20/10/2022 - 10:50
ZachXBT é um pesquisador independente que alertou em agosto passado sobre o roubo de milhões em criptomoedas por um grupo de golpistas na França. Inesperadamente, seu alerta deu resultado.
Sob o título de “Golpistas em Paris”, sua investigação foi atendida pela polícia, que anunciou na semana passada a prisão de cinco jovens cibercriminosos.
Suas pesquisas geraram uma intervenção policial pela primeira vez, garante ZachXBT em mensagem à AFP.
ZachXBT, que não revela sua identidade para continuar com seu trabalho, rastreou redes sociais e plataformas de criptomoedas e, com isso, revelou fraudes e invasões no valor de cerca de US$ 250 milhões.
O “ciberdetetive” possui 300.000 seguidores no Twitter, onde detalha suas investigações passo a passo.
O principal problema deste tipo de invasão digital é sua relativa insignificância quando comparada com grandes golpes de grupos criminosos ou apoiados por Estados.
Ciberataques terroristas e lavagem de dinheiro são os focos prioritários para as autoridades na Europa e nos Estados Unidos.
Como resultado, segundo o Departamento de Justiça dos EUA, apenas oito pessoas foram acusadas por pequenos golpes relacionados a criptomoedas durante o primeiro semestre no país.
A celebridade Kim Kardashian foi recentemente multada em US$ 1,26 milhão por impulsionar uma criptomoeda no Instagram sem revelar que havia sido paga para isso.
Sem dados oficiais
Especialista em rastrear este tipo de crime e vender seu serviço para instituições privadas e agências públicas, como a polícia de Nova York, a empresa Chainalysis confirma que os golpes e os roubos representaram mais de US$ 3,5 bilhões entre janeiro e julho.
A AFP pediu aos departamentos e autoridades europeias e americanas dados globais sobre crimes cibernéticos relacionados às criptomoedas, mas não obteve sucesso.
O ex-chefe da polícia de Nova York, Terry Monahan, explicou em um recente simpósio da Chainalysis que, antes de deixar seu cargo no ano passado, o número médio de denúncias envolvendo criptomoedas era três por dia.
Como não possuíam meios para investigá-las, os casos eram arquivados.
“A vítima não tinha para onde ir”, reconheceu o ex-chefe de polícia. As agências federais americanas só estavam interessadas em casos milionários.
Pequenos investidores acabam buscando ajuda de “ciberdetetives”, profissionais como ZachXBT.
“Eu diria que há pouca perseguição policial no espaço criptográfico”, afirma o investigador.
A China está particularmente relutante em suas demandas de colaboração.
Pouco a pouco as autoridades, principalmente dos EUA, estão percebendo o nível das fraudes.
Recentemente explodiu o escândalo Celsius, um credor de criptomoedas que faliu e deixou um prejuízo de US$ 4,7 bilhões de dólares.
Pensionistas perderam suas economias, agricultores perderam suas propriedades, pequenos investidores foram totalmente arruinados.
Mas nem tudo é sombrio: empresas como Chainalysis possuem tecnologia que permite recuperar parte dos fundos, assegura Monahan.
“Pelo menos conseguimos devolver algo” para as vítimas, explica.
Segundo Omid Malekan, professor da Universidade de Columbia, existem ferramentas cada vez mais sofisticadas para desmascarar os cibercriminosos, apesar do anonimato que prevalece no mundo criptográfico.
“Uma vez que um participante é identificado”, explica o especialista, “todo seu histórico na blockchain (cadeia informática onde cada transação é registrada) é convertido em uma valiosa fonte de dados para rastrear toda a sua rede”.