01/02/2016 - 20:29
As negociações de paz sobre a Síria começaram oficialmente em Genebra, anunciou na noite desta segunda-feira o enviado especial da ONU, Staffan de Mistura, após uma reunião de duas horas com representantes da oposição ao regime de Damasco.
“As discussões de Genebra começaram oficialmente”, declarou De Mistura à imprensa, anunciando uma reunião “com o governo amanhã (terça-feira) e à tarde, convidaremos o ACN (Alto Comitê de Negociações) para aprofundar os temas apresentados”.
O diplomata sueco de origem italiana prevê que estes diálogos serão “complicados e difíceis”, mas estimou que o povo sírio merece “ver algo concreto, além destas longas e dolorosas negociações”.
De Mistura falou à imprensa após concluir a reunião preliminar com os representantes do opositor ACN, que chegou a Genebra no sábado depois de dias de deliberações sobre se compareceriam a estas negociações indiretas com o regime de Bashar al Assad.
“O objetivo mais imediato é nos assegurarmos de que as conversações continuem e que todo mundo participe” das mesmas, destacou. O diplomata reforçou, ainda, que não se pode calcular quanto deve durar esta primeira rodada, embora espere que “se consiga algo” até 11 de fevereiro.
Há vários dias, o ACN vem repetindo suas condições antes de começar a negociar oficialmente: o fim do cerco às cidades e a libertação de presos, a concessão talvez mais fácil de obter por enquanto, segundo uma fonte diplomática.
Nesta segunda-feira, o governo sírio deu seu acordo de princípio para o acesso de ajuda humanitária à cidade de Madaya, onde 46 pessoas morreram de fome desde o começo de dezembro, assim como a outras cidades sírias, declarou à AFP o porta-voz da OCHA.
“O governo aprovou a princípio o envio de comboios a Madaya e, simultaneamente a Kafraya e Fua”, duas cidades xiitas situadas pelos rebeldes, disse o porta-voz do Escritório de Coordenação de Assuntos Humanitários da ONU (OCHA).
A delegação do ACN é liderada pelo líder rebelde islamita Mohamed Alush, que chegou a Genebra à tarde. Trata-se do líder do grupo de inspiração salafista Jaich al Islam (Exército de Deus), considerado terrorista por Damasco e seus aliados russos.
O ACN aceitou a reunião, após ter obtido garantias da comunidade internacional e uma “resposta positiva do emissário especial da ONU”, segundo um de seus porta-vozes, Salem al Meslet.
Segundo uma fonte diplomática, o ACN desconfia tanto da ONU quanto do regime e quer “coisas tangíveis e, em seguida, visíveis”.
De Mistura tem previsto reunir-se na terça-feira com representantes do regime sírio. Em Omã, o secretário-geral da ONU, Ban Ki-Moon, comemorou o início das negociações, “aguardadas há muito tempo”.
A ONU buscava implantar este diálogo indireto entre os dois campos, um processo que pode durar até seis meses, no prazo para criar uma autoridade de transição, encarregada de organizar eleições em meados de 2017.
Nesta segunda-feira, no entanto, as Nações Unidas destacaram que as negociações não devem impedir que se julgue os responsáveis por crimes de guerra.
“Nenhuma anistia deve ser concedida a quem é suspeito de crimes contra a humanidade ou crimes de guerra”, afirmou o Alto Comissário da ONU para os Direitos Humanos, Zeid Ra’ad al Hussein.
As potências ocidentais reativaram em novembro o diálogo para por um fim a cinco anos de guerra na Síria, um processo do qual também participam a Rússia, os países árabes, Irã e Turquia, todos representados em Genebra.
A secretária de Estado americana adjunta para o Oriente Médio, Anne Patterson, e o emissário dos Estados Unidos para a Síria, Michael Ratney, tinham previsto reunir-se nesta segunda-feira com o vice-ministro russo de Relações Exteriores, Guennadi Gatilov.
Desde março de 2011, a guerra na Síria já deixou mais de 260 mil mortos e levou milhões de pessoas a abandonar suas casas.
O caos também permitiu que o grupo jihadista Estado Islâmico (EI), que conquistou amplos trechos do território sírio, se destacar. No domingo, um atentado contra uma mesquita xiita, reivindicado pelo EI, matou cerca de 70 pessoas perto de Damasco.
A coalizão anti-EI, liderada pelos Estados Unidos, se reunirá na terça-feira, em Roma, onde está o secretário de Estado americano, John Kerry, e a questão síria poderá ser abordada.
Por outro lado, está prevista para a quinta-feira, em Londres, uma conferência de doadores para ajudar os 13,5 milhões de pessoas em situação de vulnerabilidade na Síria e os 4,2 milhões de refugiados.
Segundo autoridades britânicas, foram arrecadados apenas US$ 3,3 bilhões dos US$ 8,4 bilhões prometidos.
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