Ao longo de quase toda a década de 80, o carioca Antonio Dias Leite cavou minas em busca de ouro no Norte e no Nordeste brasileiros. Isso foi só o começo da história da Macal, uma empresa de nome esquisito, que raramente aparece na mídia, mas que tem se especializado em grandes desafios e ambiciosas jogadas. De lá para cá, Dias Leite buscou outras jazidas lançando-se em áreas diversas e inexploradas. Esse empreendedor conseguiu somar negócios em televisão a cabo (a criação do Multicanal, que se transformou na poderosa Net depois da venda às Organizações Globo), sistema trunking (a Metrophone, considerada empresa precursora da telefonia celular), venda de produtos pela tevê e pela Internet (o Shoptime) e telecomunicações, através de participação na operadora Telemar. ?Especializei-me em descobrir oportunidades e desenvolver os negócios em mercados ainda não dominados por concorrentes antigos?, afirmou à DINHEIRO, numa de suas raras entrevistas. ?E, depois, vender essas empresas?, acrescenta com extrema sinceridade. Com tal vocação, não surpreendeu o mercado o anúncio de criação da Webb Negócios Online, a sua nova mina de ouro. O negócio começou em abril em alto estilo. Com investimento de US$ 15 milhões, já hospeda vários portais de business-to-business, em setores como automotivo, químico, papel e celulose e saúde, e faz o lançamento até o final do ano de novos serviços. ?A Internet é uma mudança que veio para ficar?, justifica Dias Leite. Apesar do entusiasmo, avisa que ?dentro de cinco ou seis anos, com as operações consolidadas, o Webb estará pronto para ser vendido?. Resumindo, o negócio dele é vender.

 

Desafios. Pode até soar estranho para quem desconhece a trajetória de Dias Leite. ?Ele é assim mesmo. Um homem que encara desafios e tem uma visão apurada do risco?, avaliza o presidente da Webb Online, Luiz Cláudio de Souza Alves. E também muito misterioso. Tanto que não se deixa fotografar. Essas qualidades lhe garantiram algumas façanhas. Em suas peripécias por campos inexplorados, conquistou a simpatia e o apoio financeiro de nomes respeitados. Na Companhia de Mineração do Amapá, pelos idos dos anos 80, juntou-se aos empresários Eike Batista e Olavo Monteiro de Carvalho. Em muitos dos negócios, o empresário dividiu riscos e prêmios com outro grande apaixonado por desafios, o investidor Jorge Paulo Lemann, do GP Investimentos. Essa empresa se uniu à Macal e à Globosat para criar, em 1995, um canal de compras por tevê, o Shoptime, que, dois anos depois, ganhou sua versão na Internet. ?Esse negócio é um sucesso?, brinda Alves. No ano passado, o faturamento dos dois totalizou R$ 50 milhões. Para 2000, deverá saltar para R$ 120 milhões.

Mares. Também na montagem do Multicanal, Lemann estava lá. Dias Leite conseguiu, em 1991, obter licenças do Ministério das Comunicações para operar no sistema de televisão a cabo. ?Olhei o que tinha nos Estados Unidos e vi que era um grande mercado a se desenvolver?, conta. Não foi tão fácil. Na época, o empresário enfrentou o ceticismo de muitos. ?Me chamavam de maluco e eu não estava nem aí?, diz. Mas o dono do GP gostou e, em 1994, aderiu ao projeto, que contava desde o início com a participação da Globopar. ?Cinco anos depois do lançamento, o Multicanal tinha cerca de 600 mil assinantes?, lembra Alves. Em 1997, faturando cerca de US$ 80 milhões e avaliada em US$ 1,4 bilhão, a empresa recebeu uma oferta da Globo e Dias Leite aceitou. Foram US$ 500 milhões. ?O negócio se alinhava muito mais na estratégia da Globo do que na nossa?, explica Alves. Com o homem do GP, Dias Leite também aventurou-se na área de telecomunicações, ao arrematar 20% da operadora Telemar. Mais uma vez, porém, a Macal está de saída. O GP aumentou sua participação em ações preferenciais e Dias Leite mantém apenas um quinto do pedaço inicial. ?Telecomunicação não é o nosso foco. Esse é um negócio para bilhões de dólares, ou seja, para gente grande?, diz. Para dar forma a seus sonhos, Dias Leite diz que se cerca de bons executivos e garante participação nos resultados. ?Às vezes, até participação acionária, para que a equipe se comprometa?, revela. ?Só assim não corremos o risco de pegar a trilha errada.? O empresário, que costuma velejar nos finais de semana, navega agora, aos 53 anos, em outros mares. ?A Internet é o meu grande desafio?, frisa. Até dezembro, ele estará apresentando serviços em parceria com a IBM, como o de treinamento à distância para o mercado corporativo. Com a mesma companhia, fechou uma joint-venture para montar o Commerce Service Provider, uma ferramenta tecnológica que oferece os sistemas para que as empresas criem os próprios portais. Nesse serviço, a Macal contará com o apoio da norte-americana Ariba, um dos mais importantes provedores de soluções tecnológicas do mundo, e da também americana I2, especializada em plataformas para comércio eletrônico. Os resultados da Webb deverão surgir a partir do ano que vem, quando a Macal espera faturar até US$ 10 milhões.