O Centro Nacional de Monitoramento e Alertas de Desastres Naturais (Cemaden) avisou ao governo do Estado de São Paulo sobre o risco de fortes chuvas e deslizamentos na sexta-feira. “Fizemos o alerta, com a quantidade de chuva subestimada – 200 milímetros a 250 milímetros -, mas que já seria o suficiente para causar muitos estragos”, disse o presidente do Cemaden, Osvaldo Moraes. O Estado, por sua vez, diz ter feito todos os alertas – 14 por mensagens de texto, SMS, só até ontem. Mas não foram suficientes para evitar a tragédia e até o Cemaden admite ter de rever protocolos. Especialista vê falha de comunicação e sugere ações.

A pluviosidade média anual da cidade é de 1.243 milímetros. A média para fevereiro é de 225 milímetros. Ou seja, esperava-se em 24 horas mais chuva do que o previsto para o mês inteiro. No entanto, o volume de água que atingiu a cidade foi de mais de 600 milímetros, quase o triplo – e o maior registrado na série histórica.

O protocolo do Cemaden prevê que alertas sejam enviados para as Defesas Civis, a partir do momento em que começa a chover. Para Moraes, porém, é preciso rever os protocolos de emergência. Esta semana se completa um ano de outra tragédia, a de Petrópolis, que deixou 241 mortos e havia registrado, até então, o maior volume de chuvas em 24 horas no histórico de medições no País. “Se formos avaliar, os cinco maiores eventos extremos ocorreram no Brasil nos últimos dois anos. Precisamos rever esses protocolos e melhorar a legislação vigente”, afirma o gestor. “Ontem, a ministra (do Meio Ambiente) Marina Silva passou o dia reunida aqui com o Cemaden e está trabalhando em um plano de gestão de risco climático.”

RESPOSTA LOCAL

O governo do Estado de São Paulo afirma que “é fundamental esclarecer que a Defesa Civil Estadual tem emitido alertas à população a respeito das chuvas que atingiriam o litoral, bem como apoiado e articulado ações com as Defesas Civis Municipais desde o dia 16”. “Tais alertas foram baseados em análises e monitoramento de radares e satélites.”

O governo afirma que o primeiro alerta recebido foi às 11h30 de sexta-feira, durante a reunião convocada pelo Cemaden. O alerta de risco do Estado, diz a gestão, “já estava vigente desde a tarde do dia anterior e o governo estadual já estava mobilizado e em contato com todas as prefeituras dos municípios que poderiam ser afetados”, diz em nota.

“Os primeiros avisos divulgados pela Defesa Civil, que ocorreram ainda de forma preventiva, foram publicados por volta das 15 horas de quinta-feira, nas redes sociais da Defesa Civil e do Estado com informações sobre o volume de chuvas estimado para o período, bem como as medidas de segurança que poderiam ser adotadas pela população em áreas de risco”, diz a nota. Ao todo, até ontem, foram enviados 14 alertas por mensagens de texto, segundo o Estado. A prefeitura não se pronunciou.

FALHA

Para Pedro Côrtes, professor do programa de pós-graduação Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente da USP, é fácil constatar que o processo de comunicação entre as autoridades, neste caso, foi “extremamente falho”. “A população não sabia desse risco”, diz. Ele diz que só emitir alertas por mensagem de celular não é o suficiente. “Isso só funciona para quem se inscreveu no serviço.”

O professor cita outras medidas práticas, como ir às casas em locais de risco e contar com a imprensa para divulgar as informações. Ele afirma também que as prefeituras, mesmo com pouco tempo, poderiam ter se preparado com antecedência para acolher a população, seja com a instalação de hospitais de campanha, seja com preparo de escolas para acolher desabrigados.