A Assembleia Geral da ONU pediu nesta terça-feira pelo 24º ano consecutivo e por imensa maioria o fim do embargo aplicado a Cuba pelos Estados Unidos, em uma resolução votada três meses após o restabelecimento de laços diplomáticos entre os dois países.

O texto foi apoiado por 191 países, enquanto apenas Estados Unidos e Israel votaram contra, um resultado ainda mais contundente que no ano anterior, quando foram registrados 188 votos positivos, dois negativos e três abstenções, constatou a AFP.

A resolução deste ano dá as boas-vindas ao restabelecimento das relações diplomáticas entre Havana e Washington em julho passado, depois de vários meses de negociações que puseram ponto final a mais de meio século de ruptura.

Além disso, reconhece a vontade expressada pelo presidente Barack Obama de “trabalhar pela eliminação do embargo econômico, comercial e financeiro contra Cuba”.

“As medidas adotadas pelo executivo americano desde o início do ano, apesar de positivas, só modificam de forma muito limitada alguns elementos da aplicação do bloqueio”, afirmou.

“A suspensão do bloqueio será o elemento essencial que dará sentido ao que já foi tratado”, assinalou, advertindo que Cuba “jamais negociará seu sistema socialista”.

O bloqueio foi imposto em 1962 pelo então presidente John F. Kennedy para forçar a queda do regime comunista da ilha. Só pode ser suspenso pelo Congresso americano.

Desde 1992, a Assembleia Geral da ONU pede seu fim através de resolução apresentadas por Cuba.

O embaixador americano na ONU, Ronald Godard, lamentou a decisão de Cuba de apresentar a votação a resolução, cujo texto, segundo ele, “se distancia muito de refletir os passos importantes que foram adotados e o espírito de compromisso do presidente Obama”.

“Fizemos muitos progressos. Lamentamos por isso que o governo de Cuba tenha optado por proceder com sua resolução anual”, acrescentou.

Apenas Israel acompanhou os Estados Unidos no voto, enquanto que três países que se abstiveram no ano passado (Ilhas Marshall, Micronésia e Palau) se somaram à posição quase unânime da comunidade internacional.

O embargo causou prejuízos de mais de cem bilhões de dólares à ilha, segundo o governo cubano.

Cuba tem de comprar em mercados mais distantes, o que encarece as mercadorias com fretes e seguros. No caso dos medicamentos e outros bens tecnológicos, às vezes os Estados Unidos são o único fornecedor.

A ilha produz 65% dos medicamentos para seus 11,1 milhões de habitantes e importa os 35% restantes, principalmente para tratamentos de câncer, aids e diabetes.

Nesse sentido, o representante da Bolívia ante a ONU, Sacha Llorenti, recordou o caso da menina Noemí Bernárdez, de 7 anos e que teve um tumor cerebral extraído e agora deve ser submetida a quimioterapia com um medicamento oral produzido nos Estados Unidos.

Como não pode ter acesso a esse remédio de maneira oficial devido ao embargo, o ministério da Saúde cubano tenta comprá-lo sigilosamente em um terceiro país, o que, segundo Llorenti, é “um exemplo do alcance genocida do bloqueio”.

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