A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) alertou nesta quarta-feira (17) para um aumento nos casos de covid-19 em metade dos países das Américas, e pediu ao Brasil para agir após registrar recordes de infecções e mortes.

“Hoje estamos vendo a contaminação do vírus se acelerar em aproximadamente metade dos países de nossa região”, disse a diretora da Opas, Carissa Etienne, em uma entrevista coletiva.

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O Brasil, segundo país do mundo com mais mortes por covid-19 depois dos Estados Unidos, registra atualmente o maior número de novas infecções nas Américas. Na terça-feira, o país também relatou um pico de 2.841 mortes em 24 horas.

Etienne afirmou que várias regiões estão experimentando um nível recorde de infecções e os leitos hospitalares estão quase lotados em mais da metade dos estados.

“A situação no Brasil é um alerta de que manter esse vírus sob controle requer atenção contínua das autoridades e líderes de saúde pública para proteger as pessoas e os sistemas de saúde do impacto devastador desse vírus”, analisou Etienne.

O presidente Jair Bolsonaro sempre foi cético quanto à gravidade da pandemia de covid-19, questionando o uso de máscaras, a necessidade de confinamentos e a eficácia das vacinas. Seu governo acaba de nomear o quarto ministro da Saúde desde o início da crise de saúde, há um ano.

Sylvain Aldighieri, gerente de incidentes da Opas, observou que a situação atual no Brasil é o resultado de uma implementação “subótima” de medidas de saúde pública durante as festas de final de ano e o carnaval.

A transmissão do vírus “é alta ou muito alta” em todas as regiões do país, afirmou, destacando que, ao contrário da onda pandêmica de 2020, o aumento dos casos é “simultâneo”.

No entanto, dada a circulação na região de pelo menos três variantes preocupantes do vírus, ele insistiu que “as medidas de saúde pública, quando implementadas com rigor, funcionam”.

O Brasil acumula mais de 284.775 mortes e 11,69 milhões de infecções desde que a doença foi relatada pela primeira vez em dezembro de 2019 na China.

– Uruguai, Equador, Venezuela –

 

Etienne afirmou que enquanto os Estados Unidos e o México mostraram queda no número de novas infecções, assim como o Caribe, a pandemia ganhou força em outros países da região além do Brasil.

A diretora da Opas mencionou o Canadá, com um aumento particularmente alto entre as pessoas entre 20 e 39 anos, assim como muitos países da América do Sul, entre os quais destacou Uruguai, Equador e Venezuela.

“Na última semana, o sistema de saúde paraguaio emitiu um alerta urgente porque os hospitais estavam lotados de pacientes com covid-19”, disse Etienne.

“Grandes cidades como Lima e Rio de Janeiro impuseram toques de recolher e fechamentos para controlar os picos recentes”, acrescentou.

A diretora da Opas, o escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), saudou a chegada de vacinas à região por meio do sistema global Covax, mas reconheceu que “são necessárias mais imunizações e mais rapidamente”.

Das quase 138 milhões de doses de vacinas anticovid aplicadas nas Américas, apenas 28 milhões foram administradas na América Latina e no Caribe, destacou.

Diante de uma realidade de doses limitadas, Etienne implorou que “não baixar a guarda” na prevenção.

“Levará vários meses até que possamos contar com vacinas para controlar esse vírus”, lembrou.

– Luz verde para AstraZeneca –

Ecoando as diretrizes da OMS, a Opas recomendou nesta quarta-feira aos países das Américas que continuem usando a vacina anticovid da farmacêutica AstraZeneca, suspensa em grande parte da Europa enquanto relatos de coágulos sanguíneos são estudados em pessoas imunizadas.

Para Aldighieri, os países das Américas que atualmente estão aplicando doses da AstraZeneca “não relataram sinais de alerta em relação à segurança dessa vacina”.

Essa imunização com vetor viral é, por enquanto, uma parte crucial do portfólio da Covax, o mecanismo liderado pela OMS para adquirir vacinas anticovid e garantir seu acesso equitativo em todo o mundo.

 

Aldighieri descartou que a distribuição da vacina AstraZeneca no continente seja afetada pela cautela na Europa em relação a esse imunizante.

“Os dois lotes de vacinas que estão sendo testados na Europa não vão ser distribuídos pelo mecanismo Covax nas Américas”, explicou, lembrando que as doses da AstraZeneca destinadas à região são produzidas na Coreia do Sul e na Índia.