04/10/2022 - 14:53
Os físicos John Clauser, Alain Aspect e Anton Zeilinger desenvolveram ferramentas experimentais que ajudaram a provar que o entrelaçamento quântico, um fenômeno que Albert Einstein desacreditou, é real, abrindo caminho para seu uso em computadores poderosos.
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A seguir, breves biografias dos três cientistas:
– John Clauser (EUA) –
As primeiras lembranças de John Francis Clauser, nascido em 1942, são de espanto diante do equipamento do laboratório de seu pai, que criou o departamento de aeronáutica da Universidade Johns Hopkins, segundo contou ao American Institute of Physics (AIP) em 2002.
Clauser, aficionado por eletrônica que no Ensino Médio criou alguns dos primeiros videogames controlados por computador, escolheu estudar física na faculdade.
Em meados da década de 1960, interessou-se pelas ideias do pioneiro da mecânica quântica John Bell, que se esforçou para entender melhor o fenômeno do entrelaçamento, que é quando duas partículas se comportam como uma e podem afetar uma à outra, mesmo a grandes distâncias.
“Achei que era um dos artigos mais incríveis que já tinha lido e fiquei me perguntando, caramba, onde estão as evidências experimentais?”, comentou Clauser à rede PBS em 2018.
Clauser acreditava que poderia testar as ideias de Bell em um laboratório, mas os principais físicos da época responderam com desprezo generalizado.
Ele propôs o teste independentemente de sua tese sobre radioastronomia e o realizou com colaboradores em 1972, enquanto estava na Universidade da Califórnia em Berkeley.
Ao lançar lasers em átomos de cálcio para emitir fótons entrelaçados e medir suas propriedades, ele foi capaz de demonstrar com dados concretos que o que havia desafiado até mesmo a imaginação do grande Einstein era verdade.
– Alain Aspect (França) –
Como Clauser, Alain Aspect foi seduzido pela “claridade límpida” do teorema de Bell.
“A estranheza quântica dominou toda a minha vida como físico”, disse ele à AFP em uma entrevista de 2010.
Como estudante de doutorado, a Aspect baseou-se no trabalho de Clauser, refinando o experimento para eliminar possíveis lacunas em seu projeto. Publicou seus estudos em 1982.
Filho de um professor, Aspect nasceu em 1947 em um vilarejo da Gasconha e atualmente é professor do Institut d’Optique (cátedra Augustin Fresnel), na Universidade Paris-Saclay e da Ecole Polytechnique.
Mas seu interesse pelo mundo quântico surgiu em um período de sua vida que passou longe da academia: ele havia ido para Camarões para completar três anos de serviço voluntário como professor.
Durante seu tempo livre, ele se deparou com um livro escrito por Claude Cohen-Tannoudji sobre o assunto (Cohen-Tannoudji ganhou o Nobel em 1997), que por sua vez o levou a Bell.
Em entrevista por telefone com a Fundação Nobel nesta terça-feira, Aspect destacou a composição internacional do trio premiado.
“É importante que os cientistas mantenham sua comunidade internacional em um momento em que (…) o nacionalismo está se consolidando em muitos países”, enfatizou.
– Anton Zeilinger (Áustria) –
Apelidado de “papa quântico”, o físico Anton Zeilinger, nascido em 1945 na cidade de Ried im Innkreis, tornou-se um dos cientistas mais famosos de seu país ao ter sucesso pela primeira vez em 1997 no teletransporte quântico de partículas de luz.
Um sucesso que foi rapidamente comparado ao “teletransporte” da série de TV Star Trek.
Usando as propriedades do emaranhamento quântico para criptografia, Zeilinger criptografou a primeira transação bancária por esse meio em Viena em 2004.
Em 2007, sua equipe criou pares de fótons entrelaçados e disparou um de cada par ao longo de 144 quilômetros entre as Ilhas Canárias de La Palma e Tenerife, para gerar uma chave criptográfica quântica.
A fama de Zeilinger decorre em parte de seu incansável talento docente: sempre disposto a popularizar seu conhecimento entre o público em geral, ele até iniciou o Dalai Lama em 2012 com entusiasmo contagiante.
Da Universidade de Viena, Zeilinger tem a cara de cientista: cabelos grisalhos, barba cerrada e pequenos óculos redondos.
Ele já havia recebido inúmeros prêmios e realmente não acreditava que um dia ganharia o Nobel. “Há tantos outros candidatos”, disse ele à Agência de Imprensa Austríaca (APA) há alguns anos.