O principal opositor ao Kremlin, Alexei Navalni, não descartou nesta segunda-feira (29) a possibilidade de ter sido “envenenado” na prisão, onde cumpre pena por ter convocado uma manifestação a favor de eleições livres.

A saúde do principal opositor do presidente Vladimir Putin deteriorou-se um dia depois de umas 1.400 pessoas terem sido detidas em uma manifestação não autorizada em Moscou, o maior número de detenções registrado em uma concentração pró-democracia nos últimos anos.

“Nunca tive alergia”, disse o opositor em uma mensagem difundida em seu blog, no qual explica seus sintomas.

“Durante um passeio, meus companheiros de cela viram que estava com o pescoço vermelho (…) Em uma hora, senti minha testa e a pele em volta dos olhos ardendo”, acrescentou.

“À noite, acordei porque meu rosto, minhas orelhas, meu pescoço ardiam e pinicavam”, acrescentou. “Me veio uma ideia: talvez tenham me envenenado?”, acrescentou Navalni, que acompanha sua mensagem com uma foto em que aparece com o rosto inchado.

Ele afirma que os médicos se comportavam “como se tivessem algo a esconder”.

Navalni duvida da versão da alergia e não descarta ter sido envenenado pelos guardas penitenciários, segundo ele os mais “impressionados” com sua aparência. Mas não descarta tampouco que alguém tenha entrado em sua cela quando estava vazia e pede para examinar as imagens de videovigilância.

“Foi envenenado com alguma substância química desconhecida”, disse a advogada Olga Mijailova à imprensa na porta do hospital número 64 de Moscou, onde o opositor deu entrada.

Navalni, de 43 anos, foi detido na quarta-feira e condenado a 30 dias de prisão por ter convocado a manifestação no sábado, depois que as autoridades excluíram candidaturas independentes para as eleições locais de 8 de setembro.

Após seu transporte de urgência, sua médica, Anastasia Vasilieva, afirmou que “a causa da ‘doença’ de Alexei Navalni pode ser algum agente tóxico”.

A médica do político foi finalmente autorizada a visitá-lo.

Os doutores o diagnosticaram com um problema dermatológico e aplicaram esteroides, após o que seu estado de saúde melhorou, acrescentou.

Navalni foi mandado de volta para a prisão, apesar de precisar seguir o tratamento e do risco que sua saúde corre na cadeia, afirmou Vasilieva.

Um encarregado do hospital informou à imprensa que a saúde e a vida de Navalni não corriam risco.

Vasilieva acusou os médicos do hospital de não quererem investigar o que causou a doença no opositor. “Claramente, alexei foi reenviado à prisão por ordens de cima”, disse.

Vasilieva é oftalmologista e tratou Navalni em 2017 por uma queimadura no olho, provocada por ter sido borrifado com um corante químico verde.

– Nova manifestação no sábado –

Antes da manifestação de sábado, vários opositores foram presos e suas casas e escritórios revistados.

Nesta segunda, um deles, Ilia Yashin, foi condenado a dez dias de prisão.

“Não tenho medo do seu sistema podre, suas prisões ou seus centros de detenção”, disse Yashin no tribunal, segundo uma publicação em suas redes sociais.

A oposição voltou a convocar uma manifestação para o sábado.

Apesar da repressão policial, milhares de manifestantes, muitos jovens com entre 20 e 30 anos, tomaram as ruas do centro de Moscou e entraram em confronto com as forças de segurança.

Nesta segunda-feira, o governo alemão instou a Rússia a libertar os mais de mil manifestantes detidos e denunciou o uso “desproporcional” da força pela polícia.

The Bell, um respeitado veículo online em língua russa, disse que o Kremlin subestimou o descontentamento dos moscovitas e sua disposição para se manifestar.

“Agora temos que pensar sobre o que fazer com tudo isso”, disse uma fonte do Kremlin, citada por esse meio.

Nas redes sociais, os russos reclamaram da brutalidade da polícia e compartilharam histórias de prisões e agressões.

Mais de 21.000 pessoas assinaram uma petição pedindo a renúncia do prefeito de Moscou, Sergey Sobianin.