25/05/2011 - 21:00
A ideia de comprar ações de mais de 60 empresas de uma só vez com pouco mais de R$ 600 poderia parecer impensável há alguns anos, mas hoje investidores brasileiros e estrangeiros têm acesso a esse mercado por meio dos Exchange Traded Funds ou ETFs. Só o nome é complicado: um ETF é um fundo de ações cujas cotas são negociadas na bolsa de valores como se fossem ações.
O gestor escolhe as ações e opera o fundo cobrando uma taxa de administração inferior à dos fundos tradicionais. O investidor só tem o trabalho de dar uma ordem de compra ou de venda e aproveitar a sombra e a água fresca. A desvantagem é não ter influência sobre as decisões de investimento: os ETFs acompanham os índices mais conhecidos do mercado.A praticidade da ideia vem conquistando investidores mundo afora.
João Fallopas, investidor: pouco tempo para acompanhar o mercado pesou na escolha pelos ETFs
Globalmente, o volume total dos ETFs era de US$ 1,4 trilhão em abril, um crescimento de 7% em relação a dezembro de 2010.Por aqui, o mercado de ETFs ainda é pequeno, mas vem avançando aceleradamente e o patrimônio já superou R$ 1 bilhão. Em 2010, os sete fundos negociados até então na BM&FBovespa movimentaram R$ 7 bilhões, com 105,7 milhões de cotas e 196,6 mil transações. O valor emitido triplicou em relação ao ano de 2009.
O primeiro ETF lançado no Brasil foi o PIBB. Em circulação desde 2004 e gerido pelo banco Itaú, ele reproduz o índice IBrX 50. O fundo mais conhecido é o BOVA11, que segue de perto a composição do Índice Bovespa. “Procuramos manter uma carteira 99% parecida com a do Ibovespa, para manter a aderência com esse indicador”, diz Saulo Mendes, diretor da BlackRock, gestora do BOVA11.
A mesma política é seguida pelo Itaú, que administra dois desses fundos. “As diferenças entre o índice e o fundo são pequenas e a causa são os custos do produto”, diz Tatiana Grecco, superintendente de produtos indexados da Itaú Asset. Na ponta do lápis, a oscilação do Ibovespa e do BOVA11 serão sempre muito parecidas, na alegria das altas ou na tristeza das baixas.
Para escolher entre cotas e ações, o investidor deve calcular os gastos com ambas as alternativas. “Quando negocia lotes de ações de até R$ 20 mil, o investidor não paga imposto de renda, mas essa isenção não existe para os fundos”, diz Hugo Azevedo, responsável por produtos, estratégia e home broker da Santander Corretora.
Outro ponto a ponderar é que eles cobram taxas de administração bem menores do que as de carteiras convencionais, mas o investidor paga custódia e corretagem. “O investimento em ETF é ideal para quem tem aplicações entre R$ 5 mil e R$ 20 mil”, diz Mauro Calil, educador financeiro. As cotas são mais baratas do que as ações unitárias, mas só podem ser compradas em lotes mínimos de dez.
Pensando apenas na estratégia de investimento, os ETFs são recomendados para quem quer testar o mercado, mas tem pouco tempo ou conhecimento. É o caso de João Fallopas, 26 anos. Ele é analista em uma companhia de private equity, que se dedica a avaliar empresas nas quais investir. Com esse perfil, Fallopas teria tudo para tomar as próprias decisões de investimento, mas preferiu dar seus primeiros passos como investidor por meio dos ETFs. “Tenho pouco tempo para acompanhar o movimento da bolsa durante o dia”, diz.
Conforme adquiriu experiência, ganhou mais desenvoltura na operação. “Se acho que o mercado vai subir, compro, mas, quando acho que vai cair, me desfaço das posições”, diz. Fallopas faz parte de um grupo em expansão. Os investidores pessoa física respondem por 10% dos negócios com ETFs no Brasil. Nos Estados Unidos, essa fatia chega a 50%. Sem cravarem meta, os executivos apostam nos ETFs. “Estamos informando o consumidor sobre esse mercado”, diz Julio Ziegelmann, diretor de renda variável da BM&FBovespa.
Novos fundos serão lançados em breve. O Itaú ganhou a concorrência para utilizar os índices de sustentabilidade empresarial e governança corporativa. A bolsa também abriu concorrência para mais três índices: Dividendos (IDIV), Materiais Básicos (IMAT) e Utilidade Pública (UTIL). A diversidade ajuda a tomar decisões. “Com diversificação, o investidor pode traçar melhor suas estratégias”, diz Calil.