01/02/2012 - 21:00
Como caixa de ressonância do pensamento global, o Fórum Econômico de Davos vem perdendo prestígio e relevância há anos. Nas últimas edições, foi incapaz de desenhar cenários realistas e prever ameaças como a crise vivida hoje na Europa. Os rumos do capitalismo, mesmo assim, seguem como prato principal de seus saraus de debates. E para um mesmo ponto, ao menos, Davos e os principais organismos financeiros internacionais convergem agora: estão em sintonia quando apontam que chegou o momento de decisão para a Europa. Enquanto ocorriam as discussões nas salas do aprazível recanto suíço, o FMI decretou um corte radical em suas previsões de crescimento da região. As agências de risco rebaixaram notas de nove países europeus.
E Davos, para não ficar atrás, expressou um pessimismo – de empresários, autoridades e especialistas presentes – como há muito não se via. O que precipita a onda de temor é o grande teste de fôlego financeiro que o continente terá de enfrentar logo adiante, em março próximo, quando vencem nada menos que E 87 bilhões em títulos da dívida do Mercado Comum. Será um momento crítico, em especial para Grécia, Portugal e Itália. E o comportamento desses parceiros dará a cadência de melhora ou piora do quadro. Muito provavelmente a saída grega, para ficar em apenas um caso, não será de longo prazo, e a nação voltará a viver apertos logo adiante. Mas Davos, FMI e mesmo os países fora do eixo pregam uma alternativa concreta diante do inevitável.
Todos começaram a falar em bases novas para o capitalismo, valorizando o papel e a ação dos chamados emergentes como o Brasil. O caminho pressupõe relevância de decisão desses protagonistas nas mesas de reunião dos organismos multilaterais. Mas as grandes potências ainda resistem a ceder espaço. De pires na mão, a própria diretora-geral do Fundo, Christine Lagarde, empreendeu recentemente uma cruzada solitária visitando possíveis contribuintes para o bolo de empréstimos. O Brasil entrou na rota e se desviou de compromissos mais firmes. Alegou outras prioridades. É uma constante nesses encontros. Ninguém quer se comprometer além do estritamente necessário, temendo a contaminação. Davos, mesmo assim, descartou a hipótese de uma moratória coletiva. Resta saber se, desta vez, os oráculos do Fórum vão errar de novo.