i150800.jpg

Presente: Sidão na “Batcaverna” da Vila Madalena (acima), local que o surfista-empresário considerou “fantástico” para eventualmente receber uma loja da OP

“Pode ser aqui mesmo, sem problemas.” Essa é a resposta sincera de Sidão à sugestão de realizar a entrevista em uma mesa na calçada em frente a um humilde boteco, ao som de carros e motos que passam por ali. “Esse bequinho é superpsicodélico! Ótimo lugar para uma loja.” Sidão se refere ao local onde foi feita a foto que ilustra esta reportagem, na rua sem nome conhecida como “Batcaverna”, no bairro da Vila Madalena, em São Paulo. Ele não está de brincadeira. E se anima com a possibilidade de abrir uma loja no local. Esse surfista de 54 anos quer voltar no tempo, mais precisamente a 1979, e retomar os passos que fizeram da marca que criou, a Ocean Pacific – ou simplesmente OP – um ícone dos anos 1980. Sidney Luiz Tenucci Jr., o Sidão, é assim. Divertido. Sincero. Contagiante. Sua história impressiona. Há 30 anos, depois de um giro pelo mundo em busca de ondas perfeitas, Sidão criou um dos capítulos mais bacanas da moda brasileira. No auge, a OP fabricava dois milhões de peças por ano. Para se ter uma ideia, a Rosa Chá poduz 500 mil peças anualmente. Agora, depois de 12 anos fora do mercado e de algumas tentativas malsucedidas de renascimento, a OP está de volta. Aliás, atendendo a pedidos. “É impressionante o número de pessoas que me procuram perguntando por que a OP sumiu, quando ela volta e dizendo o quanto a marca é importante para elas” diz o surfista-empresário. Sua intenção é ambiciosa: colocar a OP em 2.000 pontos de vendas (somando lojas multimarcas e próprias) no prazo máximo de dois anos. A meta é começar distribuindo as peças da OP para lojas multimarcas e, depois, partir para a criação de uma rede de estabelecimentos licenciados nas principais cidades do País.

O fato de a OP ser uma marca de referência afetiva para muitos consumidores é o grande trunfo de Sidão. Para a professora de consumo da Escola Superior de Propaganda e Marketing (ESPM) do Rio de Janeiro, Cecília Mattoso, a OP tem boas chances de ser bem-sucedida justamente por isso. “Existem marcas que carregam em si a saudade de um passado dourado, mesmo entre quem não vivenciou esse passado. É o caso da OP”, diz Cecília. Na avaliação da professora, o desafio da OP é canalizar essa nostalgia para produtos alinhados com as preferências do consumidor de hoje. Para ela, faz todo sentido oferecer roupas com um toque “vintage”, ou seja, que tragam elementos de outros tempos, mas sem passar a impressão de algo “velho”. No que depender de Sidão, isso não é um problema. Ele já determinou uma modernização na marca OP, mas inspirada nos sucessos do passado. Segundo ele, há até a possibilidade de relançar alguns itens exatamente como eram para atrair os nostálgicos mais exigentes. Na lista estão as calças bali de popeline e as carteiras de velcro que fizeram a cabeça da juventude nos anos 80 e 90.

i150801 (1).jpg

Não é a primeira vez que Sidão tenta trazer sua marca de volta do passado. Há cinco anos, ele criou um projeto que também previa a venda dos produtos em lojas multimarcas. Não deu certo. À época, o dono da OP trabalhou com uma rede ampla de fornecedores. Agora, mudou de ideia, decidindo concentrar a maior parte do trabalho em um parceiro apenas: a confecção capixaba Meltex Joy. Segundo ele, a empresa vai entrar com a produção e a distribuição. A Sidão caberá principalmente o trabalho de marketing. A Meltex Joy é uma das maiores distribuidoras de confecção do País e seu conhecimento do mercado, diz Sidão, foi fundamental para o planejamento da estratégia que será adotada daqui em diante. Sidão também diz que mudou. Se antes era centralizador em excesso, hoje é mais flexível ao ouvir opiniões de terceiros. “A OP nunca morreu”, diz. “Ela apenas dormiu por dez anos.” Quem tem mais de 30 anos, comemora o novo despertar.