20/08/2003 - 7:00
Se algum dia o assunto em uma mesa de bar acabar, diga que você é ou conhece um ?metrossexual?. É a garantia de mais algumas horas de conversa. O termo original em inglês, metrosexual, une as palavras metrópole e sexual, e foi criado pelo jornalista americano Mark Simpson para definir um consumidor específico. São homens de 25 a 45 anos, de alto poder aquisitivo, urbanos e vaidosos, cujos hábitos de consumo envolvem roupas de grife, carros luxuosos, cremes anti-rugas e tratamentos de beleza. Mas não admitem o rótulo de gays. O ator Brad Pitt e o atacante inglês David Beckham são ícones metrossexuais. Logo as empresas começaram a olhar com interesse para esse público. De cosméticos a veículos, de imóveis a refeições, há uma imensa indústria se movimentando para satisfazer os desejos desse pessoal. Segundo a 2B Brasil, empresa de consultoria, só o setor de saúde e beleza masculina já movimenta US$ 10 bilhões por ano no Brasil.
De 1998 para cá, o crescimento no consumo desses produtos subiu 17% anualmente. Acompanhe a trajetória de Roberto Jalonetsky, diretor de marketing da Speedo, e entenda como eles se comportam ? e consomem. Aos 25 anos, Jalonetsky tem a rotina caótica típica de grandes cidades. E a adora. Acorda às 5h30 da manhã e parte para a academia, sempre acompanhado da sua personal trainner. Depois de quase duas horas por lá, assume o volante de uma Pajero Full e dirige-se à Speedo. À noite dedica-se a um MBA. ?Represento a empresa. Então tenho que cuidar da minha aparência e preciso me vestir bem?, diz ele. Suas grifes preferidas são Prada, Armani e Diesel. ?Compro por impulso?, assume. ?Posso gastar em um mês R$ 100 ou
R$ 5 mil com roupas.? Relógios são a sua paixão. A coleção soma mais de 44 modelos diferentes, principalmente Cartier e Bulgari. Em casa, Jalonetsky contratou temporariamente uma nutricionista para ?ensinar? a cozinheira a preparar cardápios mais saudáveis. ?Não faço dieta, como de tudo. Mas quero equilíbrio na alimentação?, afirma.
O custo para manter o visual
O lema mens sana, corpore sano é o mote que as academias de ginástica usam para atrair o metrossexual. ?Somos uma academia que oferece bem-estar e boa forma?, afirma Richard Bilton, sócio da Companhia Athletica, uma das maiores de São Paulo. Há três anos, a grande maioria de seus ?atletas? eram mulheres. Hoje, as parcelas masculina e feminina são iguais. Além disso, as aulas de ioga, spinning, danças e abdominal passaram a atrair ambos os sexos. Nesse ambiente, Carlos Alberto Silva, vice-presidente do JP Morgan Chase, descobriu como amenizar o estresse. A fórmula é freqüentar a academia pela manhã e ainda suar a camiseta Nike em uma corrida noturna. Diariamente. O objetivo é manter uma figura mais esbelta para usar suas roupas favoritas. No seu guarda-roupa só entram Banana Republic, Armani e Dior. ?Os homens descobriram que se vestir bem não significa bons tecidos com cortes desconfortáveis?, explica André Brett, gerente geral da filial brasileira da Giorgio Armani, a marca preferida de nove entre dez metrossexuais. ?A Armani leva o conceito de elegância e versatilidade aos armários.? Essa é a principal razão, segundo ele, para a expansão da grife no País. Recentemente, Brett abriu no Rio de Janeiro a terceira loja no Brasil, depois dos bons resultados obtidos pelas duas lojas paulistanas.
Cremes só para homens
O mundo das confecções está pegando carona numa onda na qual o setor de cosméticos já havia embarcado. De 10% a 20% do orçamento de um metrossexual é consumido nesse item. ?Os homens não aceitam mais usar os produtos femininos?, diz Jean François Pascal, diretor de marketing da Nívea. ?Eles querem produtos específicos para o seu tipo de pele.? Por isso, as empresas têm criado marcas exclusivas para esse público. A Nívea lançou o Nívea for Men, que já representa 11% do faturamento da companhia no Brasil. Com o slogan ?Para o homem que ousa se cuidar?, a empresa está investindo este ano R$ 3 milhões para reforçar sua presença nesse nicho. Entre os lançamentos dirigidos exclusivamente para os homens estão um gel esfoliante e outro para limpeza de pele.
A Biotherm foi pioneira na criação de uma linha de produtos masculinos, a Biotherm Homme. A marca cresce a uma média de dois dígitos por ano no País. ?Este é o mercado em que mais estamos investindo no Brasil?, afirma Débora Szkurnik, gerente da empresa. Tanto que a empresa acaba de lançar no Brasil o Age Fitness, o primeiro creme anti-idade do mundo, destinado para homens. Na área de serviços, os metrossexuais também têm criado boas oportunidades de negócio. Um grupo de empreendedores investiu US$ 260 mil para erguer no coração dos Jardins, o bairro mais sofisticado de São Paulo, a Barbearia Vip, um centro estético masculino. Com menos de um ano de existência, a Barbearia atende 75 clientes por mês. Cada um gasta em média de R$ 150 a R$ 220 para cortar o cabelo, fazer massagens ou mergulhar em um ofurô. O advogado César Augusto Vasconcellos, de 44 anos, é um freqüentador assíduo. Mensalmente vai ao espaço cuidar da aparência. No começo era só um corte de cabelo e uma barba. Depois vieram os tratamentos faciais. ?Quero envelhecer com dignidade?, explica.
Consumidor de luxo
Estilo e conforto, aliás, são as palavras
de ordem dos metrossexuais. Para atingir justamente os consumidores pressionados pela falta de tempo e pela preocupação com a saúde, a Perdigão lançou, em 2001, a linha de pratos congelados Light and Elegant. Desde então, o faturamento desses produtos saltou 160%.
Outro mercado que engorda sua receita com esse tipo de consumidor é o imobiliário, com a recente onda de lançamentos de lofts. ?Quem compra esses apartamentos são os jovens. O imóvel incorpora uma imagem de sucesso e modernidade?, analisa Ricardo Pereira Leite, diretor de novos negócios da Tecnisa, construtora de São Paulo. A venda desses imóveis quintuplicou nos últimos quatro anos.
O empresário Leonardo Senna resumiu numa expressão o tipo de produto que os metrossexuais veneram: basta lhes vender modelos que seus pais não tinham. O público-alvo da Audi, segundo Senna, beira a faixa dos 30 anos e quer carros modernos. ?Eles encontram conforto e esportividade em nossos veículos. E quando trocam de carro, acabam selecionando outros modelos nossos, porém mais luxuosos?, afirma. O A3 é o campeão de vendas, com 9,5 mil unidades comercializadas em 2002. Se o termo metrossexual vai pegar, ninguém sabe. Mas para empresas como a Audi, Nívea e Armani, eles já se tornaram mais do que um modismo passageiro.