28/08/2002 - 7:00
Ela acabou de sair de uma reunião com os americanos da Hartford, seus sócios na área de seguros. Daqui a pouco, terá um encontro com um grande músico brasileiro candidato a entrar no cast de sua gravadora, a Biscoito Fino. Nos próximos dias, estará junto de seus acionistas na Icatu Holding discutindo os rumos das empresas financeiras. Ainda haverá tempo para passar nos escritórios da Conspiração Filmes e da Lumiére e telefonar para seu novo parceiro na área publicitária, Nizan Guanaes. Ela é Maria do Carmo de Almeida Braga, a Kati, empresária que entrou para a história corporativa brasileira como a dona do Banco Icatu, hoje transformado em Icatu Holding e multiplicado em várias atividades, da construção civil a área de seguros, da publicidade a produção
de cinema, do esporte à música. Kati não pára de colecionar empresas. Sua mais recente tacada é a gravadora Biscoito Fino, especializada em Música Popular Brasileira. É uma sociedade com
a cantora Olívia Hime e que já vem dando bons frutos. A empresária fechou contrato com a EMI em Portugal e a Disc Music, na Espanha, para levar a boa música nacional à Europa. Também abriu escritório na França e negocia com companhias locais a criação de um
selo brasileiro. ?Depois vamos aos EUA?, revela. Kati promete transformar a Biscoito Fino em uma das mais respeitadas gravadoras nacionais, mas sem objetivar o consumo em massa. ?A idéia é produzir aquilo que gostamos de ouvir em casa. Pode aparecer
um disco que vá vender cinco milhões de cópias, mas se não gostarmos não vamos fazer?, diz.
O amigo e sócio Nizan Guanaes, publicitário premiado, marketeiro político e dono da DM9 ? da qual Kati também faz parte ? resume desta forma a Kati de hoje. ?Ela faz o inverso. Transforma felicidade em dinheiro.? É isso. O pai da empresária, Antônio Carlos de Almeida Braga, o Braguinha, fundador da seguradora Atlântica Boavista (transformada depois em Bradesco Seguros), ex-presidente do Bradesco e um dos sócios históricos do maior banco privado brasileiro, um dia largou tudo, vendeu a parte que lhe cabia das ações com direito a voto no banco (no valor de US$ 45 milhões), montou o Icatu para administrar a fortuna da família e caiu no mundo. Foi atrás de duas coisas: o sol e o calendário esportivo. Onde houver um atleta brasileiro, Braguinha estará lá. Nem no Rio mora mais. Tem casas em Portugal, na França e nas Bahamas. Com Kati é diferente. Ela diz que não é capaz de abandonar os negócios, que são muitos, apenas para se dedicar à música, sua paixão. Então, faz de suas paixões negócios, lucrativos e promissores. ?Meu hobby é criar empresas?, afirma Kati.
Criar, neste caso, significa partir
do zero como fez com a gravadora ou ?adotar? companhias em fase
de crescimento, como fez com a Conspiração Filmes ou com a Lumiére. A Conspiração é uma companhia que desfruta de grande prestígio tanto no meio publicitário quanto na área de entretenimento. Produz, em média, 100 filmes
por ano para várias agências ? nacionais e internacionais ? e agora está dando grande ênfase às produções para o cinema e aos serviços digitais. Kati não gosta de falar em números, mas
estima-se hoje que a Conspiração fature algo acima dos R$ 40 milhões ao ano. ?Kati é peça fundamental. Sua experiência no
mundo financeiro é vital na condução do negócio?, atesta
Pedro Buarque de Holanda, produtor geral e um dos sócios da Conspiração. Na Lumiére não há cifras reveladas, mas a empresa
que distribui filmes cresce de forma vertiginosa. No ano passado, ocupou 6% de participação num mercado dominado por gigantes como a Universal. Tal posição a colocou na liderança entre as distribuidoras nacionais independentes.
Do cinema, Kati salta para a publicidade. No início deste ano, comprou 25% de participação na DM9, de Nizan Guanaes. Juntos, Kati e Nizan pretendem transformar a DM9 em uma espécie de holding publicitária, abrigando várias empresas. A agência África, criada recentemente pelo publicitário para atender apenas clientes seletos, já conta com a assinatura da amiga Kati. Outras virão. ?A marca MPM também é nossa e em breve anunciaremos nova aquisição?, diz Nizan, sem revelar detalhes. Kati costuma dizer que está rodeada de pessoas com um brilho especial para multiplicar negócios. Parceria é a palavra preferida da filha de Braguinha e assim ela pretende dar continuidade a sua vida empresarial.
Um exemplo claro do estilo Kati de fazer negócios pode ser visto na área financeira do Icatu. Em janeiro de 2000, ela e o irmão Luís Antônio fundiram as operações da corretora e da empresa de administração de recursos do grupo com as similares do banco BBA. Em poucas palavras, repassaram os negócios de relacionamento com clientes aos novos sócios. No mês passado, silenciosamente, o BBA comprou os 50% restantes da turma de Kati na área de fundos e ficou com um grupo que administra R$ 5,4 bilhões em ativos. Pouco antes, a família Almeida Braga já havia entregado a carta patente ao Banco Central e transformado a parte que lhe cabia do banco Icatu em uma DTVM (Distribuidora de Títulos e Valores Mobiliários). Traduzindo: os Almeida Braga trocaram seu banco por uma mesa de operações cujo principal objetivo é administrar a fortuna dos irmãos. Foi uma volta às origens. Afinal, o Icatu nasceu exatamente com o propósito de gerir o patrimônio da família, agora engordado pelas últimas tacadas de Kati.
Na outra ponta das atividades financeiras, a da seguradora, os mesmos sócios da DTVM nomearam outro parceiro: a americana Hartford, uma das maiores do mundo na área de previdência, capitalização e seguro de vida. O mesmo Kati fez com a divisão de saúde. Seu Icatu Health Service (IHS), que atua com um pacote de serviços de complementação às atividades de seguradoras e planos de saúde, conta com o apoio do International Finance Corporation (ligado ao Banco Mundial) e da empresa José de Mello Saúde, líder na administração de serviços hospitalares em Portugal. No setor de construção civil e incorporação, a empresária ataca com a Atlântica, respaldada pelo braço forte da americana Prudential, que administra mais de US$ 500 bilhões em ativos em todo o mundo.
Assim, com as parcerias, Kati vai multiplicando as atividades. Além de encontrar uma fórmula segura de levar adiante seus sonhos pessoais, a empresária, de quebra, parece ter achado a solução ideal para dar novo fôlego ao Icatu. A história recente dos bancos de investimento mostra que a partir dos anos 90 instituições como Garantia e Bozano perderam força. Alguns foram tragados por concorrentes internacionais e outros simplesmente quebraram. Kati agüentou firme as mudanças no mercado, fez o banco crescer e antes que perdesse a competitividade partiu para as fusões. Hoje, o que se diz no mercado financeiro é que ela fez a coisa certa na hora certa. E exercitou o que tem de mais talentoso: o faro para investimentos. Em suma, ela se transformou em uma grande investidora, que acompanha tudo de dentro do conselho de administração das várias empresas que participa.
Uma empresária flexível
Planos para a gravadora ? ?A idéia é criar um catálogo de música qualificado. Como investimento e como prazer pessoal. Para mim, trabalho e lazer se misturam sempre. Eu pretendo ter um cast pequeno, mas de qualidade. Quero transformar a Biscoito Fino em uma das melhores gravadoras do País nesta área.?
Parcerias ? ?Tenho sócios em todas as atividades. Enquanto estou me dedicando à gravadora, sei que tem alguém cuidando das outras companhias. Eu não sou mais executiva de nenhuma das empresas. Estou no conselho delas todas. Sou uma empresária flexível. E esta flexibilidade é muito boa. Dá uma estabilidade grande às empresas, na medida em que elas não dependem individualmente de ninguém?.
O retorno à publicidade ? ?O Icatu participou do começo da DM9. Voltei porque tenho muita confiança no Nizan Guanaes e sei de seus planos para a área.?
Bancos de investimento ? ?Houve um boom nos anos 80 e na década seguinte o ambiente econômico mudou muito. A maioria dos bancos sentiu o golpe. No nosso caso, conseguimos criar sociedades virtuosas. Acho que a gente acertou na estratégia.
Eleição ? ?Voto em Serra. Voto pela continuidade do trabalho de Fernando Henrique e da equipe econômica. Temos dois craques em Brasília, que são o Pedro Malan e o Armínio Fraga e gostaria de ver o trabalho deles perpetuados.?