31/05/2022 - 12:08
No meio de um campo de grama alta na ilha de Jeju (Coreia do Sul), 13 túmulos representam as raízes familiares mais controversas de Kim Jong Un, o ditador que governa a Coreia do Norte com mão de ferro.
É necessário viajar para um canto perdido desta turística ilha sul-coreana para encontrar os túmulos da família Ko, os ancestrais de Ko Yong Hui, mãe do atual presidente da Coreia do Norte.
Jong Un é o terceiro membro da dinastia Kim a liderar a Coreia do Norte, sucedendo seu pai Jong Il e seu avô Il Sung.
Relatórios oficiais norte-coreanos chamam esses três líderes de “linhagem Paektu”, referindo-se a uma montanha sagrada no norte do país.
Dada a mistificação nacional da família presidencial, a trajetória da família materna de Jong Un é contraditória.
Sua mãe Ko Yong Hui nasceu em Osaka em 1952 em uma família de Jeju que imigrou para o Japão em 1929 depois que a Península Coreana foi colonizada pela terra do sol nascente.
Os restos mortais de parentes de Kim Jong Un, como sua bisavó materna, repousam em túmulos muito modestos em Jeju, uma simplicidade que contrasta com a pompa do palácio do sol de Kumsusan, onde os túmulos de Kim Jong Il e Kim Il Sung estão localizados.
Depois que Kim Jong Un chegou ao poder, vários especialistas se referiram a esse passado perturbador, mas o regime não confirmou essa informação.
– “Prejudicaria sua legitimidade” –
As autoridades norte-coreanas “temem que uma confirmação prejudique sua legitimidade”, disse à AFP Cheong Seong-chang, pesquisador do Instituto Sejong.
A dinastia Kim baseia seu poder no papel de Kim Il Sung durante a guerra de libertação coreana contra a ocupação japonesa, que terminou em 1945.
“Uma herança coreana-japonesa questiona diretamente o mito da liderança norte-coreana”, aponta Cheong, sobre uma das razões pelas quais Kim Jong Un não quer reconhecer suas raízes familiares maternas.
Sua mãe passou a infância em Osaka, antes de retornar ao seu país graças a um plano de repatriação. Assim, esta iniciativa obrigou os coreanos a se estabelecerem na Coreia do Norte para “reivindicar a supremacia” de Pyongyang sobre Seul, explica o escritor Park Chul-hyun, que mora em Tóquio.
– Passado escondido pela imprensa oficial –
A família Ko teve uma vida relativamente normal até o dia em que sua filha mais velha se envolveu romanticamente com o provável sucessor da presidência norte-coreana.
A dançarina Ko conheceu Kim Jong Il em 1975 e tiveram três filhos. Ela morreu em 2004.
“A mídia oficial não fala sobre Ko Yong Hui”, lembra Rachel Minyoung Lee, chefe do programa 38 Nord no Stimson Center, em Washington.
Segundo esta especialista, a imprensa norte-coreana só se refere aos ancestrais de Kim Jong Un para exaltar a “linhagem Paektu” e ignora o resto de sua família.
A mídia sul-coreana descobriu os túmulos da família Ko em Jeju em 2014. Em seguida, uma placa homenageou o avô materno de Kim, falecido e enterrado na Coreia do Norte.
Mas a homenagem já não estava no local durante a visita da AFP em abril, tinha sido removida por um familiar cansado do interesse mediático que despertou e que temia possíveis atos de vandalismo.