27/07/2005 - 7:00
Não vá esperando Oompa Loompas risonhos, os anões que comandam a manufatura dos doces em ambientes excêntricos. Esqueça os cenários oníricos e a estética kitsch do filme A Fantástica Fábrica de Chocolate, dirigida por Tim Burton e estrelado por Johnny Depp. As instalações de Pierre Marcolini, em Bruxelas, na Bélgica, são clássicas, quase antigas. Nelas, predomina o marrom. Se fosse necessário apontar dois empresários de personalidade diametralmente opostas, tão diferentes como o amargo e o doce, bastaria citar o belga Marcolini e Willy Wonka, o personagem criado pelo escritor Roald Dahl, levado ao cinema por Gene Wilder em 1971 e, agora, por Depp. Nas telas, Wonka é esquisito ? tem o jeitão de Michael Jackson. No mundo real, o doceiro europeu é um sujeito tímido, avesso a estrelismos.
Mas atenção: Marcolini faz os melhores chocolates do planeta. Ele já levou sucessivas vezes o título de Campeão do Mundo da Confeitaria, prêmio atribuído por seus próprios pares. Recentemente, a reputada revista inglesa The Economist reuniu sete pessoas e, em duas oportunidades, as submeteu a uma degustação às cegas, como se faz com os vinhos. Os jurados experimentaram trufas de chocolate de procedência diversas, com os olhos vendados. Marcolini foi o escolhido, à frente de uma lenda, a francesa La Maison du Chocolat (acompanhe o ranking dos cinco primeiros ao lado). Qual é, afinal de contas, o segredo do artesão belga na preparação dos doces? Trata-se, em primeiro lugar, de utilizar matérias primas da melhor qualidade. Na Marcolini, os chocolates são trabalhados com três tipos de cacau: o criollo (importado da Venezuela), o forasteiro (plantado na África) e o trinitário, de Trinidad e Tobago. Dessa mistura, em tratamento artesanal, nascem as delícias belgas, que já tem 16 lojas, inclusive nos EUA e Japão. Os doces de Marcolini são sempre pretos ? os brancos, conhecem os especialistas, têm qualidade inferior.
Chocolates finos são tradição milenar na Europa. Apenas recentemente começaram a ser cultivados entre os americanos, em um processo que lembra a explosão global dos vinhos. No Brasil, apesar de bons rótulos, e de alguns confeiteiros de estirpe, vivemos ainda na infância. O consumo anual per capita de chocolate no Brasil é de 1,69 quilo ? na Bélgica é de 7 quilos. Na Suíça, campeã mundial da modalidade, é de 9,6 quilos. Os números mostram que ainda há muito espaço para crescer. A estréia de A Fantástica Fábrica de Chocolate pode alimentar o interesse pelo produto de origem azteca. Os segredos e os sabores de Pierre Marcolini, cujos preços vão de modestos 5 euros a extraordinários 1000 euros, podem transformá-lo em alta gastronomia, quase arte.
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