08/06/2005 - 7:00
“Quero trazer Rudolph Giuliani de Nova York para falar sobre segurança no Rio”
“Nomes como o de Armínio Fraga somam na direção da unidade do Rio”
DINHEIRO ? Que projeto conseguiu reunir tantos empresários de peso em torno de sua candidatura à presidência da Associação Comercial?
OLAVO MONTEIRO DE CARVALHO ? Todos nós queremos fazer alguma coisa pelo Rio de Janeiro. As iniciativas eram um pouco dispersas, não havia coordenação. Com a minha vinda para a Associação Comercial, acho que meus colegas identificaram um instrumento que pode servir para congregar diferentes correntes e fazer disso aqui uma casa de debates e estudos técnicos para apresentar sugestões e contribuições aos três níveis de governo: estadual, municipal e federal. Eu pessoalmente acho que o nosso maior desafio é fazer com que esses três vetores convirjam para um mesmo interesse.
DINHEIRO ? Dá para imaginar isso acontecendo hoje?
OLAVO ? Existem determinadas áreas em que os interesses ainda não são coincidentes. Infelizmente, existe ainda uma certa disputa política por áreas de influência, que não permite que se pense em soluções concretas a curto prazo. Mas eu tenho muita esperança de que, reunindo uma representação tão forte de empresários, nós possamos ter adesão de todos os órgãos representantes. Estão comigo homens que já provaram seriedade, competência e compromisso com o País. Nomes como o de Armínio Fraga, por exemplo, só somam na direção da unidade do Rio, jamais dividem.
DINHEIRO ? Numa visão empresarial do Rio de Janeiro, qual é a prioridade?
OLAVO ? Nós temos como primeira bandeira restabelecer a auto-estima do carioca e fazer o Rio de Janeiro voltar a ser a grande vitrine internacional do Brasil. Tudo começa pelo Rio de Janeiro, não é isso?
DINHEIRO ? O empresariado redescobriu a cidade?
OLAVO ? Grupos como Vale, Thyssen, Volkswagen, Gerdau, Michelin e todo o pólo gás-químico estão fazendo grandes investimentos. O grupo Ultra, junto com a Petrobras, está estudando estabelecer aqui dentro do Rio de Janeiro uma central petroquímica, na Baia de Sepetiba. O que nós sentimos é que os grandes grupos já identificaram que o Rio de Janeiro é, por uma série de razões, um Estado que apresenta condições muito competitivas para novos investimentos. O que está faltando no meu entender, como empresário, é um maior apoio para a pequena e média empresa. E o crescimento, a geração de emprego vêm principalmente através delas.
DINHEIRO ? Que setores mereceriam este tipo de apoio?
OLAVO ? O turismo, por exemplo. Eu não vejo as autoridades darem a ênfase que o setor merece pelo que pode representar para o Estado do Rio de Janeiro. Isso vale, também, para setores como software e audiovisual.
DINHEIRO ? O governo federal tem colaborado com o Rio de Janeiro?
OLAVO ? Eu gostaria que os projetos de PPPs (Parcerias Público-Privadas) estivessem mais avançados. Sem investimentos importantes em infra-estrutura, nós não podemos pensar em um grande crescimento para o Estado.
DINHEIRO ? A Associação tem sugestões para a área da segurança?
OLAVO ? Eu acho que não cabe a mim, como presidente da Associação Comercial, fazer nenhuma análise nem proposta com relação à segurança. Gente muito competente está trabalhando nesta área e está tendo problemas. A minha iniciativa será trazer pessoas do exterior ou do Brasil que já tiveram muito sucesso no combate à violência para apresentar aqui as soluções que eles adotaram. Por exemplo, o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung. Ele tem resultados impressionantes nessa área. Aquilo lá era um Estado que não tinha lei, que não tinha regras, que não tinha mais nada. E ele moralizou o Estado. Se aqui do lado ele conseguiu, porque nós não vamos conseguir?
DINHEIRO ? O exemplo do ex-prefeito de Nova York, Rudolph Giuliani, com o tolerância zero, interessa ao Rio?
OLAVO ? Você está antecipando um projeto que eu gostaria de anunciar como um dos primeiros da minha gestão. Ele está vindo para o Brasil em novembro, para um seminário em São Paulo, e eu já estou em contato com o pessoal dele, para ver se ele pode estender essa viagem para o Rio de Janeiro.
DINHEIRO ? O senhor apóia a recriação do Estado da Guanabara?
OLAVO ? Eu sei que gente muito séria fez um estudo e tem números que demonstram que é viável esta idéia. Mas eu não vejo o menor fundamento para isso. Principalmente depois desses investimentos que estão sendo anunciados para o interior do Estado. Um pólo como o de Porto Real, da indústria automobilística; essas empresas todas que estão investindo na siderurgia; a própria indústria de petróleo, que é tão importante. Isso tudo está situado no interior do Estado. Eu acho que a capital perderia muito com a sua transformação em cidade-estado.
DINHEIRO ? Tem muita gente no Rio dizendo que é hora de colocar um empresário no governo do Estado. O senhor se candidataria?
OLAVO ? No momento em que eu quero ser presidente da Associação Comercial e líder empresarial, eu não posso me confundir com a carreira de um político em potencial. Isso tiraria totalmente a minha independência. Vou ficar restrito à atuação na área da política empresarial.
DINHEIRO ? E depois dos seus dois anos de mandato na Associação?
OLAVO ? Eu fui um workaholic um pouco exagerado. Prejudiquei até a minha vida familiar e o meu primeiro casamento, porque trabalhava demais. Nunca dediquei suficiente tempo para a família. Coisa que eu espero poder corrigir agora. E eu também não tenho o menor jeito para a política. Todas as vezes em que eu convivi ou me aproximei da política, sai muito desiludido.
DINHEIRO ? E no mundo dos negócios, o que tem lhe interessado mais?
OLAVO ? O Grupo Monteiro Aranha contratou um estudo muito importante, e muito caro, sobre energias alternativas. Nós temos consciência de que precisamos procurar fontes renováveis. O petróleo um dia acaba. Dentro do Brasil, nós temos certeza de que o biodiesel se tornará o que é hoje o agribusiness, porque ninguém tem as condições competitivas que nós temos. Em um prazo mais curto, nós no Monteira Aranha estamos enfocando a produção e a comercialização de álcool.
DINHEIRO ? O grupo já está produzindo álcool?
OLAVO ? Não. Estamos estudando parcerias, inclusive estrangeiras. Nós temos um estudo pronto, estamos tentando agora buscar a melhor localização e desenvolver um contrato de longo prazo com exportadores estrangeiros.
DINHEIRO ? Porque este interesse na área energética?
OLAVO ? O Monteiro Aranha sofreu uma transformação muito grande. Nós fomos os grandes propulsores da vinda para o Brasil da Volkswagen e de outros investidores estrangeiros. Mas, com a globalização, o sócio internacional perdeu muito do seu interesse. Eles hoje preferem ter a empresa multinacional sem parceiros locais. Mas, com a recuperação da Klabin (que enfrentou crise financeira em 2002) e o desempenho do Grupo Ultra e da Cisper (empresas em que o Monteiro Aranha tem participações importantes), estamos acumulando um grande caixa na holding. E identificamos no setor de energia alternativa a oportunidade de voltar a fazer o que fizemos no passado: trazer o sócio estrangeiro para um setor onde existe interesse mundial.
DINHEIRO ? O grupo, então, está recuperado da malsucedida compra do Banco Boavista?
OLAVO ? O episódio do Banco Boavista foi extremamente negativo. Juntamente com os problemas do Monteiro Aranha com o Boavista, a Klabin sofreu dificuldades financeiras causadas pela crise de 2002. Mas felizmente tivemos forças e competência para, de um episódio negativo, tirar lições positivas. O Monteiro Aranha passou dois anos arrumando a casa e recuperando-se dos sustos. Isso nos dá condições de retomar os investimentos, que sempre caracterizaram nossa empresa no passado.
DINHEIRO ? Em termos de geração de caixa, podemos dizer que este é o melhor momento da história do grupo?
OLAVO ? Eu diria que este é, sem dúvida, um dos melhores momentos. Estamos repetindo aqueles anos de sucesso que foram os da parceria com a Volkswagen.
DINHEIRO ? Quanto o grupo tem de recursos em caixa para viabilizar investimentos de peso?
OLAVO ? Os recursos em caixa são apenas uma parte do investimento. Com esse dinheiro, podemos alavancar parcerias e financiamentos. Não tem muito significado dizer o que nós temos em caixa no momento. O importante é dimensionar o tamanho do projeto.
DINHEIRO ? E os investimentos pessoais?
OLAVO ? Quero aumentar as atividades na minha fazenda. Estou desenvolvendo um projeto de exportação de cavalos manga-larga marchador para os Estados Unidos e também investindo em gado Nelore de elite.
DINHEIRO ? Qual a sua visão do impacto das políticas públicas do governo Lula para o desenvolvimento do País?
OLAVO ? Na área econômica, os acertos foram muito maiores que os erros. Faltam as reformas tributárias, trabalhista, fiscal e política, indispensáveis para o crescimento do País no longo prazo. O quadro político me parece mais instável. Não saberia dizer qual a real extensão, mas me preocupa, pois afeta a tranqüilidade que a população precisa para desenvolver suas atividades normalmente.
DINHEIRO ? Nas últimas semanas, a questão da corrupção voltou à agenda nacional. O atual nível de corrupção é preocupante?
OLAVO ? É muito difícil dizer se existe mais ou menos corrupção. O que existe, sim, é uma maior transparência, e até uma menor tolerância em relação a isso, o que explica, em parte, a ênfase que tem sido dada a esses recentes casos. Mas da mesma forma que a violência, o que vai determinar a evolução do problema é a intolerância. Se existir tolerância, a corrupção e a violência podem transformar o Brasil num País inviável.