Laurice Rahmé nasceu no Líbano e foi criada em Paris, mas é por Nova York que se diz apaixonada. Depois de mais de 20 anos vivendo um caso de amor com a Big Apple, a executiva resolveu lançar sua própria linha de perfumes, a Bond No. 9. A confiante franco-libanesa, no entanto, não é marinheira de primeira viagem no luxuoso mundo dos negócios de beleza. Antes de se aventurar por conta própria, ela já havia trabalhado em cargos de alto escalão nas francesas Lâncome e Annick Goutal. Por isso mesmo, o caminho mais fácil para Laurice seria usar seu savoir-faire no mercado  europeu, mas ela não queria criar mais uma marca entre tantas. Segundo ela, os consumidores endinheirados são ávidos por inovações e valorizam a exclusividade. 

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Assim, em 2003, ela lançou uma linha colorida de perfumes que, com Nova York como tema central, seduziu os americanos. Agora, quer conquistar os brasileiros também. Dois anos após o seu lançamento, a Bond No. 9 já tinha mais de 20 fragrâncias diferentes. Hoje, são mais de 40 vidrinhos que, um por um, homenageiam os bairros nova-iorquinos com seus diversos aromas e estilos. Chinatown, por exemplo, tem notas de especiarias e, em seu design, flores de cerejeira. Já o Bryant Park (onde aconteciam os desfiles de moda) tem um aroma vanguardista e, no rótulo, uma silhueta de manequim. “As pessoas entram na loja e perguntam ‘eu sou de West Village, qual é o meu perfume?’”, diz Laurice. A ideia surgiu logo após o atentado  de 11 de setembro que, meses depois, ainda levava o cheiro de queimado para  bairros distantes das Torres Gêmeas, no sul de Manhattan. 

 

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“Eu não penso como americana, penso como francesa”, afirma

Laurice Rahmé, que vê na exclusividade e no alto preço,

com perfumes que custam até R$ 875, o caminho para o sucesso. 

 

“Eu queria deixar Nova York perfumada novamente”, diz a criadora da Bond No. 9. A empreitada veio no momento em que era necessário resgatar o orgulho e a autoestima dos  nova-iorquinos e se espalhou pelo resto do país em pouco tempo. “Não sei se um perfume que homenageasse os Estados Unidos faria tanto sucesso”, diz Laurice. “Mas Nova York é o mundo dentro de uma só cidade. Como não adorá-la?” Comparada a uma gigante, como a Lâncome – que faturou US$ 20 bilhões em 2011 –, os quatro milhões de vidrinhos vendidos por ano nos Estados Unidos pela Bond No. 9 parecem uma gota de perfume. Mas essa é a proposta de Laurice, que vê na exclusividade e no alto preço (uma embalagem de 100 ml custa até R$ 875) um passaporte para o sucesso. Segundo a empresária, o mercado de beleza não está saturado quando o assunto são nichos. 

 

“Não existem marcas como a Bond No. 9, hoje em dia, e isso traz um diferencial”, afirma. Ela mesma reconhece, porém, que a ideia de inspirar-se numa cidade e celebrar seus bairros não é assim tão inovadora. No século 20, a perfumaria francesa já havia feito fragrâncias homenageando os bairros parisienses e isso funcionou como inspiração para Laurice. “Eu não penso como americana, penso como francesa, em pequena escala”, afirma. Apesar disso, ela revela que não faria perfumes para a indústria francesa. “Na França tudo é muito tradicional”, diz. “Eu gosto de inovar.” Em relação ao futuro no Brasil, Laurice demonstra otimismo. “Pelo que pude perceber, os brasileiros têm hábitos muito parecidos com os americanos”, diz. “O apetite pelo consumo e a vontade de experimentar coisas diferentes são muito similares.” 

 

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Consumidora em loja de Nova York.

 

Gabriella Otto, professora de marketing de luxo da ESPM, concorda com ela. Para ela, o lançamento tem tudo a ver com o momento que vive o mercado de consumo no País. “O interesse das marcas de alto padrão pelo Brasil faz com que a população sinta-se mais internacional, estimulada a comprar o luxo não pelo status que ele representa, mas por prazer”, afirma. Nesse cenário, as diversas embalagens da Bond No. 9, artísticas e em cores, com aromas variados, funcionam como encaixe perfeito em uma sociedade que procura cada vez mais os produtos customizados. Mas será que uma coleção de perfumes com o Brasil como tema faria sucesso? Gabriella acredita que não. “Em mercados mais maduros, como o americano, isso funciona bem, mas nossas referências ainda são bastante europeias”, diz. “É por isso que compramos tantas marcas estrangeiras.”