16/02/2023 - 7:07
Após cinco meses de protestos, os movimentos de oposição ao governo iraniano, tanto no país quanto no exterior, buscam se unir após anos de confrontos.
Depois da revolução de 1979, os opositores da República Islâmica xiita se desentenderam, mas agora buscam um consenso para transformar as manifestações em uma alternativa política.
As manifestações tornaram-se menos frequentes nas últimas semanas, mas alguns opositores dizem que podem voltar a qualquer momento.
Os protestos contra o governo começaram após a morte sob custódia da curda iraniana Mahsa Amini, presa por supostamente violar o rígido código de vestimenta das mulheres iranianas.
“O que precisamos é de uma frente unida e inclusiva das forças pró-democracia”, disse à AFP Arash Azizi, pesquisador da Universidade de Nova York.
A Universidade de Georgetown, em Washington, organizou uma conferência na última sexta-feira com figuras da oposição no exílio que até recentemente não se falavam.
Participaram a jornalista iraniana Masih Alinejad, militante anti-hijab, Hamed Esmeailion, porta-voz das vítimas da queda do avião ucraniano derrubado pelo Irã em 2020, e Reza Pahlavi, filho do xá deposto em 1979.
– “Não há competição” –
Pahlavi afirma com frequência que não aspira restaurar a monarquia do xá e que deseja trabalhar por um sistema democrático laico.
“Hoje não há competição entre nós, não estamos tentando assumir o controle da direção do movimento”, disse ele na reunião.
Pahlavi é acusado de não se distanciar o suficiente do autoritarismo do pai, de falta de transparência sobre a fortuna da família e de passividade diante da agressividade dos monarquistas nas redes sociais.
Mas seu apoio às manifestações valeu o reconhecimento do movimento de oposição e ataques da imprensa pró-Irã.
“Pahlavi é obviamente divisivo para alguns, assim como a maioria das figuras políticas no Irã”, disse Azizi.
“Mas hoje ele é o rosto mais conhecido da oposição e tem galvanizado os apoios mais visíveis e bem organizados, dentro e fora do país”, acrescentou.
Os palestrantes em Washington, acompanhados de maneira virtual pela vencedora do Nobel da Paz Shirin Ebadi, e pela atriz Golshifteh Farahani, trabalham para redigir uma carta da oposição e pretendem criar um conselho de transição encarregado de preparar as eleições.
“Não é hora de atacar uns aos outros”, resumiu Ebadi, que atribuiu a desunião do movimento à longevidade do governo, que está há 44 anos no poder.
As autoridades iranianas não foram convidadas para a Conferência Internacional de Segurança que acontecerá no próximo fim de semana em Munique, que contará com a presença de membros da sociedade civil.
Mas os planos dos ativistas exilados serão de pouco valor se não levarem em conta as demandas dos manifestantes por uma mudança de governo dentro do Irã.