10/12/2008 - 8:00
COMPRE AÇÕES NA BAIXA e venda na alta. Essa velha lição do mercado acionário finalmente parece ter sido colocada em prática pelo pequeno investidor brasileiro, acostumado a pagar o pato quando as bolhas especulativas estouram. Em outubro, considerado pelo Escritório Nacional de Pesquisa Econômica dos Estados Unidos como o fundo do poço na crise financeira mundial, as pessoas físicas bateram o recorde de negócios na BM&FBovespa. Foram 4,165 milhões de transações, bem acima dos 3,344 milhões de maio, quando a euforia tomou conta do mercado com a ascensão do Brasil a grau de investimento e o Ibovespa fechou no pico histórico de 73.920 pontos. A participação do investidor de varejo no volume total alcançou 15,1%, a maior da história da bolsa desde o lançamento da plataforma de transação home broker, que permite comprar e vender ações pela internet. Em novembro, as pessoas físicas superaram os investidores estrangeiros, com 34% do giro financeiro, um desempenho que não se repete desde 1994. Mas, afinal, por que elas estão comprando?
A empresária Mônica Rabelo, 40 anos, continua com sua estratégia de investimento: aumentar, aos poucos, sua carteira de ações. Desde 2002, quando comprou seus primeiros papéis de Vale e Petrobras, ela vem consistentemente acessando sua conta no home broker e comprando entre R$ 1 mil e R$ 3 mil ao mês. A crise global fez Mônica olhar com cautela para a economia doméstica, mas ela não mexeu nos seus investimentos. “Investi mais na bolsa e procurei as pechinchas”, afirma. Em outubro, aproveitou para engordar seu portfólio. Comprou papéis de Souza Cruz, Usiminas e Vale. Ao perceber que o quadro de desvalorização das ações persistia em novembro, aumentou o montante para R$ 3,5 mil e arrematou Petrobras e Transmissão Paulista. “O pequeno investidor adquiriu maturidade e entendeu que deve comprar ações no momento de baixa”, analisa Roberto Lee, diretor da Win, serviço de home broker da Alpes Corretora, a quinta entre as maiores em volume de negociações (veja tabela).
A tão aguardada maturidade pode ser percebida em atitudes como a de Guilherme de Lucca, 30 anos. Ele formou uma carteira de ações em dezembro de 2007 e a valorização chegou a 12% antes de junho. De lá para cá, sua aplicação encolheu, chegando a 40% do valor inicial. Com o dinheiro da venda de um imóvel em mãos, De Lucca foi em busca de informações e orientação de profissionais de mercado. A primeira decisão foi dividir R$ 50 mil em lotes para comprar mais ações, aos poucos. Desde outubro, começou a formar sua nova carteira com Petrobras, Vale, Usiminas, Bradesco, Itaú e Itaúsa. “Investi em companhias tradicionais porque estão cotadas abaixo do que realmente valem”, diz ele. “Muitos investidores amadureceram, avaliaram que estava caro para entrar na bolsa e esperaram para fazer suas posições”, confirma Roberto Lombardi, presidente da Interfloat Corretora.
O apetite do pequeno investidor nesse momento difícil do mercado surpreendeu as corretoras. A necessidade de investimentos na melhoria tecnológica do home broker foi reforçada. “O usuário quer qualidade. Se a ferramenta estiver ruim, ele muda de home broker”, afirma Lee. A troca de informações e a atualização acontecem a cada nova cotação, a cada ordem disparada. A Win calcula em cinco milhões as trocas de dados por dia. Com a competição se acirrando pelo investidor que compra de casa, a Corretora Souza Barros prepara o lançamento de seu novo site em dezembro. Para fevereiro, será entregue um sistema para o usuário semelhante ao de um operador de pregão. Ao todo, foi investido R$ 1 milhão no projeto. “Os sistemas precisam ficar mais rápidos e eficientes a cada dia para carregar uma simples cotação ou fazer operações de day trade”, diz Luiz Barroso, gerente de varejo da Souza Barros.