17/03/2021 - 18:56
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) alertou nesta quarta-feira (17) para um aumento nos casos de covid-19 em metade dos países das Américas, e pediu ao Brasil para agir após registrar recordes de infecções e mortes.
“Hoje estamos vendo a contaminação do vírus se acelerar em aproximadamente metade dos países de nossa região”, disse a diretora da Opas, Carissa Etienne, em uma entrevista coletiva.
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O Brasil, segundo país do mundo com mais mortes por covid-19 depois dos Estados Unidos, registra atualmente o maior número de novas infecções nas Américas. Na terça-feira, o país também relatou um pico de 2.841 mortes em 24 horas.
Etienne afirmou que várias regiões estão experimentando um nível recorde de infecções e os leitos hospitalares estão quase lotados em mais da metade dos estados.
“A situação no Brasil é um alerta de que manter esse vírus sob controle requer atenção contínua das autoridades e líderes de saúde pública para proteger as pessoas e os sistemas de saúde do impacto devastador desse vírus”, analisou Etienne.
O presidente Jair Bolsonaro sempre foi cético quanto à gravidade da pandemia de covid-19, questionando o uso de máscaras, a necessidade de confinamentos e a eficácia das vacinas. Seu governo acaba de nomear o quarto ministro da Saúde desde o início da crise de saúde, há um ano.
Sylvain Aldighieri, gerente de incidentes da Opas, observou que a situação atual no Brasil é o resultado de uma implementação “subótima” de medidas de saúde pública durante as festas de final de ano e o carnaval.
A transmissão do vírus “é alta ou muito alta” em todas as regiões do país, afirmou, destacando que, ao contrário da onda pandêmica de 2020, o aumento dos casos é “simultâneo”.
No entanto, dada a circulação na região de pelo menos três variantes preocupantes do vírus, ele insistiu que “as medidas de saúde pública, quando implementadas com rigor, funcionam”.
O Brasil acumula mais de 284.775 mortes e 11,69 milhões de infecções desde que a doença foi relatada pela primeira vez em dezembro de 2019 na China.
– Uruguai, Equador, Venezuela –
Etienne afirmou que enquanto os Estados Unidos e o México mostraram queda no número de novas infecções, assim como o Caribe, a pandemia ganhou força em outros países da região além do Brasil.
A diretora da Opas mencionou o Canadá, com um aumento particularmente alto entre as pessoas entre 20 e 39 anos, assim como muitos países da América do Sul, entre os quais destacou Uruguai, Equador e Venezuela.
“Na última semana, o sistema de saúde paraguaio emitiu um alerta urgente porque os hospitais estavam lotados de pacientes com covid-19”, disse Etienne.
“Grandes cidades como Lima e Rio de Janeiro impuseram toques de recolher e fechamentos para controlar os picos recentes”, acrescentou.
A diretora da Opas, o escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS), saudou a chegada de vacinas à região por meio do sistema global Covax, mas reconheceu que “são necessárias mais imunizações e mais rapidamente”.
Das quase 138 milhões de doses de vacinas anticovid aplicadas nas Américas, apenas 28 milhões foram administradas na América Latina e no Caribe, destacou.
Diante de uma realidade de doses limitadas, Etienne implorou que “não baixar a guarda” na prevenção.
“Levará vários meses até que possamos contar com vacinas para controlar esse vírus”, lembrou.
– Luz verde para AstraZeneca –
Para Aldighieri, os países das Américas que atualmente estão aplicando doses da AstraZeneca “não relataram sinais de alerta em relação à segurança dessa vacina”.
Essa imunização com vetor viral é, por enquanto, uma parte crucial do portfólio da Covax, o mecanismo liderado pela OMS para adquirir vacinas anticovid e garantir seu acesso equitativo em todo o mundo.
Aldighieri descartou que a distribuição da vacina AstraZeneca no continente seja afetada pela cautela na Europa em relação a esse imunizante.
“Os dois lotes de vacinas que estão sendo testados na Europa não vão ser distribuídos pelo mecanismo Covax nas Américas”, explicou, lembrando que as doses da AstraZeneca destinadas à região são produzidas na Coreia do Sul e na Índia.