A rotina de Sérgio Alfano, diretor financeiro da Klabin, é duríssima. Ele chega ao escritório às oito da manhã e dificilmente sai antes das oito da noite. Alfano confere de perto a receita, as despesas e a produção. 

 

Fica permanentemente atento aos humores do câmbio e dos juros. A Klabin tem ações negociadas em bolsa, por isso parte da sua jornada é dedicada a reuniões com bancos de investimento e analistas de mercado, no Brasil e no Exterior. “O Brasil está sendo muito bem visto lá fora. 

 

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Nakagome, da Ecorodovias: após a abertura de capital, a 
empresa quer investir R$ 3 bilhões e a maior parte já está no caixa

 

Por essa razão, temos de estar sempre na vitrine”, diz Alfano, 58 anos, há 36 na Klabin. “É preciso matar um leão por dia.” Apesar da jornada extenuante, ele e outros diretores financeiros estão muito mais confortáveis do que há alguns anos. No passado, eles tinham de cortejar os bancos para ter crédito. Hoje, com as empresas abarrotadas de dinheiro, eles definem a agenda.

 

Os diretores financeiros são hoje os homens mais importantes do Brasil corporativo. “O papel deles é garantir a solidez e o crescimento sustentável das companhias e sua importância cresceu”, diz  Rodrigo Kede, presidente do Instituto Brasileiro de Executivo de Finanças (Ibef) e diretor financeiro da IBM América Latina. 

 

“As empresas nunca tiveram um caixa tão confortável”, diz. Um levantamento feito com as 54 maiores empresas abertas mostra que elas possuem R$ 226 bilhões em caixa. Desse grupo, 15 poderiam pagar todas as dívidas de curto prazo com o caixa e ainda sobraria dinheiro. É o caso da OGX Petróleo, a empresa mais líquida do mercado. Seu caixa equivale a 820% das dívidas. Procurada, a OGX não atendeu a reportagem.

 

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Rodrigo Alves, da Gol

 

As fontes desse dinheiro variam. Podem ser as aberturas de capital, a renegociação de dívidas e a preparação para expandir as atividades. É o caso da fabricante de motores Weg, que possui R$ 2,4 bilhões no caixa. 

 

“Temos uma cultura de crescimento e precisamos de um caixa robusto”, diz o diretor financeiro Laurence Gomes. “Há muitas oportunidades disponíveis”, diz Gomes. 

 

Discreto, o gaúcho de 40 anos é econômico nos comentários sobre seu dia a dia. A mesma discrição é seguida por Ronald Seckelmann, da Usiminas. A siderúrgica prepara investimentos de R$ 11,9 bilhões em siderurgia e mineração nos próximos quatro anos. 

 

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Laurence Gomes, da Weg

 

Para isso, ela mantém R$ 3,9 bilhões em caixa. “Isso vai permitir à Usiminas concluir os investimentos sem problemas”, diz ele. Outras empresas montaram seu caixa a partir de aberturas de capital, caso da Ecorodovias, que explora, entre outras, a Rodovia dos Imigrantes, em São Paulo. 

 

Parte considerável do R$ 1,03 bilhão veio da oferta pública, em março deste ano. “Podemos investir até R$ 3 bilhões em novos negócios e boa parte deles será coberta pelos recursos disponíveis”, afirma o diretor Roberto Nakagome. 

 

Em outros casos, o caixa foi reforçado por um regime duríssimo de redução das dívidas, caso da Hypermarcas. O diretor financeiro Martim Prado Mattos teve um ano movimentado. Em abril, ele administrou a segunda emissão de ações da empresa, de R$ 1,2 bilhão. 

 

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Sérgio Alfano, da Klabin

 

Em seguida, duas emissões de debêntures, uma de R$ 651 milhões em agosto e outra de R$ 1,1 bilhão em outubro. Tanto capital pagou a compra da NeoQuímica e preparou a companhia para novas compras. “Fizemos um esforço bem-sucedido para alongar o prazo e reduzir o custo do endividamento”, diz Mattos.

 

A boa gestão do dinheiro é crucial para que a companhia funcione bem. “Empresas com caixa reforçado geram valor para o acionista, especialmente no setor aéreo”, diz Rodrigo Macedo Alves, da Gol. “Negociar com fornecedores fica muito mais fácil.” 

 

Na companhia, há R$ 1, 76 bilhão disponível, que funciona como proteção para os momentos de aperto. Uma alta do petróleo, dos juros, ou uma desaceleração da economia são desastrosas para as companhias aéreas. “Esse dinheiro garante que a Gol não terá problema em honrar seus compromissos financeiros por pelo menos quatro meses”, diz Alves.

 

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Os executivos financeiros continuam a ser xerifes dos números, mas agora ganharam mais funções e  se tornaram o braço-direito dos presidentes. “As companhias estão crescendo aceleradamente e sua gestão está cada vez mais complexa”, diz Kede, do Ibef.  

 

“Hoje, nenhuma aquisição ou investimento significativo deixa de passar por eles.” Não por acaso, esses profissionais bem remunerados (o ganho mensal, incluindo bônus, pode chegar a R$ 120 mil em uma empresa de grande porte) vêm se tornando os candidatos mais fortes para substituir o presidente da companhia, diz Mário Custódio, especialista em recrutamento da Robert Half. 

 

“Antes, os profissionais da área comercial ou de marketing eram os favoritos na sucessão, mas o diretor financeiro conhece melhor a empresa”, diz. Os exemplos vêm se tornando mais frequentes. Em março, Enéas Pestana foi escolhido o novo presidente do Grupo Pão de Açúcar. 

 

O mesmo ocorreu com Britaldo Soares, que assumiu a presidência da AES Eletropaulo em 2007. A nova aposta do mercado é José Rogério Luiz, diretor financeiro da Totvs. “Ele costurou as aquisições que formaram a Totvs e está preparado para chefiar a companhia”, diz um experiente profissional do mercado financeiro.