18/02/2020 - 9:43
A ONU exigiu nesta terça-feira que as autoridades do Camarões realizem uma investigação “independente, imparcial e completa” sobre a morte de 23 pessoas, a maioria delas crianças, na região de língua inglesa do país, durante uma operação militar.
“Instamos as autoridades a garantir que a investigação seja independente, imparcial e completa e que os responsáveis sejam levados à Justiça”, declarou o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (HCDH) em um comunicado de imprensa.
O comunicado, que se baseia em informações de funcionários da ONU no local, diz que das 23 pessoas mortas, 15 eram crianças, nove delas com menos de cinco anos de idade.
Um balanço anterior divulgado no domingo por um representante da ONU no Camarões relatou 22 civis mortos, incluindo 14 crianças, uma mulher grávida e duas mulheres carregando bebês.
Uma outra mulher grávida faleceu depois em decorrência de seus ferimentos, segundo o comunicado.
“Testemunhas disseram que cerca de 40 homens armados, incluindo membros das forças de segurança e de defesa, atacaram o vilarejo” localizado no noroeste do país, “abrindo fogo e incendiando casas”, segundo a mesma fonte.
As autoridades, por sua vez, “declararam que membros das forças de defesa e gendarmes foram atacados por pessoas dentro do vilarejo, resultando em uma troca de tiros que causou as chamas que afetaram várias habitações”, acrescentou o HCDH.
Pouco antes do amanhecer do dia 14 de fevereiro, homens armados – entre 40 e 50, todos vestindo uniformes do exército e alguns mascarados, de acordo com testemunhos reunidos por agentes humanitários contactados pela AFP – atacaram o bairro de Ngarbuh, no vilarejo de Ntumbo. Eles então atiraram e queimaram os moradores.
Na segunda-feira, o exército garantiu que a tragédia foi o resultado de um “infeliz acidente” após uma troca de tiros entre as forças de segurança e rebeldes separatistas.
O Alto Comissariado da ONU observa que o governo prometeu uma investigação, “cujas conclusões seriam tornadas públicas”.
“Pedimos ao governo que garanta que as forças de segurança obedeçam aos padrões legais internacionais aplicáveis quando conduzirem operações”, acrescentou a ONU, que também pede aos grupos armados separatistas que respeitem “suas responsabilidades de acordo com a lei internacional”.
“Todas as partes devem se abster de atacar civis”, continua o texto.
Desde 2017, o conflito nas regiões noroeste e sudoeste, povoadas principalmente pela minoria de língua inglesa camaronesa, já deixou mais de 3.000 mortos e 700.000 deslocados.
Tanto o exército camaronês quanto os separatistas armados são acusados por ONGs internacionais de direitos humanos de abusos contra civis nessas duas regiões.