Como uma ameaça anunciada, o Brasil sentiu na semana passada o tamanho do impacto que a reclassificação de sua nota por uma agência de avaliação de risco de crédito pode causar sobre a economia. Com a mudança de viés de estável para negativo pela Standard & Poor’s, veio a pororoca. Bolsa em queda, dólar em disparada, empresas desvalorizadas, investimentos despencando.

Às portas do rebaixamento devido à evidente incapacidade de cumprir a meta fiscal estabelecida, o País terá de lutar além dos limites para manter o chamado grau de investimento, que lhe dá crédito nos mercados globais para receber recursos externos. É um teste de fogo para o qual o Governo está colaborando pouco ou quase nada. A presidente Dilma resiste, por exemplo, a qualquer abordagem sobre corte de ministérios e do aparato que lhe cerca. Sacrifícios devem ser impostos aos contribuintes em geral e ao setor privado em especial, aponta ela.

Num encontro com governadores, dias atrás, voltou a culpar a “crise internacional” e a “seca” pelos problemas vividos. Não há, no seu entender, nada de errado com a tal “nova matriz econômica” que implantou ainda no primeiro mandato. O ministro Levy carrega a pesada herança das barbeiragens no gasto público e terá de convencer o mercado de que as mudanças internas são para valer. Há cada vez menos instrumentos nesse sentido. A bagunça administrativa e os sinais de desperdício alastram-se pelos demais ministérios, enquanto a receita encolhe por culpa e obra de uma recessão forjada no descontrole inflacionário e na subida imoral dos juros, que aniquila o financiamento do parque produtivo.

Entre os emergentes, o Brasil lidera as apostas dos analistas para sofrer o rebaixamento – antes mesmo da Turquia e da África do Sul. O problema do Tesouro passou a ser um déficit estrutural, que não se resolve mais com um mero ajuste. Sem o atestado de bom pagador, o Brasil tende a passar por maiores dificuldades para rolar sua dívida pública, num efeito cascata que pode travar as chances de retomada de crescimento no médio prazo. Essa possibilidade, aliás, já está sendo revista pelos observadores que agora acreditam que ela só ocorrerá em 2017. Até lá, a menos que uma guinada mais consistente ocorra, o PIB deve recuar 2,5% neste ano e outro tanto no próximo. A luz no fim do túnel ainda não está visível.

(Nota publicada na Edição 927 da Revista Dinheiro)