13/10/2016 - 13:24
O português Antonio Guterres foi designado nesta quinta-feira como novo secretário-geral das Nações Unidas, substituindo o sul-coreano Ban Ki-moon.
A Assembleia Geral da ONU adotou uma resolução por aclamação que designa o político socialista de 67 anos, ex-primeiro-ministro de Portugal e ex-Alto Comissário da ONU para os Refugiados, como novo chefe da organização por um período de cinco anos, a partir de 1 de janeiro.
Espera-se que Guterres promova uma mudança de rumo na organização num momento de grande ansiedade mundial pela guerra na Síria, a crise de refugiados e os conflitos no Iêmen e no Sudão do Sul.
“Nos últimos 10 anos fui testemunha em primeira mão do sofrimento das pessoas mais vulneráveis no planeta. Visitei zonas de guerra e campos de refugiados onde você se pergunta legitimamente o que aconteceu com a dignidade da pessoa humana. O que nos tornou imunes aos apuros dos mais desprivilegiados?”, disse Guterres ante a Assembleia Geral em seu discurso após sua designação, que pronunciou em inglês, francês e espanhol.
“A paz é hoje infelizmente a grande ausente em nosso mundo (…) A ONU tem o dever moral e o direito universal de implementar como prioridade principal a diplomacia para a paz (…) uma diplomacia capaz de atenuar tensões e de fazer com que surjam soluções pacíficas”, lembrou em seu discurso, que foi recebido com uma salva de palmas e de pé pelos embaixadores.
Recém designado, Guterres convocou as grandes potências a superar suas divisões sobre a Síria, ante a proximidade das novas discussões internacionais sobre o conflito.
“Sejam quais forem as divisões, é mais importante se unir”, declarou Guterres durante sua primeira coletiva de imprensa depois de sua designação, ressaltando: “É hora de lutarmos pela paz”.
Diplomatas esperam que Guterres sacuda a ONU e adote reformas internas para torná-la mais rápida e eficiente. Também querem que leve novos ares à secretaria geral, depois de 10 anos de uma atitude low-profile durante o mandato de Ban.
“Guterres é conhecido por todos, mas talvez seja mais conhecido onde mais importe, no front de conflitos armados e de sofrimento da humanidade”, disse Ban, que o considerou “uma opção maravilhosa” para dirigir a ONU.
“Seus instintos políticos são os da ONU: cooperação para o bem comum e responsabilidade compartilhada para os povos e o planeta”, ressaltou.
O embaixador chileno ante a ONU, Cristian Barros, também fez elogios a Guterres em nome do GRULAC, o Grupo para a América Latina e o Caribe, e destacou sua “estatura diplomática” e integridade.
“Seus 10 anos de experiência como alto comissário para os refugiados são mais relevantes do que nunca, agora que enfrentamos grandes movimentos de refugiados e migrantes, um de nossos desafios mais urgentes”, afirmou.
Guterres recebeu o apoio unânime do Conselho de Segurança da ONU em uma votação na semana passada que colocou fim à campanha mais transparente já feita na ONU para o posto de número um da organização.
Os únicos candidatos latino-americanos para substituir Ban eram duas mulheres, a chanceler argentina Susana Malcorra e a ex-negociadora da ONU sobre mudanças climáticas Christiana Figueres, da Costa Rica.
Várias vozes se ergueram nesta quinta-feira pedindo uma maior igualdade de gêneros na ONU, que em seus 71 anos de vida nunca foi liderada por uma mulher.
Como primeiro-ministro de Portugal de 1995 a 2002 e como Alto Comissário da ONU para os Refugiados de 2005 a dezembro de 2015, Guterres demonstrou que “é um reformista”, disse nesta semana o embaixador britânico Matthew Rycroft.
“É capaz de fazer as duas coisas, a liderança para fora, a visão, a inspiração, fixar o rumo, mas também a reforma interna para ser eficiente, para melhorar processos e para fazer com que o todo valha mais que a soma de suas partes”, explicou.
Parte da grande animação com Guterres é proveniente da decepção com Ban, que muitos consideram um mau comunicador e reticente em adotar ações fortes nas grandes crises.
“Todos são muito educados sobre Ban, mas vamos enfrentar isso (…) Todos sabem que não foi um secretário-geral forte em termos de reformas internas ou de liderança externa”, declarou um diplomata do Conselho de Segurança.
“Tem o instinto correto sobre a Síria e todo o resto, mas não teve a habilidade de realmente impulsionar a opinião internacional em nenhum destes temas”, disse o diplomata, que pediu o anonimato.