15/12/2010 - 21:00
Foi em dezembro do ano passado que Paulo Castro, presidente do portal de internet Terra, voou até Curitiba, no Paraná, para se encontrar com Guilherme “Gui” Barthel, o fundador do site de downloads Baixaki. Lá, apertou a mão do jovem curitibano, que tem medo de viajar de avião, e selou a transferência do conteúdo que ficava hospedado no rival iG, que pertence a Oi, para o Terra, da Telefônica.
“Queríamos expandir para a América Latina e o Terra nos permitiu isso”
Guilherme Barthel, fundador do Baixaki
Esse lance, aparentemente sem muita importância, provocou uma reviravolta no mercado brasileiro. O iG, até então o terceiro maior portal da internet local, caiu para o quinto lugar em audiência, sendo ultrapassado pelo próprio Terra e pela Globo.com. Foi um tombo e tanto.
O Baixaki, que deixou os seus domínios, era (e ainda é) dono de uma audiência de 12 milhões de internautas, o que o colocava na categoria de principal “puxador” de usuários para o site da Oi. “Queríamos expandir pela América Latina e o Terra (que atua em vários países nessa região) poderia nos permitir isso”, disse Barthel à DINHEIRO.
Essa briga silenciosa movimenta os bastidores dos grandes portais de internet brasileira. Terra, iG e UOL são os principais protagonistas dessa disputa. Eles contam com uma lista de parceiros cujo objetivo é melhorar o seu desempenho entre as empresas que medem a audiência da web local, como o Ibope Nielsen Online e a comScore. Esses rankings são usados por grandes agências de publicidade no Brasil e balizam a decisão de grandes clientes na hora de investir na publicidade online. Quanto maior a audiência, maior a chance de receber uma verba maior dos anunciantes.
“Vejo a disputa entre os grandes portais por novos parceiros como bastante saudável para o mercado de internet brasileiro”, avalia Alex Banks, vice-presidente para a América Latina da consultoria comScore.
Sobe o som: Ana Letícia e Daniel Lafraia, do site de música Vagalume, que saiu do UOL e foi para o iG.
“Trocamos um grande parceiro por uma grande parceria”
A mudança do Baixaki provocou uma grande disputa por esses campeões de audiência. Em geral, são sites que atuam na área de downloads, jogos ou músicas. Com uma grande quantidade de internautas, que chegam até eles por meio de buscas no Google, acabam conquistando um grande poder de barganha na hora de negociar com os grandes portais de internet brasileiros.
Por esse motivo, tê-los debaixo de seus domínios chega a ser estratégico. A reação do iG veio na mesma moeda. A companhia “roubou” o Vagalume, que reúne músicas, letras e jogos, e o SuperDownloads, segundo maior site para baixar programas do Brasil, dois dos principais parceiros do UOL, com audiência conjunta de aproximadamente 8 milhões de internautas.
“Trocamos um grande parceiro por uma grande parceria”, afirma Daniel Lafraia, 32 anos, fundador do Vagalume. O UOL, sem ambos, apoia-se, atualmente, no Click Jogos, que reúne mais de 5 mil joguinhos e conta com 6 milhões de visitantes únicos. O Terra ainda conta com o Letras de Música, que tem uma audiência de 9,6 milhões de pessoas.
Os donos desses campeões de audiência têm histórias semelhantes. São jovens empreendedores que muito cedo desenvolveram um site por diletantismo. Com o crescimento da audiência, conseguiram parcerias com grandes portais.
Os acordos ajudaram a dar mais visibilidade e seriedade ao negócio, abrindo muitas portas. Com isso, eles começaram a ganhar dinheiro com publicidade, a principal fonte de renda desses pequenos empreendimentos digitais.
O Vagalume, por exemplo, nasceu em 2002 como um hobby de Daniel Lafraia e Ana Letícia Torres, casal que à época morava em Atlanta, nos Estados Unidos. Só com a ida para o UOL, em 2004, eles começaram a ganhar dinheiro com o site.
O Click Jogos foi criado por André Diegues quando tinha 16 anos (atualmente ele está com 22). Só agora, com o dinheiro que vem da publicidade, Diegues abandonou o esquema home office improvisado para abrir escritório, que conta com seis funcionários.
O Baixaki segue roteiro semelhante. Barthel, o fundador do site, manteve a operação de 1999 a 2003 sem ganhar um único centavo. O primeiro dinheiro chegou por intermédio de uma parceria com o site de leilões MercadoLivre, apenas em 2003.
A partir daí, decidiu abandonar o trabalho e a faculdade de ciências da computação para se dedicar ao Baixaki. Hoje, a venda de publicidade e os acordos de licenciamento (como o feito com o Terra) geram receitas da ordem de R$ 20 milhões.
Com 85 funcionários, ele criou a empresa No Zebra Network, composta por sete sites, entre eles o Tudo Gostoso, de conteúdo culinário, hospedado no UOL. Em 2007, Barthel recebeu uma proposta de R$ 40 milhões para vender o Baixaki. Não aceitou. “A exigência era que eu não abrisse outro site nunca mais”, alegou. “Sinto prazer no que faço.” Ele quer continuar criando novos campeões de audiência.