No início da semana estourou no mercado: a Unipar teria feito uma oferta de compra do controle acionário da Suzano Petroquímica, por US$ 300 milhões. A operação agradou aos investidores. As ações subiram. E o desmentido veio em seguida. Por meio de nota oficial protocolada na CVM (Comissão de Valores Mobiliários), a suposta compradora afirmou sem rodeios: “A Unipar não fez proposta para aquisição das ações da Suzano Petroquímica S.A.” Enquanto o outro lado confirmou: “Não recebemos a referida proposta de aquisição.” A negativa está dada, mas tanto uma empresa quanto a outra não fecharam as portas das negociações e, cada qual ao seu jeito, informou, naqueles mesmos comunicados, que avalia oportunidades de integração e consolidação na região Sudeste. Pode ser que Suzano e Unipar nunca cheguem a viver sob o mesmo teto, mas certamente uma nova onda de consolidação no setor petroquímico tornou-se inevitável desde que Ultra, Braskem e Petrobras anunciaram a compra do Grupo Ipiranga, gerando uma concentração inédita no pólo petroquímico do Sul do País. Processo semelhante havia ocorrido em Camaçari, em 2001, quando a Odebrecht e o grupo Mariani adquiriram a Copene e criaram a maior empresa do setor na América latina, a Braskem. Falta agora o pólo do Sudeste, onde Suzano, Unipar, Petrobras e Ultra têm participações significativas, mas nenhuma delas é hegemônica.“O Sudeste precisará se organizar para assegurar a sua competitividade”, afirma Marcos Pereira, analista de mercado do Banco Fator. “E não precisará ser, necessariamente, uma fusão entre as duas empresas em questão, mas só com aumento de escala haverá ganhos na administração do capital de giro, redução das despesas operacionais e aumento da rentabilidade das vendas.”

 

Além disso, Suzano e Unipar ficaram pequenas para o tamanho do jogo no setor. As duas companhias faturam US$ 2,4 bilhões e R$ 2,5 bilhões respectivamente. A Braskem, R$ 12 bilhões. A consolidação, porém, encontrará certos obstáculos. As três petroquímicas do Pólo do Sudeste são controladas por famílias, nem sempre habituadas a dividir o poder em seus negócios.A Unipar, pertencente ao clã de Paulo Fontainha Geyer, morto em 2004, acaba de ter as ações com direito a voto partilhadas pela viúva Maria Cecília Soares Sampaio Geyer, 84 anos, entre os cinco filhos. Os impactos da partilha ainda não estão claros na hierarquia e na rotina da companhia, cujo conselho administrativo é hoje presidido pelo filho do casal, Alberto Geyer. A Suzano Petroquímica, por sua vez, é comandada por David Feffer, membro da família que possui todas as ações com direito a voto da Holding Suzano. E o Ultra tem em seu manche Paulo Cunha, um veterano estrategista do setor. Por isso, a Petrobras pode desempenhar o papel de árbitro entre as partes nesse rearranjo, assim como fez no pólo do Sul, com a participação de seu presidente José Sérgio Gabrielli. A presença da estatal também ajudaria na captação dos recursos necessários para esse redesenho do setor. “Os futuros ciclos de crescimento serão sustentados por menos capital próprio e mais por terceiros”, explica Alexandre Sklo, professor de Planejamento Energético da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). “Com os negócios globalizados, será mais competitivo o grupo com maior envergadura para captar recursos no mercado a menores taxas.”