Ataques em série contra veículos tomaram as ruas da zona oeste do Rio nesta segunda-feira, 23, em mais um capítulo do acirramento da violência na cidade visto nos últimos meses. Por trás desse cenário, o governo do Rio acredita que esteja uma disputa entre milicianos e traficantes que possui três expoentes: Zinho, Tandera e Abelha. O governador Cláudio Castro (PL) elegeu os três como os mais procurados do Estado.

A polícia acredita que os ataques desta semana foram uma reação do grupo miliciano liderado por Luiz Antonio da Silva Braga, o Zinho, de 44 anos, à morte do sobrinho, Matheus da Silva Rezende, também conhecido por Faustão e Teteu, pela polícia do Rio. Rezende era o braço direito de Zinho e o segundo na hierarquia do grupo. Ele morreu durante um confronto com policiais civis, na manhã de segunda, em uma favela dominada pela milícia, na zona oeste do Rio.

Zinho ascendeu à liderança do grupo há dois anos, após a morte de seu irmão, Wellington da Silva Braga, o Ecko. Mesmo sem ter sido militar, ele foi admitido na milícia por sua habilidade com as contas, apontam investigações. Era o responsável, segundo o governo, por contabilizar e lavar o dinheiro oriundo das atividades ilícitas, entre elas a venda clandestina de sinais de TV a cabo, licenças para serviços de transporte, venda de gás e cobrança de taxas de segurança dos pequenos comerciantes.

Em recente operação na casa do miliciano, no bairro do Recreio, avaliada em R$ 1,5 milhão, foi apreendida grande quantidade de joias e relógios, além de R$ 125 mil em espécie, segundo a polícia.

Em setembro, Zinho e Matheus foram denunciados pelo Ministério Público do Rio pelo homicídio do ex-vereador Jerônimo Guimarães Filho, o Jerominho, e de um amigo, em agosto de 2022. Jerominho cumpriu mandatos na Câmara do Rio de Janeiro entre 2000 e 2008 e teria fundado a milícia Liga da Justiça.

Danilo Dias Lima, o Tandera, de 37 anos, foi parceiro de Ecko e Zinho em várias ações criminosas, segundo a polícia do Rio, mas acabou rompendo com o grupo miliciano e se aliando a outros parceiros no crime.

Tandera passou a controlar vastas regiões em cidades da Baixada Fluminense, como Seropédica, Queimados e Nova Iguaçu. O miliciano é conhecido pelo uso de armas potentes, bombas e pelo estilo cruel.

Há relatos de que algumas de suas vítimas foram decapitadas e mutiladas pelo criminoso, que posou fazendo deboche ao lado dos corpos. Ele também ficou conhecido por lavar dinheiro com criptomoedas.

Tandera é investigado desde 2016 por organização criminosa, homicídios e lavagem de dinheiro. Ele foi preso duas vezes e, em uma delas, fugiu.

Depois da morte de seu principal parceiro, Delson Lima Neto, o Delsinho, em agosto de 2022, durante operação da Polícia Civil, em Nova Iguaçu, Tandera deixou o controle direto da organização criminosa.

Wilson Carlos Rabello Quintanilha, o Abelha, de 52 anos, é o único desses milicianos que atua diretamente no tráfico de drogas e está entre as lideranças do Comando Vermelho (CV), segundo o governo do Rio.

O criminoso, com trânsito entre traficantes e milicianos, saiu pela porta da frente do Complexo de Bangu, em julho de 2021, mesmo com mandado de prisão expedido.

Segundo o Ministério Público do Rio, Abelha participou da decisão do CV de invadir o Morro de São Carlos, em 2020, que estava sob controle de uma facção rival. No meio do confronto entre os criminosos, Ana Cristina da Silva, de 25 anos, se curvou para proteger o filho de 3 anos e foi atingida por tiros de fuzil.

Ele também estaria envolvido na morte de ao menos dez traficantes de Castelar, em Belford Roxo. Há cinco mandados de prisão contra ele na Justiça do Rio.