Bob Parr costumava ser imbatível quando era chamado a estabelecer a lei nos Estados Unidos. Na pele do Sr. Incrível, um super-herói de roupa vermelha e um imenso ?I? amarelo no peito, transformava-se no terror da bandidagem local. Mas 15 anos se passaram, Bob Parr se retirou do ofício, arrumou emprego numa corretora de seguros e vive, hoje, com mulher e filhos, numa casa modesta, afastada dos grandes centros urbanos. Um final de carreira feliz e um merecido descanso para o guerreiro… Que nada. O senhor Parr, sua mulher Helen (que também foi uma heroína famosa, a Garota Elástica) e os filhos Flecha (o bípede mais rápido do mundo) e Violeta (a mulher invisível), rezam todos os dias para uma nova missão capaz de tirá-los do marasmo da vida comum. Até que um comunicado misterioso convoca os Incríveis para salvar a humanidade. É hora de voltar à ativa. A partir daí se desenvolve a divertida trama do mais novo filme de animação gráfica da dupla Pixar/Disney, que estreou nos Estados Unidos no início do mês e chega ao Brasil no próximo dia 10 de dezembro. Impagável a cena em que Bob Parr, com sua silhueta nada heróica, tenta vestir a roupinha vermelha de outros tempos para incorporar novamente o Sr. Incrível. A Pixar, ao que tudo indica, acertou em cheio. Estimativas de analistas da indústria de cinema apontam para uma receita de US$ 610 milhões em bilheteria em todo o mundo. Se conseguir o feito, Os Incríveis vão bater o recorde de Monstros S/A, que arrecadou US$ 523 milhões no total, e dobrar a venda de Procurando Nemo, dono de um faturamento de US$ 339 milhões.

Bastou a avant-premiére do novo filme para as ações da Pixar atingirem o patamar mais alto da história da companhia. Na sexta-feira 5, quando a animação foi às telas americanas, os papéis estavam cotados em US$ 84,45, alta de 4,4% num único dia. ?Só em produtos relacionados ao filme, deveremos vender cerca de US$ 500 milhões?, afirmou à agência Bloomberg o chefe da área de consumo da Disney, Andrew Mooney. O número é 20% maior do que foi gerado no varejo com Procurando Nemo. Mais que um recordista de venda, a saga dos super-heróis aposentados marca a estréia da Pixar no que é considerada a fronteira final dos estúdios de animação gráfica: a criação de movimentos e expressões humanas quase perfeitas no computador. Até aqui, a empresa havia produzido insetos, peixes e monstros. Para Os Incríveis, não houve economia. Computadores de última geração foram capazes de criar músculos surpreendentemente realistas para cada personagem. São esses músculos em 3D os grandes responsáveis pelos movimentos do Sr. ou a Sra. Incrível. ?Antes era comum apenas reproduzir mímicas computadorizadas dos humanos, o que prejudicava o realismo da cena. Com a invenção dos músculos gráficos é possível simular os gestos e locomoções dos personagens com muito mais fidelidade?, explica Brad Bird, diretor do filme. Além disso, os animadores se superaram ao inventar 20 estilos diferentes de corte de cabelo para heróis e vilões do longa e usaram um software de design fashion apenas para desenvolver os 150 figurinos do filme.

Jamais houve tamanha produção na indústria da animação gráfica. O objetivo, além da óbvia expectativa de causar furor nos cinemas do mundo todo, é mostrar para a indústria do entretenimento que a Pixar continua tinindo. Os Incríveis é o penúltimo filme feito em parceria com a Disney. O derradeiro será Cars, animação que conta a aventura de carros clássicos em alta velocidade na Rota 66. Estréia em novembro de 2005. Depois disso, adeus Disney. ?Parcerias entre gigantes tendem mesmo ao desequilíbrio?, afirma Robert Iger, presidente da empresa de Mickey Mouse. ?Se não for a Pixar, será alguma outra.? Não é tão simples assim. Os cinco filmes da aliança entre as duas companhias geraram mais de US$ 2,6 bilhões no mundo todo, incluindo o licenciamento de produtos. Com a Pixar na produção, a Disney renovou a temática de seus longa-metragens e voltou a encher as salas de cinema. Do lado da empresa de Steve Jobs, a perda é grande na distribuição e no orçamento dos filmes. ?Mas estamos conversando com vários distribuidores e parceiros em potencial. Nos próximos meses, assinaremos novos contratos?, revelou Jobs.

Enquanto os contratos não vêm, o dono da Pixar garante que há dinheiro de sobra para as próximas produções. ?Temos US$ 520 milhões para gastar em 2005. Para 2006, estimamos algo como US$ 1 bilhão?, avisa. O primeiro filme sem a Disney já tem nome e data para estrear. Chama-se Ratatouille e conta a história de um ratinho que vive em um restaurante em Paris. Será exibido no final de 2006. Em tempo: a Pixar está prestes a fechar um acordo com a Marvel Comics. É bom a Disney aproveitar ao máximo os lucros dos Incríveis.

FINAL FELIZ
As maiores bilheterias feitas pela dupla Pixar e Disney em meia década de parceria


Os Incríveis
US$ 610 milhões
(estimativa)


Monstros S/A
US$ 523 milhões


Procurando Nemo
US$ 339 milhões