02/09/2011 - 21:00
Afinal, a Europa está ou não à beira de uma crise bancária? A discussão ganhou novos contornos com uma estimativa do Fundo Monetário Internacional (FMI), sobre os prejuízos dos bancos europeus, que enfureceu os governos do continente. Num trabalho que deve ser divulgado oficialmente em três semanas, durante sua reunião anual, em Washington, o FMI estima que a perda dos bancos com títulos públicos dos governos da região pode chegar a 200 bilhões de euros, o equivalente a US$ 290 bilhões. O prejuízo ocorreria se todos os títulos públicos de governos dos países da União Europeia fossem contabilizados pelos seus preços de mercado. Para estimar o valor real dos papéis, os técnicos do FMI consideraram os preços dos swaps de default de crédito, contratos negociados nos mercados internacionais que estimam a probabilidade de calote dos governos. Foram consideradas não apenas as cotações dos papéis de governos que estão recebendo ajuda do Fundo, como os da Irlanda, Grécia e Portugal, mas também dos que estão sofrendo com a desconfiança do mercado financeiro, como é o caso do italiano, espanhol e belga. As perdas poderiam dobrar para até 400 bilhões de euros se considerados os prejuízos com títulos de bancos europeus na carteira das outras instituições.
A previsão foi extraordinariamente mal recebida pelas autoridades europeias. Simplesmente há uma abismo entre as conclusões dos técnicos do FMI e a percepção dos europeus. Em julho, os testes de estresse feitos pelo Banco Central Europeu (BCE) no sistema bancário estimaram que o prejuízo potencial do sistema financeiro na região seria de apenas 2,5 bilhões de euros, pouco mais de 1% do previsto pela organismo dirigido pela francesa Christine Lagarde. Não por acaso, a reação foi de irritação. “A visão do FMI é distorcida”, afirmou a ministra da Economia da Espanha, Elena Salgado, ao jornal britânico Financial Times. “Eles só veem a parte ruim do debate.” Segundo a ministra, um dos problemas é ignorar o ganho dos bancos com os títulos da Alemanha, cujos preços subiram. Ainda que polêmicos ou exagerados, os números reforçam a intenção do FMI de pressionar a Europa por um amplo programa de recapitalização obrigatória dos bancos. Este foi o tema do primeiro discurso de Christine como diretora-geral, no simpósio anual do Federal Reserve, em Jackson Hole, nos Estados Unidos. Lagarde disse que os bancos precisam “urgentemente de uma capitalização” para enfrentar o baixo crescimento na região e a elevação dos riscos soberanos.
A visão parece ser disseminada no setor privado. O banco americano Goldman Sachs calcula a necessidade de capital das instituições europeias em US$ 1 trilhão, o que deve deixar fora de si o pessoal que acha que o FMI havia carregado na mão. A discussão sobre a iminência da crise bancária deve polarizar a próxima reunião anual do FMI e do Banco Mundial, neste mês. Nada é mais importante hoje para determinar as consequências da crise financeira internacional do que saber se haverá uma crise bancária na Europa. Se apenas um grande banco quebrar de maneira inesperada, os prejuízos da crise financeira sobre a economia global podem ser exponenciais, afetando a economia real de maneira mais intensa. Até agora, o nervosismo nas bolsas não interrompeu o crédito internacional, equivalente à corrente sanguínea das economias. Mas isso pode mudar rapidamente se houver desconfiança em relação à solvência do sistema financeiro. É este cenário que os governos europeus parecem não querer ver.