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REFLEXOS: exportação da indústria cresce apoiada na América Latina, mas agricultores temem queda na demanda da Ásia e Europa

Agangorra dos mercados financeiros, provocada pela crise de crédito nos Estados Unidos, começa a ter seus primeiros impactos na economia brasileira. A balança comercial fechou a terceira semana de janeiro com o pior desempenho da história – saldo de US$ 1 milhão. Se a conta for do acumulado do ano, o resultado será igualmente grave, com queda de 84,3% em relação ao mesmo período do ano passado e US$ 395 milhões de saldo. Os analistas que apregoavam o descolamento da economia brasileira começam a rever suas posições. “Não é verdade dizer que o País está blindado”, afirma a professora de economia da FGV-RJ Nora Raquel. “Os Estados Unidos são os maiores compradores do Brasil. Não há como passarmos incólumes por uma recessão.” A economia americana representa 26% do PIB mundial e absorve 17,8% dos embarques brasileiros. Sem dimensão da profundidade da crise, os exportadores observam o movimento das bolsas de valores, torcem para que a crise seja rápida e, enquanto isso, ancoram-se no mercado interno para continuar a expandir os negócios.

Dentre os setores que puxaram as exportações brasileiras no ano passado, o agronegócio está em alerta. Os preços das commodities fecharam a quarta-feira 23 com forte queda pelo segundo dia consecutivo. “Se a recessão for séria, pode gerar um efeito dominó com crise na demanda da Europa e Ásia, provocando uma queda nos preços das commodities”, avalia o ex-ministro da Agricultura Roberto Rodrigues. Para ele, no entanto, o momento é de observação e não de pânico. Concorda com Rodrigues o presidente da Abicalçados, Heitor Klein. O setor, que já teve 12% do mercado americano de calçados importados, luta para manter os atuais 5%. “Em 2006 vendemos 65 milhões de pares para os Estados Unidos, em 2007 foram 50 milhões. Para este ano, é difícil estimar, mas será menos”, lamentou Klein. “A tendência é de deterioração da balança comercial, com saldo de US$ 30 bilhões”, estima o professor da PUC Antônio Lacerda. Os mais pessimistas prevêem US$ 20 bilhões, a metade do valor realizado em 2007.

Diante dessa perspectiva, há um lado positivo. Com a importação em alta, aumentará a pressão sobre a moeda brasileira, que tende a desvalorizar. “O câmbio pode ajudar a compensar a queda da demanda”, diz o professor da FGV Ricardo Araújo. É nisso que aposta Renato Sarzano, da Pneus Continental. A fábrica da empresa, construída para ter 90% da produção exportada, hoje embarca 70%. “Não vamos crescer, mas manteremos as nossas exportações.” Os outros 30% são absorvidos pela forte demanda do setor automotivo. “O mercado doméstico está sustentando as vendas”, diz Rogelio Golfarb, diretor da Ford. A montadora exporta 30% da produção, a maior parte para a América Latina, região que no passado era a vítima certa de uma crise como a atual, mas que hoje é vista como uma ilha de respiro em meio ao desespero dos mercados globais.