13/12/2013 - 6:30
O arquiteto americano Frank Lloyd Wright afirmou, certa vez, que os negócios são como uma bicicleta. ?Ou você continua em movimento, ou cai.? Trata-se de uma imagem bastante precisa da crescente pressão sentida pelas empresas para se reinventar e não perecer. Esse desafio é ainda maior quando elas têm um porte intermediário e se veem pedalando no meio-fio, espremidas entre a calçada construída pelas políticas públicas para dar mais segurança às micro e pequenas empresas e a avenida que garante às grandes companhias acesso mais fácil a todo tipo de recursos.
Esse é o universo por onde transitam as médias empresas, uma parcela importante da economia brasileira, mas que ainda conta com poucos incentivos específicos para se desenvolver. Elas formam o chamado middle market. São as eventuais gigantes do futuro, que a DINHEIRO aborda nesta primeira edição do ranking AS MELHORES DO MIDDLE MARKET, em parceria com a consultoria Baker Tilly Brasil e a Boa Vista Serviços. Para eleger as companhias médias com o melhor desempenho, a DINHEIRO selecionou cerca de 1.200 empresas da base de dados da Boa Vista Serviços, com receita líquida não consolidada entre R$ 70 milhões e R$ 400 milhões em 2012, último ano fiscal completo.
A avaliação dos indicadores financeiros, como taxa de crescimento, geração de caixa e lucro, levou às campeãs em 29 setores econômicos (conheça a metodologia completa AQUI). Preste atenção na lista das vencedoras, pois muitas delas poderão ser as maiores e melhores companhias brasileiras de amanhã. É o caso da Dudalina, principal destaque de AS MELHORES DO MIDDLE MARKET, cuja história de sucesso pode ser saboreada a partir DAQUI. Há dez anos, empresas como ela passavam despercebidas pelo radar dos analistas corporativos. Basta uma rápida olhada na primeira edição do ranking AS MELHORES DA DINHEIRO, de 2004, para ver médias empresas que se agigantaram em apenas uma década.
Nomes como Cia. Hering, Totvs (antiga Microsiga), JSL, Stefanini, Lorenzetti e Lupo cresceram de 200% a quase 700% acima da inflação do período e mudaram de patamar (leia quadro ao final da reportagem). Quem serão as próximas vencedoras? O fenômeno do crescimento acelerado continua, afirma o consultor Miguel Ângelo Arab, que coordenou a seleção das MELHORES DO MIDDLE MARKET. ?O segmento de médias empresas está fervendo no Brasil e seu peso na economia é extremamente elevado?, diz. Juntas, as 500 maiores desta edição especial (confira a tabela AQUI) faturaram R$ 134 bilhões em 2012, com um crescimento de 21,5%, em média, mais de 20 vezes a evolução do PIB brasileiro.
Apesar de sua importância, essas companhias costumam vir embaladas no famoso rótulo PME, sigla de pequenas e médias empresas. Essa associação automática com negócios menores acaba ocultando as necessidades e as virtudes dos empreendimentos de médio porte. Eles são, por exemplo, um importante gerador de empregos. Segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), as médias empresas ? aquelas com 50 a 249 funcionários ? respondiam por 13,6% do pessoal ocupado em 2011 e por 12,6% do volume de salários e remunerações. A boa notícia, nessa área, é que esses negócios têm atraído cada vez mais profissionais qualificados, o que eleva o nível geral dos produtos e serviços fornecidos por eles.
Há cinco anos, as médias empresas representavam apenas 25% da demanda da Michael Page, uma das maiores consultorias de recrutamento de executivos do País. Hoje, essa fatia está em 45%. ?Muitos profissionais já aceitam trocar uma grande empresa por uma média?, diz Marcelo De Lucca, diretor-geral da consultoria. É claro que o salário, que pode ser 25% menor que o ofertado por uma grande companhia, não é a maior isca. ?Essas pessoas são atraídas pelo desafio de profissionalizar e fazer crescer uma média empresa?, diz De Lucca. Os motivos pelos quais essas companhias estão se profissionalizando também indicam uma saudável mudança de perfil.
Primeiro, as empresas vivem hoje em uma economia mais aberta, em que produtos importados são uma sombra constante sobre seus mercados. Além disso, os próprios clientes estão exigindo mais, seja porque o Código de Defesa do Consumidor conferiu amparo legal contra companhias mal-intencionadas, seja porque o aumento da renda proporcionou maior liberdade de escolha. Outro ponto é que muitas médias empresas são fornecedoras de grandes companhias, que vêm aprimorando os controles de qualidade e, por tabela, induzindo seus parceiros ao mesmo. Há outro elemento que estimula, cada vez mais, a profissionalização desse grupo: as empresas de private equity.
Nieto, da Baker Tilly: “Os investidores de private equity têm muito apetite
pelos negócios de médio porte”
?Esses investidores têm muito apetite pelos negócios de médio porte?, afirma Osvaldo Nieto, presidente da Baker Tilly Brasil. Vários fundos se especializaram nesse segmento de companhias e começaram a difundir melhores práticas de gestão. É quase uma regra que postos-chave da empresa sejam assumidos por representantes dos investidores, como a diretoria financeira. Com isso, está subindo o nível de governança das companhias médias. ?Quando um investidor passa a participar da empresa, os processos se organizam melhor?, diz Cynthia Serva, coordenadora do Centro de Empreendedorismo do Insper. Os investidores privados não são os únicos a se interessar pelas médias empresas. Os bancos também começam a olhar para esse mercado com mais atenção.
Desde 2010, por exemplo, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) criou uma classificação específica para companhias que faturam de R$ 80 milhões a R$ 300 milhões, chamadas pela instituição de ?médias grandes?. No acumulado até outubro, os desembolsos para essa faixa somaram R$ 8,7 bilhões ? mais do que os R$ 8,1 bilhões registrados em todo o ano passado. No Santander, as empresas com faturamento acima de R$ 80 milhões já são classificadas como grandes. Apesar da diferença de nomenclatura, o banco espanhol está satisfeito com os resultados. ?O retorno do crédito a essas empresas é convidativo e equivale ao de outras faixas em que atuamos?, diz o vice-presidente de corporate do Santander Brasil, João Consiglio.
Banqueiros e gestores de fundos não perderiam seu tempo com as médias empresas se elas não oferecessem boas possibilidades de crescimento e lucro. O interesse dessas instituições por esse segmento é um sinal de sua importância. ?Essas empresas são o motor do País?, afirma Consiglio, do Santander. Um grande desafio, agora, é alargar o meio-fio em que esses empreendedores pedalam, por meio de incentivos públicos. Uma medida bem-vinda seria facilitar o dia a dia de sua gestão. ?A burocracia que essas empresas enfrentam é muito grande?, diz Nieto, da Baker Tilly. ?O tempo gasto com isso não agrega valor a ninguém.?
Confira todas as matérias do “AS MELHORES DO MIDDLE MARKET”:
– Dudalina é a melhor do Middle Market
– As 500 maiores do Middle Market
– Como foram eleitas as melhores do Middle Market
– Coca-Cola na mesa do paraense
– Experiência contra turbulências
– Tradição e modernidade juntas