhar.

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No estudo da Deloitte há várias pistas. Valeria que o comando das duas candidaturas olhasse para ele. O primeiro ponto do texto diz que haverá mais 900 milhões de usuários de internet até 2025 e governos de todo o planeta gastarão mais US$ 151 bilhões em TI até lá. Especificamente sobre Ásia-Pacífico, é preciso destacar três das cinco maiores economias do mundo no ano que vem (China, Japão e Índia) serão da região – e seis das 15 maiores quando incluímos Coreia do Sul, Austrália e Indonésia, que também estão no escopo do relatório da Deloitte. A pesquisa mostra que 46% dos cidadãos esperam acessar digitalmente mais serviços públicos e 73% afirmam que desde a pandemia os serviços governamentais deveriam se tornar mais digitais. E aqui os problemas para os governantes aumentam. De cada três pessoas, duas já têm as mesmas expectativas em relação a soluções tecnológicas do serviço público no mesmo nível de qualidade do que já recebem da iniciativa privada. E três em cada quatro acreditam que os governos precisam investir mais em tecnologia para estarem preparados para o futuro digital.

O relatório é didático e traz seis eixos para que os governos não fiquem para trás nesse campo. Basta que ajam como companhias privadas e traçam objetivos estratégicos.

Eixo 1. Incorporar uma mentalidade cidadão-cliente:

Deixe de projetar serviços baseados em exigências burocráticas para que o cidadão seja o centro da experiência.

Eixo 2. Plano de inclusão digital para todos:

Mire e fortaleça o acesso de serviços para cidadãos de todos os perfis.

Eixo 3. Impulsionar a integração entre as mais diversas áreas governamentais:

Para que o Estado alcance (e entregue) experiência de cliente one-stop shop perfeita para os cidadãos.

Eixo 4. Testar iniciativas de forma interativa:

Para identificar e abordar riscos antecipadamente.

Eixo 5. Desenvolver capacidade interna:

Garanta que as habilidades certas estarão disponíveis na força de trabalho do setor público para atender a demanda de serviços digitais.

Eixo 6. Criar e implementar os fundamentos:

Será preciso pensar a capacitação, o hardware, a solução, a cultura… Para dar facilidade de acesso e uso de serviços governamentais digitais para os cidadãos, utilizando pro exemplo estratégias de nuvem para permitir que as equipes tenham agilidade, escalabilidade e rapidez na prestação de serviços aos cidadãos.

Trata-se literalmente de um novo mundo. Admirável. Com funcionários públicos capazes de pensar e lidar com inteligência artificial, internet das coisas (IoT), nuvem… O documento da Deloitte, de 52 páginas, é uma bela degustação desse caminho. E toca num ponto decisivo. Sabe aquele mantra de que toda empresa vai ser uma empresa de tecnologia? Acontecerá o mesmo com os países, os estados, as cidades. Todos eles serão empresas de tecnologia. E como em tudo na vida, alguns ficarão para trás. O Brasil corre bem o risco de ser um.