Em vídeo, Steinbruch dá mais detalhes sobre suas apostas para o Brasil

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 DINHEIRO ? Como o sr. enxerga a economia brasileira? 

BENJAMIN STEINBRUCH ? O momento é excepcional, com uma convergência de fatores positivos internos e externos. Do ponto de vista externo, o Brasil lucra por ser um grande produtor de matérias-primas, com a China comprando tudo o que se produz no mundo. Em relação ao mercado interno, com a inclusão de 30 milhões de consumidores que vieram da pobreza, junto com 20 milhões de pessoas assistidas por programas sociais, formamos uma massa de consumidores que equivale a uma Espanha ou seis vezes Portugal. Essa gente entrou no mercado comprando seu primeiro bem. A primeira geladeira, o primeiro carro, a primeira televisão. E o crédito fez uma espiral positiva na economia. Mais consumo, mais emprego, mais renda e, de novo, mais consumo. 

 

DINHEIRO ? Uma situação inédita?


STEINBRUCH ? O Brasil se equilibrou pela primeira vez em torno de si mesmo. Eu nunca tinha visto o Brasil se viabilizar para si e não para terceiros. Não para a exportação ou em função de financiamentos do Fundo Monetário Internacional ou do Banco Mundial. Foi um movimento contrário. Hoje, o País é o primeiro a comparecer como doador do FMI.

 

DINHEIRO ? O sr. enxerga algum risco? 


STEINBRUCH ? Não. O Brasil é um dos poucos países hoje que podem pretender se viabilizar economicamente no médio e longo prazo. É claro que vai depender da gente. Mas acho que está tudo sendo feito para que atinjamos o objetivo.

 

DINHEIRO ? A taxa de juros ainda não é uma distorção? Especialmente agora que se constata que a inflação continua baixa?


STEINBRUCH ? Eu critico a política de juros há muito tempo. Claro que todos nós queremos ter a inflação controlada. Por outro lado, temos que ter um pouco mais de ousadia e coragem. O Brasil nada mais é que um povo ávido por consumo, numa situação de equilíbrio macroeconômico. Devíamos dar a chance de o Brasil crescer um pouco mais. 

 

 

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“A China já comprou a África e agora quer o Brasil. É preciso ter cuidado”

Hu Jintao, presidente da China

 

 

DINHEIRO ? Por que isso não acontece?


STEINBRUCH ? Olha, essa é a primeira vez que a minha geração tem a possibilidade de saber o que é crescimento. Hoje, tenho 57 anos. E comecei a trabalhar com meu pai antes mesmo dos 18 anos. Nunca vi um cenário como o atual.

 

DINHEIRO ? O crescimento no Brasil pode durar dez ou 20 anos?


STEINBRUCH ? Sim. A gente tem todas as condições para isso. Se nós vamos aproveitar ou não, não sabemos. Sempre ouvi que o Brasil era o país do futuro. Isso é passado. Hoje, o Brasil é o país do presente. Não tem como dizer o contrário. Está todo mundo vindo para cá. Todo mundo querendo investir. Só que muitos empresários brasileiros ainda não acordaram para a dimensão do novo Brasil.

 

DINHEIRO ? O nível de câmbio atual é um problema?


STEINBRUCH ?A gente tem que tomar cuidado. Todos sabem da dificuldade de se exportar com um câmbio valorizado. O País está se alijando das exportações e facilitando muito a importação. E, como o Brasil tem um mercado interno forte, as empresas de fora jogam aqui todos os seus excessos de produto, o que pode desestruturar todo o nosso setor produtivo.

 

DINHEIRO ? Mas mexer na política de câmbio não seria ruim para a imagem do Brasil?


STEINBRUCH ? Não é preciso mexer no câmbio. Se baixássemos os juros, muito provavelmente a moeda se desvalorizaria. Existem dois tipos de capital: o especulativo, que busca rendimento de curto prazo, e o de investimento, que gera emprego. Esse último, não tem problema. Pode deixar entrar à vontade. O outro é problemático.

 

DINHEIRO ? O real forte não ajuda a combater a inflação?


STEINBRUCH ? Não há esse risco. Com o excesso de oferta e a ociosidade que existe no mundo, a qualquer momento se importa qualquer coisa.

 

 

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“A CSN pode ser dividida em cinco novas empresas”

Usina da CSN

 

 

DINHEIRO ? Como o sr. vê os gargalos da indústria? 


STEINBRUCH ? A indústria ainda não está no limite. Não temos nenhum setor que atingiu a plena capacidade.

 

DINHEIRO ? O nível de investimento atual é adequado para a economia brasileira?


STEINBRUCH ? O País vai ter que investir mais. Nós, empresários, ainda não temos a exata noção do que é o novo Brasil. Ainda não aprendemos a conviver com essa situação de forte crescimento. Somos novatos nesse tipo de economia. E precisamos de investimentos massivos em todas as áreas.

 

DINHEIRO ? E o papel do BNDES, que tem sofrido tantas críticas?


STEINBRUCH ? O Brasil, para ser forte, para ser líder e para ser como a gente gostaria que fosse, precisa ter empresas fortes. Para ter empresas fortes, nós precisamos ter o suporte do governo. Conversei isso com o presidente Lula e temos o mesmo pensamento. Nesse sentido, o BNDES tem sido fundamental para a internacionalização das empresas e o Luciano Coutinho só merece aplausos pelo trabalho que tem feito.

 

DINHEIRO ? Tem havido repasses muito grandes do Tesouro ao BNDES, um dinheiro que, de certa forma, é subsidiado. Há favorecimento excessivo?


STEINBRUCH ? O setor empresarial tem que ser favorecido, para  que as empresas possam concorrer em situação igual. Hoje, em nível internacional, o investimento no Brasil é caro. Os juros aqui são desproporcionais. Eu não teria vergonha em falar de subsídio para investimento. Mesmo porque é uma necessidade. O investimento traz emprego e renda. Então, a gente tem que cultivar o investimento. E o BNDES é a instituição que tem esse papel. Tudo o que for feito para atrair investimento, a gente tem que cultivar, não criticar. Na verdade, hoje só o BNDES está fazendo isso. Em outros países, há vários bancos que exercem esse papel. 

 

DINHEIRO ? Talvez se a taxa de juros fosse menor, o papel do BNDES não fosse tão relevante, concorda?


STEINBRUCH ? Existe uma distorção do custo financeiro aqui, tanto de capital de giro quanto de investimento. O governo, então, deve favorecer o investimento com os instrumentos que possui. 

 

 

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“O Brasil incluiu 50 milhões de pessoas no mercado de consumo. É uma Espanha”

Consumidores das classes C e D no Brasil

 

 

DINHEIRO ? Mas não existe um custo fiscal com essa taxa de juros subsidiada? 


STEINBRUCH ? Não existe custo fiscal. É investimento. Custo fiscal é o que tem sido feito na Europa e nos EUA para levantar a economia. Isso é custo fiscal. Aqui, é estímulo ao crescimento. 

 

DINHEIRO ? E a infraestrutura? Vai dar tempo de fazer todos os investimentos necessários antes da Copa e da Rio-2016?


STEINBRUCH ? O Brasil é um país fantástico e há tudo por fazer. Onde você olha, tem necessidade de investimento. Isso é ótimo. Na Europa e nos Estados Unidos, já não há onde colocar o dinheiro. Acho que conseguiremos fazer tudo a tempo. Ainda sofremos com a questão da burocracia, que é uma coisa que vem de muito tempo. Poderíamos até voltar com o Ministério da Desburocratização. O Brasil é um país complexo em termos de investimentos, de leis para o investimento. Tudo é complicado. Mas estamos vencendo essa parte e vamos conseguir. 

 

DINHEIRO ? Mas as coisas estão acontecendo de forma lenta, não?


STEINBRUCH ? É que é demorado. Até a gente se convencer daquilo que a gente é, vai demorar um pouquinho. O Brasil está melhor do que a gente pensa. Nós estamos lentos no sentido de iniciar esse processo de investimentos. Mas não é por mal. É que não estávamos acostumados com esse tipo de situação. 

 

DINHEIRO ? Como o sr. vê o Brasil atravessar um processo eleitoral sem turbulências?


STEINBRUCH ? A gente não está acostumado à normalidade. Teoricamente tem que ser assim sempre. A eleição vem, é um processo normal e democrático, que não pode e não deve afetar a economia.  

 

DINHEIRO ? Existe algum risco político no Brasil, como uma onda estatizante?


STEINBRUCH ? Não, não. É muito difícil o retrocesso. É claro que cada candidato, cada partido, tem o seu perfil, sua filosofia de trabalho. Mas eu não vejo risco algum.   

 

DINHEIRO ? E se, no novo governo, mudar a política do BNDES?


STEINBRUCH ? O BNDES tem de ser desenvolvimentista. Seja tucano, seja petista ou verde. A função do BNDES é essa, em qualquer tipo de governo. Ou seja, o banco precisará continuar na busca contínua do investimento.  

 

DINHEIRO ? Qual a sua leitura dessa pressão do Estado sobre as empresas, como no caso da cobrança do governo para que a Vale entre com mais força na siderurgia? 


STEINBRUCH ? Eu já fui presidente da Vale. A gente tem que entender direito essa pressão. Tem que ver se ocorreu de algum comprometimento que veio de alguma conversa. Tem que ver o que foi conversado entre eles. O governo não estaria cobrando em cima de nada. Eu não conheço as conversas entre eles e não quero julgar. Acho difícil o governo exigir algo aleatório de uma companhia, sem que exista algo por trás.

 

DINHEIRO ? Como empresário do setor siderúrgico, o sr. defende que o Brasil continue como grande exportador de commodities ou mais de produtos acabados?


STEINBRUCH ? Quanto maior valor agregado, melhor. Agora, valor agregado é investimento. E isso não precisa o governo fazer. Se tiverem as condições apropriadas, as empresas investem. O que gostaríamos de ver é um setor produtivo privado bastante investidor e um governo mais legislador, que cobra. 

 

DINHEIRO ? O sr. sempre foi muito voltado para as próprias empresas, seja na Vicunha, seja na CSN, e agora tem um papel mais institucional, na Fiesp. O sr. se sente à vontade nesse novo papel?


STEINBRUCH ? À vontade eu não estou. Estou aprendendo uma coisa que eu nunca tinha feito. Mas eu tenho muita humildade para dizer que eu não sei e quero aprender. É uma coisa diferente. Eu sempre trabalhei para dentro e agora trabalho para fora. Isso requer uma postura diferente. Mas nada que seja impossível.

 

DINHEIRO ? Qual é o atual papel da Fiesp no desenvolvimento?


STEINBRUCH ? Todas as grandes empresas estão representadas na Fiesp. Então nós temos aqui não só as empresas paulistas, nós temos o empresariado nacional.  

 

DINHEIRO ? O sr. pretende entrar em causas nacionais, assim como fez Paulo Skaf na briga contra a CPMF?


STEINBRUCH ? É claro que sim. O que é bom para o Brasil é bom para a Fiesp. Nós temos uma visão nacional, não uma visão paulista. Nós temos um olho olhando o Estado de São Paulo e outro olhando o País.   

 

DINHEIRO ? E o Benjamin, tem um olho olhando a CSN e outro a Fiesp?


STEINBRUCH ?  O Benjamin tem meio período na CSN e, depois, o que precisar na Fiesp. Eu começo todas as manhãs na CSN, falo com todos os diretores da empresa até as 13h30, e sigo para a Fiesp. A CSN é uma empresa muito grande, está com muitos investimentos e precisa de acompanhamento. 

 

DINHEIRO ? Qual é o investimento?


STEINBRUCH ? São R$ 35 bilhões. Nós trabalhamos, basicamente, em cinco áreas: siderurgia, mineração, cimento, infraestrutura e logística e energia. Na área de minério de ferro, estamos saindo de 20 milhões de toneladas ao ano para 110 milhões de toneladas por ano. A ideia é que a empresa seja composta de cinco empresas separadas, cada uma em um setor específico.        

 

DINHEIRO ? E todas podem ser levadas ao mercado de capitais?


STEINBRUCH ? Todas podem ser levadas. Na siderurgia, estamos aumentando a produção em aços longos de 6 milhões para 7,8 milhões de toneladas. Estamos também construindo a ferrovia Transnordestina. Vamos estar em Salgueiro, em Pernambuco, no dia 17, para inaugurar a maior fábrica de dormentes de concreto do mundo. Estamos colocando na obra mil pessoas por mês. 

 

DINHEIRO ? Na mineração, o sr. vê algum risco de desnacionalização?  


STEINBRUCH ? Não é um risco. Está acontecendo. A China comprou a África. E a China está querendo comprar o Brasil. Se deixar, eles compram.

 

DINHEIRO ? Então, é preciso avisar o Eike Batista sobre isso. 


STEINBRUCH ? Na verdade, existem diversos perfis de empresários. O Brasil precisa ser formado por pensadores de médio e longo prazo. E, sob essa ótica, é muito ruim que o Brasil perca ativos importantes para o capital estrangeiro. 

 

DINHEIRO ? O governo deveria agir?


STEINBRUCH ?
Se não tivermos cuidado, podemos acordar da noite para o dia sem algumas joias da coroa.

 

DINHEIRO ? A CSN já é uma multinacional, mas teve a oportunidade de ser maior, fazendo aquisições. No entanto, bateu na trave. O sr. se arrepende de algum negócio não feito? 


STEINBRUCH ? Eu não me arrependo porque fizemos aquilo que era racional. No caso da inglesa Corus, nós tínhamos mais dinheiro para dar o lance. Mas nós paramos onde achamos que devíamos. E um empresário tem a obrigação de ser racional. Eu tinha muita vontade de comprar a Corus. Muita mesmo e foi uma coisa muito frustrante o fato de eu ter parado, mesmo podendo dar mais. 

 

DINHEIRO ? Haverá outra chance? 

STEINBRUCH ? Tentamos várias outras vezes. Mas fomos até o limite da razão.Hoje, continuamos de olho. Uma hora vai dar certo.