Grandes protagonistas na economia brasileira, mas coadjuvantes nas exportações do país. Os pequenos negócios têm participação fundamental na geração de empregos, representam cerca de 95% de todas as empresas brasileiras, estão presentes em praticamente todas as cadeias produtivas – dos negócios inovadores às pequenas propriedades rurais –, entretanto, respondem por menos de 1% do total das vendas externas brasileiras.

A pouca participação das micro e pequenas empresas (MPE) na pauta de exportações do país não costuma causar muita estranheza. No senso comum, o esperado é que o grande peso no volume de comércio exterior esteja nos chamados itens de commodities (grãos, proteína animal, minérios) ou bens industrializados. Para se ter uma ideia, a balança comercial brasileira teve um superávit recorde de US$ 5,447 bi em fevereiro. O fato é que há um enorme espaço a ser explorado pelas micro e pequenas empresas e seus produtos diferenciados no mercado externo.

O grande público desconhece o potencial de itens como o pão de queijo, o açaí, a moda praia e o artesanato, para citar apenas alguns exemplos, que já conquistaram espaço na Europa, Ásia, Estados Unidos, entre outros mercados. Somente a agricultura familiar do Brasil, caso se unisse como uma nação, ocuparia a oitava posição no ranking mundial de produtores de alimentos e movimenta US$ 55,2 bilhões/ano.

Capacitar os pequenos negócios para que eles estejam aptos a vender os seus produtos e serviços para outros países é uma preocupação do Sebrae há décadas. Com uma economia globalizada, onde uma pequena indústria enfrenta a concorrência direta de produtos fabricados do outro lado do mundo, tornar as MPE brasileiras mais competitivas é a chave para fazer o país continuar crescendo, gerando empregos de qualidade aqui dentro e contribuindo com a redução das desigualdades.

Um dos primeiros e mais importantes obstáculos para a maior participação das MPE na pauta de exportações é a crença limitante de muitos empreendedores que não consideram o mercado externo como uma possibilidade viável. Eles, em geral, subestimam o potencial de seus produtos. Essa falta de mentalidade exportadora é apenas o primeiro obstáculo em uma série de desafios que incluem falta de preparação e adequação, dificuldades de identificar mercados viáveis, problemas com documentação, logística e acesso a crédito, além de receios em relação ao recebimento seguro dos pagamentos.

É imperativo que superemos essas barreiras e apoiemos o crescimento das exportações por parte das MPE. A diversificação dos mercados de atuação não apenas aumenta a resiliência dessas empresas, mas também impulsiona a competitividade da economia do país como um todo. Além disso, a competição no mercado global pode motivar melhorias na qualidade dos nossos produtos e serviços, aumento da eficiência e redução de custos.

O Sebrae e o governo brasileiro estão cientes desses desafios e trabalhando em conjunto para superá-los. É essencial implementar medidas abrangentes e multifacetadas, abordando não apenas as questões burocráticas e logísticas, mas também promovendo uma mudança na mentalidade cultural dos donos de pequenos negócios. Nesse sentido, os empreendedores precisar estar capacitados não apenas em aspectos técnicos, como documentação e logística, mas também em habilidades linguísticas e culturais que lhes permitam adaptar seus produtos e serviços para diferentes mercados.

Além disso, é necessário facilitar o acesso a crédito e garantir mecanismos de proteção para os pequenos negócios que optam por exportar. A simplificação dos processos burocráticos e a melhoria da infraestrutura logística também são cruciais para tornar o ambiente de negócios mais propício às exportações dos pequenos.

Desbloquear o potencial exportador das micro e pequenas empresas brasileiras não é apenas uma questão econômica, mas também uma resposta à demanda por equidade e inclusão. Ao garantir que esses empreendimentos tenham acesso ao mercado global e alcancem seu pleno potencial, estamos não apenas impulsionando o crescimento econômico, mas promovendo também a inclusão social e o desenvolvimento sustentável.

Décio Lima é presidente do Sebrae