19/11/2020 - 19:51
A Organização Pan-Americana da Saúde (Opas) espera ter a vacina contra a covid-19 na América Latina e no Caribe entre março e maio por meio do mecanismo de acesso global Covax e aplicá-la “provavelmente” em etapas.
Foi o que disse esta semana em entrevista à AFP Jarbas Barbosa, vice-diretor da Opas, escritório regional da Organização Mundial da Saúde (OMS).
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“Em termos realistas, acreditamos que teremos vacinas para entregar aos países no primeiro semestre de 2021”, afirmou. “Pensamos em março, abril ou maio”.
Veja abaixo a entrevista completa.
P: A OMS criou o mecanismo Covax para adquirir e distribuir de forma equitativa a vacina contra a covid-19. Quais países da região integram a iniciativa?
R: Todos os países da América Latina e do Caribe manifestaram interesse em participar do mecanismo Covax. Até agora, 28 países com capacidade para comprar as vacinas assinaram acordos com a Covax, e outros 10 países são elegíveis para apoio financeiro.
P: Quanto custa para participar?
R: O custo é um pagamento inicial que corresponde a cerca de 15% do volume de doses das vacinas que se estima receberão na primeira fase. Alguns países solicitaram um volume de dose proporcional a 10% de sua população, outros 15%, 20%, 30%. Para estimar o preço, foi feita uma média entre as vacinas mais baratas (de 2 a 2,5 dólares por dose) e as mais caras (25 a 30 dólares).
P: Quais vacinas serão oferecidas?
R: A grande vantagem do mecanismo Covax é que vamos trabalhar com uma grande cesta de produtores, queremos ter de 10 a 15 produtores. A meta é ter 2 bilhões de doses no primeiro ano para que os 184 países participantes tenham acesso à vacina. A Opas e o Unicef lançaram a primeira chamada pública de propostas na semana passada. Esperamos em algumas semanas ter uma consolidação de todos, com as doses disponíveis, prazos de entrega e preços.
P: Pfizer, Moderna e Sputnik V reportaram níveis de eficácia superiores a 92% em suas vacinas experimentais. Elas estarão no Covax?
R: Esses resultados preliminares são boas notícias, sem dúvida. Mas não são suficientes. Atualmente, existem 11 vacinas na fase 3, que é a fase final dos ensaios clínicos. Todos têm que completá-los, publicar os dados para que a comunidade científica internacional possa analisá-los e depois ser aprovados pela autoridade reguladora de cada país. E, no nosso caso, a OMS também precisa dizer que atendem aos requisitos de segurança e eficácia. Qualquer vacina, da Rússia, da China, dos Estados Unidos, do Reino Unido, todas aquelas que estão na fase 3 do processo são muito bem-vindas para participar da Covax.
P: Muitos países da região estão no Covax e ao mesmo tempo negociam com os produtores?
R: Existem vários países da região que também têm acordos bilaterais com produtores. É uma forma de expandir suas opções. Acordos bilaterais com um ou outro produtor podem sempre apresentar algum risco porque algo pode acontecer com a vacina. E para esses acordos em geral os produtores exigem um pagamento adiantado. Mas é uma decisão de cada país.
P: Quando o Covax terá as vacinas?
R: Em termos reais, acreditamos que teremos as vacinas para entregar aos países no primeiro semestre de 2021. Nossa expectativa é que os produtores mais avançados entreguem os dados às autoridades regulatórias até dezembro, janeiro. Então com tempo para avaliações, produção, entrega, achamos que março, abril ou maio pode ser uma boa aposta.
P: Quais são os principais desafios na distribuição da vacina? A da Pfizer, por exemplo, precisa ser mantida em uma temperatura muito baixa.
R: Uma vacina que precisa ser armazenada a -75ºC nunca foi usada. Esse é um desafio para todos os países, não apenas para os da região. Existem mais de 100 vacinas em desenvolvimento, mas as outras que estão mais perto de concluir os ensaios clínicos usam a mesma rede de frio que os países já usam.
P: Outro desafio é a vacinação…
R: A América Latina e o Caribe têm uma excelente experiência em programas de vacinação, mas é sempre um desafio organizar uma campanha com essas características, que provavelmente será em etapas. Uma primeira fase será para profissionais de saúde, trabalhadores essenciais e pessoas com condições que geram um maior risco de desenvolver formas graves de covid-19, e depois se expandirá para outros grupos da população.
P: Você se vacinará?
R: Sim, imediatamente, sem dúvida.
P: O que acontece se muitas pessoas não se vacinarem?
R: As vacinas têm um efeito de proteção individual e um efeito de imunidade de rebanho. Não temos os dados finais sobre qual é a proporção para alcançar imunidade de rebanho contra a covid-19. Fala-se em 70%, 75%, 80%, mas tem que se confirmar. Portanto, é muito importante que as autoridades forneçam informações muito transparentes, muito objetivas, para que a população possa entender a grande vantagem de ter acesso a essa vacina.
R: Quanto mais gente se vacinar melhor para todos?
P: Isso.