24/02/2005 - 7:00
Christo e Jeanne-Claude, irreverentes artistas plásticos, já embrulharam Deus e o mundo. Puseram panos coloridos na Pont Neuf, em Paris, no Reischtag de Berlim e num grupo de ilhotas na Flórida. Campeões de marketing, ao expor seus trabalhos em grandes monumentos, desta vez atacaram o Central Park, em Nova York. Na semana passada, o parque de Manhattan amanheceu coberto com 7,5 mil bandeiras de cor laranja ? ou açafrão, como ressalva Jeanne-Claude. Sustentadas por arcos de vinil com mais de 5 metros de altura, as bandeiras trilham 36,8 quilômetros entre o verde queimado do inverno, formando um curioso corredor. O nome da obra: ?The Gates?, ou ?Os Portões?. A explicação: ?Formam um teto dourado formando sombras quentes?, diz Christo, de origem búlgara. ?E escolhemos fevereiro porque esse é o único mês do ano em que tínhamos a certeza de que as árvores do parque estariam peladas e de que nós poderíamos ver os portões cor de açafrão bem de longe.?
O mérito do treco como obra de arte talvez produza mais pano para manga que o pano utilizado na invenção. Mas há uma certeza: ?Os Portões? é um tremendo negócio. O casal de artistas, que esperou 26 anos para inaugurar o trabalho, pôs US$ 20 milhões do próprio bolso. Estima-se que, até o próximo dia 27, quando então serão desmontados, ?Os portões? atraiam cerca de 200 mil pessoas, com receita estimada, para o turismo local, num mês frio, de US$ 80 milhões. E como nos Estados Unidos tudo é bom motivo para fazer dinheiro, deu-se a deixa para os oportunistas. O luxuoso Hotel Carlyle, nas cercanias, criou um pacote para turistas. Cobra US$ 6 mil por apenas duas horas, com direito a 25 pessoas e vista privilegiada do parque. O Mandarim Oriental Hotel empresta binóculo a quem quiser pagar US$ 1.050 pela noite numa suíte de andar alto. Isso sim é que é capitalismo.