22/04/2022 - 0:41
A Rússia tem o objetivo de controlar todo o sul da Ucrânia e a região do Donbass (leste), dois meses após o início da invasão do país, onde a ONU afirmou que está documentando mortes que poderiam constituir “crimes de guerra”.
“Desde o início da segunda fase da operação especial, um dos objetivos do exército russo é estabelecer o controle total sobre o Donbass e o sul da Ucrânia”, disse o general Rustam Minnekayev, subcomandante das forças do distrito militar do centro da Rússia.
“Isto permitiria garantir um corredor terrestre até a Crimeia”, acrescentou, a respeito da península ucraniana que Moscou anexou em 2014.
A Ucrânia, que recebeu nos últimos dias um aumento significativo da ajuda em armas por parte dos países ocidentais, segue convencida de que pode expulsar as forças russas do país.
“Eles só podem adiar o inevitável: o momento em que os invasores terão que deixar nosso território, principalmente Mariupol, uma cidade que continua resistindo à Rússia, apesar de tudo que os invasores dizem”, afirmou o presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky.
A cidade perto do Mar de Azov é alvo de ataques frequentes e do cerco das tropas russas, que buscam criar um corredor entre a anexada península da Crimeia e os territórios separatistas pró-Moscou de Donetsk e Lugansk, na região leste do Donbass.
O governador da região, Pavlo Kyrylenko, declarou à AFP nesta sexta-feira que o futuro da guerra na Ucrânia “depende do destino de Mariupol”, que está quase sob controle total da Rússia, mas onde os últimos combatentes ucranianos estão entrincheirados no grande complexo metalúrgico de Azovstal “com quase 300 civis”.
Ao mesmo tempo, o presidente russo Vladimir Putin acusou as autoridades da Ucrânia de impedir a rendição dos últimos soldados entrincheirados na zona industrial de Azovstal.
“As vidas de todos os militares ucranianos, combatentes nacionalistas e mercenários estrangeiros estão garantidas caso deponham as armas (…) Mas Kiev não autoriza esta possibilidade”, disse Putin em um comunicado do Kremlin que resumiu uma conversa com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel.
Em um comunicado, o ministério russo da Defesa afirmou que está disposto a uma trégua humanitária na zona industrial da cidade e que os civis que decidirem sair terão a possibilidade de escolher se vão para territórios controlados pela Rússia ou sob controle da Ucrânia
Na quinta-feira, três ônibus com civis conseguiram sair de Mariupol e seguir para áreas mais seguras da Ucrânia, mas nesta sexta o corredor humanitário foi suspenso por falta de segurança nas rodovias.
“Me dirijo a todos os que estão esperando para a retirada: por favor tenham paciência, aguentem”, disse a vice-primeira-ministra ucraniana, Irina Vereshchuk.
As autoridades de Mariupol calculam que mais de 20.000 pessoas morreram na cidade após quase dois meses de cerco e bombardeios.
– “Crimes de guerra” –
As autoridades ucranianas acusam com frequência as forças russas de atacar as estradas usadas pelos civis que fogem dos combates.
“Nos territórios ocupados temporariamente, unidades inimigas continuam a bloquear os movimentos da população local (…) Reduzem a ruínas as infraestruturas importantes e bloqueiam a entrega de ajuda humanitária. Há casos de civis e voluntários fuzilados”, afirmou o ministério ucraniano da Defesa.
A ONU acusou nesta sexta-feira o exército russo de ações que “poderiam constituir crimes de guerra” na Ucrânia após a invasão de 24 de fevereiro, incluindo bombardeios indiscriminados que provocaram mortes de civis e a destruição de escolas e hospitais.
“As Forças Armadas russas bombardearam de maneira indiscriminada zonas residenciais, mataram civis e destruíram hospitais, escolas e outras infraestruturas civis, em ações que poderiam constituir crimes de guerra”, declarou Ravina Shamdasani, porta-voz do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos, que tem sede em Genebra.
Michelle Bachelet, alta comissária da ONU para os Direitos Humanos, afirmou que “durante as últimas oito semanas, o direito humanitário internacional não apenas foi ignorado, mas foi jogado ao mar”.
Shamdasani não descartou que o lado ucraniano também tenha violado o direito humanitário, mas a “maioria das violações, de longe, é atribuída às forças russas”.
Ela explicou que, de modo concreto, os investigadores da ONU que integraram uma missão na Ucrânia no início de abril já conseguiram documentar “os assassinatos, alguns deles execuções sumárias, de 50 civis na cidade de Bucha”, perto de Kiev.
– “Tudo está sendo investigando” –
Com o conflito concentrado no leste e sul, nas proximidades de Kiev as autoridades prosseguem com os trabalhos de exumação e análises forenses dos cadáveres encontrados em várias cidades após a retirada das tropas russas.
Uma fonte do governo informou que os necrotérios da região de Kiev receberam 1.020 corpos de civis. “Tudo está sendo investigado”, declarou Oleksandr Pavliuk, comandante militar da região.
No setor financeiro, Zelensky afirmou ao Fundo Monetário Internacional e ao Banco Mundial que o país precisará de quase sete bilhões de dólares para compensar as perdas econômicas provocadas pela guerra.
O presidente dos Estados Unidos, Joe Biden, anunciou na quinta-feira um novo pacote de ajuda de 800 milhões de dólares que, segundo o Pentágono, inclui “armas de artilharia pesada, dezenas de obuses, 144.000 munições e drones”.
Zelensky também acusou a Rússia de preparar um referendo nas zonas sob seu controle em Kherson e Zaporizhzhia, no sul para pressionar os moradores a fornecer os dados pessoais às forças invasoras.
“É para falsificar um suposto referendo sobre sua terra se a ordem de organizar esta paródia chegar de Moscou”, advertiu.
Em 2014, um referendo deste tipo, denunciado como inválido por Kiev e pelas potências ocidentais, justificou a anexação russa da Crimeia. Posteriormente, os rebeldes pró-Moscou de Donetsk e Lugansk utilizaram votações similares para proclamar sua independência.
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