Os irmãos Guilherme e Mário Frering não ficaram por muito tempo na vida de aposentados precoces. Os ex-controladores da mineradora Caemi, vendida por eles em julho do ano passado às concorrentes Mitsui e Vale do Rio Doce, resolveram separar a maior parte da bolada que receberam para bancar seus projetos de volta ao mundo dos negócios. Somados, seu cacife é de US$ 332 milhões. Os dois atuarem juntos, porém, é uma hipótese tão pouco provável quanto imaginar água e azeite misturados. Rivais desde a época em que tinham de conviver na Caemi, mas divergiam publicamente sobre a empresa, eles agora estarão em balcões separados. Cada um usará sua parte na fortuna para abrir um fundo de private equity. Os fundos farão basicamente a mesma coisa: comprarão participações grandes no capital de empresas, mas, por opção, não terão nunca o controle de nenhuma delas. Juntos eles teriam mais poder econômico, mas a convivência forçada na antiga empresa da família provou a ambos que não compartilham as mesmas visões sobre o mundo dos negócios. Assim, agora não precisarão mais brigar por seus pontos de vista. Serão independentes um do outro. Poderão até ser concorrentes.

Seus próximos passos não deverão levá-los muito longe da área em que cada um acumulou experiência quando estavam à frente da mineradora herdada do avô, Augusto Trajano de Azevedo Antunes. A Caemi, por questão de sobrevivência em seu negócio, tinha conexões permanentes com empresas da área de infra-estrutura. Pois deverá ser essa a porta de reentrada dos Frering no mundo produtivo. Seus investimentos serão dirigidos para operações em setores como os de energia e de logística. O conhecimento que têm nesse setor, porém, servirá apenas para ajudar a selecionar projetos para investimento. Nem Guilherme nem Mário cogitam voltar a gerir empresa alguma. O fundo de Guilherme, por exemplo, não deverá levar seus investimentos além de 20% do capital de empresas em que venha a investir. E a idéia não é ficar em alguma delas para sempre. Como qualquer fundo comum de private equity, ambos terão de vender mais tarde as ações que vierem a comprar. O projeto é comprar e revender participações com lucro alto, e não se tornar sócio eterno da companhia.

Reduzir o relacionamento entre os irmãos somente a suas rivalidades, porém, é um exagero. Depois de terem afinal chegado a um acordo na Caemi para a venda da empresa, os Frering acabaram demonstrando ter mais semelhanças do que observadores de fora jamais suspeitaram. Mário, que chegou a criticar Guilherme por administrar a mineradora da família à distância, morando em Paris, acabou se convencendo também da conveniência de transferir sua vida de milionário para a Europa. Mora em Londres desde o ano passado. Seu irmão também deixou o Brasil e foi se estabelecer na mesma cidade. Não há sinais de que pretendam trocar a sofisticação da vida londrina por qualquer rotina de expediente em escritórios no Rio, de onde conduziam a Caemi.