22/02/2013 - 21:00
Sentado na cadeira de líder do mundo livre, Barack Obama decidiu dar novo rumo, e ânimo, ao comércio global. No tradicional discurso “O Estado da União”, realizado na semana passada diante de congressistas por ocasião do início de seu segundo mandato, propôs a parceria avassaladora: um bloco de mercado comum unindo EUA e Europa, capaz de movimentar mais de US$ 31 trilhões em transações anuais. A ambiciosa proposta do presidente americano não apenas foi recebida com entusiasmo pelos futuros “sócios” como também ganhou contornos concretos e data de estreia, em meados de 2015.
Os europeus, às voltas com sucessivas crises, não veem a hora de colocar em prática o monumental acordo. Para quem está de fora, como o Brasil, trata-se de um alerta importante. A tendência de contratos do gênero para gerar mais e mais negócios multilaterais segue avançando. Vinculado ao Mercosul e restringindo seus esforços de parceria nesse horizonte, o Brasil, além de se envolver num abraço de afogados com poucas chances de retorno, tem perdido oportunidades e relevância em outras praças. Mais grave: está sendo colocado de lado em virtude de sua histórica resistência a entendimentos do tipo e pendor ao protecionismo.
Ficou na memória dos norte-americanos, por exemplo, a rejeição que enfrentaram aqui para a criação da Alca. De lá para cá, seguidos entendimentos bilaterais ocorreram entre latino-americanos e os EUA, sem a participação brasileira. Mais uma aliança nesses moldes vem saindo da fornada através da Parceria Transpacífico, levada a cabo por Obama ao lado de Chile e Peru, entre outros. México e Canadá estão garantidos com o Nafta. América Central e Caribe, com canais de cooperação no mesmo modelo, idem. As autoridades brasileiras precisam perceber que está mais do que na hora de um engajamento na tendência irrefreável.
Ignorar os EUA como porto preferencial é um risco sem tamanho. Com a retomada do crescimento na região eles voltam a assumir mais uma vez o comando do fluxo comercial. E, para quem acha que há um fosso de diferenças a nos separar, observe o que almeja Obama como alternativa econômica para o seu País: na mensagem aos parlamentares, ao pontuar suas conquistas, falou em reforçar o papel da classe média, em montar uma espécie de renda mínima e na criação de seis milhões de empregos. Tudo muito parecido com os objetivos traçados ainda no governo Lula e levados adiante por Dilma. Só falta acertar os caminhos entre as duas nações.